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EXERCÍCIO FELINO 2002
                            EXERCÍCIO FELINO 2002


                                       Portugal ao encontro da Paz



         INTRODUÇÃO                         Unidos ou no âmbito da EUROFOR, e  dos elementos do
                                            ainda nestes mais recentes Exercícios  contingente na-
           No decorrer da 1ª Reunião de Chefes  Multinacionais promovidos pela CPLP. A  cional (as tempe-
         de Estado-Maior General das Forças  imagem transmitida por Portugal nesses  raturas máximas
         Armadas dos Países de Língua Portuguesa,  diferentes intercâmbios e foruns interna-  variaram nesse pe-
         que decorreu em Luanda, Angola, em  cionais de operações especiais, tem sido  ríodo entre os 37 e
         Maio de 1999, foi aceite a proposta apre-  merecedora de vários reconhecimentos e  os 46ºC), o terreno
         sentada por Portugal para se realizarem  elogios, isto apesar da diferença, ainda  e a vegetação reve-
         exercícios militares anuais sobre a égide  visível, no «modus operandis» de cada um  laram-se também
         da CPLP (1), cujo objectivo seria adestrar  dos Ramos.                como um desafio muito interessante,
         uma força multinacional capaz de operar                               transformando assim o exercício numa
         nos mais diversos cenários e conduzir BRASIL ORGANIZA O EXERCÍCIO     experiência extremamente rica e inol-
         operações de natureza especial, tendo                                 vidável. Outra das inovações do Felino
         como base o mesmo denominador        O Exercício Felino conheceu este ano a  2002 foram os objectivos de treino, e
         comum: a língua portuguesa. Nessa  sua terceira edição (4), tendo sido conduzi-  consequentemente, o tipo de operação
         altura, poucos acreditariam no sucesso de  do no Brasil, no período de 27 de Outubro  realizada; se nas anteriores edições, as
         interagir forças de operações especiais  a 10 de Novembro de 2002. O palco esco-  missões foram planeadas e conduzidas ao
         dos vários ramos e países, não só pela  lhido foi a «Caatinga» (5) em pleno Sertão  abrigo da doutrina de operações espe-
         diversidade de doutrinas como também  do Nordeste Brasileiro, numa região inós-  ciais, o Brasil “transformou” o Felino num
                                                   pita e semi-árida, tendo como  exercício multinacional para adestramen-
                                                   anfitrião o 72º Batalhão de Infan-  to de forças de Manutenção de  Paz, aliás
                                                   taria Motorizado, em Petrolina –  um tema pleno de actualidade e perti-
                                                   cidade mais a sudoeste do estado  nente que o próprio país organizador tem
                                                   de Pernambuco. Portugal esteve  colhido recentemente, várias experiên-
                                                   representado por uma Força  cias. Esta capacidade e “Know How”
                                                   Conjunta composta por treze mi-  foram claramente transmitidas a todos os
                                                   litares, dos quais seis pertencentes  países participantes no exercício, tendo-se
                                                   ao Destacamento de Acções Espe-  reflectido, nomeadamente, nos mais ínfi-
                                                   ciais dos Fuzileiros (Marinha) e os  mos pormenores de planeamento e exe-
                                                   restantes do Centro de Instrução  cução.
                                                   de Operações Especiais (Exército)
                                                   – este Ramo disponibilizou ainda  ESTÁGIO NA CAATINGA
                                                   o Chefe da Delegação Portuguesa.
                                                   Os outros países, também mem-  O exercício foi dividido em duas partes
                                                   bros fundadores da CPLP, con-  distintas:
         pela heterogeneidade de experiências e  tribuíram para a formação do Batalhão  a) Fase I – no período de 28 de Outubro a
         formação. Contudo, e após a primeira  Multinacional com a participação de  01 de Novembro, procedeu-se à climatiza-
         edição do Felino (2) realizado em  Angola (13), Cabo Verde (12), Guiné Bissau  ção e adaptação ao cenário da Caatinga.
         Outubro de 2000, em Portugal, não só se  (12), Moçambique (12), S. Tomé e Príncipe  Todos os países (inclusive os militares do
         verificou a sua exequibilidade como  (12) e Brasil (68). Timor Leste, país recente-  Brasil provenientes de outras regiões) foram
         ainda se abriram novas perspectivas de  mente integrado na Comunidade, havia  sujeitos a um conjunto de aulas que os
         índole militar com elevado valor estra-  confirmado a sua presença neste exercício  habilitaria a operar naquela região, desper-
         tégico.                            com dois observadores, acontecimento que  tando-os essencialmente para matérias
           Em termos nacionais, e aproveitando  não se veio a verificar por motivos desco-  como a sobrevivência, incluindo a captura
         essa vontade e interesse externos, avançou-  nhecidos. Com excepção do país organi-  de alimentação, obtenção de água, ofidismo
         -se para uma tentativa de aproximação das  zador, todos os restantes se concentraram  (6), abrigos e armadilhas, primeiros socor-
         Forças de Operações Especiais da Marinha  na Ilha do Sal (Cabo Verde) em 27 de  ros, orientação, etc.; paralelamente, foram
         e do Exército, procurando assim dar corpo  Outubro, tendo a viagem para o Brasil,  ministradas técnicas e procedimentos a
         à Directiva Operacional nº12/CEMGFA, de  assim como o regres-
         1997 (3). Porém, e na verdade, o caminho  so, ficado a cargo
         não tem sido fácil, em virtude do empe-  da Força Aérea
         nhamento das diferentes unidades e das  Brasileira. A desin-
         preocupações dos Ramos que procuram  tegração da dele-
         ocupar, legitimamente, o seu espaço de  gação Portuguesa
         intervenção e consolidar o respectivo mo-  ocorreu também
         delo conceptual de emprego de forças. Na  naquela Ilha do
         prática, este cruzamento entre unidades de  Atlântico, em 10 de
         Operações Especiais das Forças Armadas  Novembro de 2002.
         Portuguesas tem tido maior reflexo em  Se o clima foi,
         exercícios internacionais, nomeadamente  per si, uma adversi-
         em Intercâmbios Bilaterais com os Estados  dade para a maioria  Integração da Força na ilha do Sal (Cabo Verde).
                                                                                      REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2003  23
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