Page 202 - Revista da Armada
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uma missão difícil, levada a cabo com abnegação, sacrifício e saber (um saber que
         ia muito para além do imediatismo prático e empírico), fazendo dessa data o nosso
         dia de festa. E viemos, este ano comemorá-lo em Viana do Castelo, com uma signi-
         ficativa parte daqueles que foram sempre dando continuidade à actividade marítima
         que fez o Portugal independente, e que se mostram agora no caminho de obras de
         igual grandeza. A celebração do Dia da Marinha em Viana assume pois o carácter
         de uma comemoração de uma glória passada, num momento em que aqui mesmo
         são lançadas as sementes para uma Marinha do futuro, com capacidades muito mais
         adaptadas às suas funções e tarefas. Congregação feliz que não devemos deixar de
         salientar e que terá a sua apoteose no momento do desfile militar, da demonstração
         dos meios, da visita aos navios, do movimento dos helicópteros e do lançamento
         dos blocos para a construção dos novos vasos de guerra. Uma comemoração com
         os olhos postos num futuro em construção a passos decididos.
           Realizações de natureza cultural
           Cheguei a Viana do Castelo com a firme disposição de assistir ao concerto da
         Banda da Armada no teatro Municipal Sá de Miranda, porque me habituei a que
         estes concertos, para além da qualidade musical e da esmerada escolha das obras,
         trazem sempre algo de novo que nos fascinam como amantes de música e como
         marinheiros. Dei uma volta pela cidade procurando obter uns livros sobre a histó-
         ria local e verifiquei duas coisas que seguramente alteraram o dia a dia das gentes
         nos dias que antecederam a cerimónia oficial. A livraria Bertrand estava repleta
         de obras produzidas pela Comissão Cultural de Marinha e, mesmo sem saber se
         elas despertaram o interesse das pessoas, ao ponto de comprarem algumas, posso
         garantir que foram vistas por muitas pessoas, como foi claro e evidente a presença
         de muita gente de fora, gente que passeava ao fim da tarde ou à noite e que tinha
         em comum o facto de pertencer à Marinha Portuguesa, levando à terra – e apenas
         com a sua presença –  uma mensagem especial de carinho.
           Na terça-feira, dia 18 de Maio, às 21h30, a Banda da Armada deu um concerto
         ao ar livre na antiga Praça do Forno (no limite do recinto amuralhado da velha ci-
         dade medieval) que hoje se chama Praça da República, que contou com a presen-
         ça de cerca de 2500 pessoas que aplaudiram de pé e dai não arredaram enquanto
         durou o espectáculo. Contudo, a mais esmerada actuação estava preparada para a
         noite de 19 no Teatro Municipal, Sá de Miranda. Um programa interessantíssimo
         que começou com a peça Curtain up de Alfred Reed, a que se seguiu Inchom de
         R.W.Smith e Danças Guerreiras da obra Prince Igor de Borodine, num crescendo
         que despertou o apetite para a segunda parte. Reiniciou-se com o Bolero de Ravel,
         muito conhecido de toda a gente e de uma beleza que nos vai tomando a pouco
         e pouco, para nos transportar até uma apoteose de sentidos. Seguiu-se Absalon, de
         Bert Appermont, que me pareceu o momento mais alto de todo o concerto, mesmo
         antes da apresentação em estreia da peça Minius, op 119 de Jorge Salgueiro, em
         homenagem a Viana do Castelo e com a colaboração do acordeão do Prof. Augusto
         Canário, ensaiador do Grupo de Cantares do Minho. O programa terminava com
         Music de John Miles com arranjo de J. Mortimer, mas o público exigiu um extra que
         constituiria uma verdadeira surpresa: numa homenagem ao poeta Pedro Homem
         de Melo, foi tocado Havemos de ir a Viana, com um arranjo de Jorge Salgueiro e a
         colaboração do Grupo de Cantares do Minho. Era já tarde, mas a Banda não pôde
         terminar a sua actuação sem a nossa Marcha dos Marinheiros, a pedido de toda a
         assistência. Foi um concerto notável não só pelo equilíbrio das peças escolhidas
         como pelo carácter inovador que se conseguiu com estas colaborações, que ho-
         menagearam Viana do Castelo e as suas gentes. Todas as realizações contaram com
         a direcção do CFR Araújo Pereira, maestro da Banda da Armada.
           No dia 21, sexta-feira, voltou a realizar-se um concerto ao ar livre na Praça da
         República, com uma audição semelhante à do dia 18, e no dia 22 de Maio tive-
         ram lugar no auditório da Associação Industrial do Minho duas conferências, a
         primeira proferida pelo CMG Estácio dos Reis, subordinada ao tema, “Métodos
         de Navegação do Passado”, e a segunda pelo CTEN Sardinha Monteiro sobre
         “Métodos de Navegação Electrónicos”.
           Ainda integrado no conjunto de actividades culturais levadas a cabo e organi-
         zado pela Comissão Cultural de Marinha, funcionou desde o dia 15 de Maio, na
         Associação Industrial do Minho, uma exposição permanente sobre as actividades
         da Marinha. O povo de Viana do Castelo pôde visitar os “stands” montados pe-
         las diversas unidades e organismos, apreciando particularmente a possibilidade
         de efectuar o seu primeiro mergulho com equipamento adequado (de que era
         passado o respectivo certificado) num tanque montado para o efeito. De real-
         çar a remodelação efectuada no “stand” do Arsenal do Alfeite, que apresentou
         uma criatividade notável.
           A exposição foi visitada pelos Ministro de Estado e da Defesa Nacional e Mi-
         nistro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, acompanhados pelo
         Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, na tarde do dia 20 de Maio.

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