Page 300 - Revista da Armada
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gando a 9 de Maio no Navio Escola “Sa-  vente da Guerra Civil Norte-Americana.
                                              gres”, para a mais longa viagem de instru-  Para além da Sagres, estiveram presentes
                                              ção deste ano lectivo de 2003-2004. Os  os tall ships Cuauhtemoc (mexicano), Ca-
                                              primeiros dias foram de adaptação ao na-  pitán Miranda (uruguaio), Spirit of Hali-
                                              vio e organização das tarefas de instrução  fax (canadiano), Pride of Baltimore (norte-
                                              e pouco tempo depois estavam em San-  americano), Cisne Branco (brasileiro) e o
                                              ta Cruz de Tenerife ganhando fôlego para  Mircea (romeno). Tal como é costume nes-
                                              uma travessia de 23 dias até à Bermuda.  tas circunstâncias – e havendo condições
                                              Vinte e três dias sem ver terra, embrenha-  para isso – a Sagres esteve aberta a visitas
                                              dos na rotina do mar e do vento, que as-  exteriores, recebendo a bordo 19 436 pes-
                                              sim se transformou num trabalho natural e  soas nos três portos americanos.
                                              fez deles mais marinheiros, para poderem   Seguia-se a travessia até Portugal e mais
                                              ser os Oficiais de Marinha que se espera.  19 dias de mar. Partiram de Baltimore a 5
                                              Não há dúvida que é assim que se criam  de Julho e chegaram a Portimão a 24 do
                                              hábitos de vivência a bordo, espírito de  mesmo mês, desembarcando os cadetes
                                              corpo, sentido do dever, capacidade de sa-  do curso Gaspar Corte Real, que regres-
                                              crifício e abnegação. A rotina é aquela que  saram à Escola Naval.
    Viagem do 3º Ano – Equipa do Leme.        já conhecemos: os quartos, os serviços de
                                              bordo, as instruções, a educação física, o  4º ANO – CURSO
                                              futebol de convés e os pontos astronómi-  VALM TEIXEIRA DA MOTA
                                              cos. Nesta altura do ano dá para fazer qua-
                                              se todos os tipos de pontos astronómicos:   Os cadetes do quarto ano efectuam
                                              aos crepúsculos, meio-dia, circunzenitais  uma viagem de instrução cujo objectivo
                                              do sol, alturas iguais do sol, etc.. E a ta-  é a prática de uma actividade operacional
                                              refa envolve naturalmente os cadetes da  tão próxima quanto possível daquela para
                                              classe de Marinha – para as observações  que se destina a sua formação global como
                                              e cálculos – e os restantes para ajudarem  Oficiais de Marinha, capazes de integrar a
                                              a controlar os conta-segundos e fazerem  guarnição de um navio em todas as facetas
    Viagem do 3º Ano – No monumento aos Descobrimentos   os respectivos registos.  da sua actuação. Por isso o seu embarque
    Portugueses em Newport.                     Chegados à Bermuda a 8 de Junho,  se processou nos N.R.P. “Vasco da Gama”
                                              esperava-os uma comunidade portugue-  e N.R.P. “Comandante Sacadura Cabral”.
                                              sa que os recebeu como todos podemos  Nas circunstâncias, a “Vasco da Gama”
                                              adivinhar. A “Sagres” é para eles como um  apenas podia embarcar os alunos na base
                                              pedaço da terra distante, onde em tem-  espanhola de Rota, onde os levou o N.R.P.
                                              pos derramaram as lágrimas da esperança,  “Baptista de Andrade”.
                                              partindo em busca de uma vida melhor.   Largaram da Base Naval a 2 de Junho
                                              Para os nossos cadetes é mais uma forma  com o objectivo de integrar, em Rota,
                                              de aprender a ser português marinheiro  uma força naval, com navios de várias
                                              e a experiência repetir-se-á sempre que  nacionalidades, que, entre 7 e 14 de Ju-
                                              as voltas da carreira naval os levarem a  lho, iriam efectuar o exercício NEOTA-
                                              qualquer local onde haja uma comunida-  PON 04. Naturalmente que se tratava de
                                              de portuguesa. Neste caso o dia de Por-  uma oportunidade única na formação
                                              tugal e das Comunidades – 10 de Junho  dos alunos e a participação neste exer-
                                              – iria ser comemorado no seio dessa gen-  cício acabou por ser o ponto mais alto
                                              te que fala português e que vive tão longe  de toda a viagem de instrução. Todavia
                                              da sua terra natal quanto foram longos os  não deixaram de visitar o porto de Casa-
                                              23 dias de mar.                   blanca, contactando com o mundo mui-
                                                A 12 de Junho largavam para Newport,  to especial que integra uma vertente da
                                              nos Estados Unidos da América, onde che-  cultura islâmica, característica do Norte
                                              gariam no dia 16 do mesmo mês. A recep-  de África na sua vertente atlântica. Por-
    Viagem do 4º Ano – Foto com o Comandante da “Sacadura Cabral”.  ção ao navio continuava a ser empolgante  tugal e Marrocos comemoram este ano
                                              por parte das comunidades portuguesas,  230 anos sobre a assinatura de um Trata-
                                              mas agora havia ainda a particularidade  do de Paz e Amizade que pôs fim a um
                                              de existir uma Associação dos Marinhei-  estado de guerra endémica de séculos, e
                                              ros da Armada Portuguesa. Uma recepção  que, na altura, tinha particulares efeitos
                                              a bordo reuniu cerca de 400 portugueses  destruidores na navegação portuguesa ul-
                                              emigrados ou residentes no estado ame-  tramarina. De forma que a presença de
                                              ricano de Rhode Island e um deles mere-  navios portugueses em Casablanca não
                                              ce a admiração de qualquer amante do  podia deixar de relembrar este evento,
                                              mar: tratava-se do nosso compatriota João  saudando-o com a visita à Escola Naval
                                              Cabeçadas, oficial da marinha mercante,  Marroquina e com um convívio entre ma-
                                              grande marinheiro e velejador ímpar, que  rinheiros dos dois países.
                                              integra a tripulação do Alighi, último ven-  Largaram no dia 17 e, sempre em exer-
                                              cedor da América Cup.             cícios, rumaram a Las Palmas (Gran Ca-
                                                Seguiu-se Norfolk (Virgínia) e Baltimore  naria) de onde seguiram para Lisboa, atra-
                                              (cruzando a Chesapeake Bay) onde par-  cando na BNL a 25 de Julho.
                                              ticiparam num evento náutico que co-                             Z
                                              memorava o 150º aniversário do U.S.S.
    Viagem do 4º Ano – Passeio nas Selvagens.                                                    J. Semedo de Matos
                                              “Constellation”, o último navio sobrevi-                      CFR FZ
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