Page 188 - Revista da Armada
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Mas a Marinha não se limita às missões clássicas das marinhas será baptizado com o nome de “Sines”, como sinal de respeito e ho-
militares e das guardas costeiras. No quadro do desenvolvimento menagem a esta nobre cidade, que sempre viveu virada para o mar e
económico, a renovação da esquadra é um estímulo sustentado que prestigia e acarinha a sua Marinha, acolhendo-a fraternalmente e
para a indústria nacional, fomentando a construção naval, e todo apoiando as suas iniciativas. Estou certo que a cidade se identificará
um conjunto de empresas fornecedoras de tecnologia avançada a e orgulhará daquele seu navio.
ela associadas, decorrente dos requisitos tecnológicos dos navios Se a requalificação das capacidades da esquadra é essencial à mo-
militares. dernização da Marinha, a eficácia e a eficiência no cumprimento das
No âmbito das ciências do mar, o trabalho de investigação é uma missões só é possível com homens e mulheres qualificados, motiva-
realidade diária no Instituto Hidrográfico, casa de excelência que os dos, e em número suficiente.
portugueses conhecem bem da minimização das consequências das O sector de pessoal é, na Marinha, extremamente complexo, po-
tragédias do Prestige e de Entre-os-Rios. dendo dizer-se que constitui um Caso de Estudo da administração
No âmbito cultural, preservamos, com uma relação custo eficácia pública. A harmonia estatutária entre militares, civis, e militarizados,
que nos honra, um valioso património de muitos séculos, disponí- não é uma questão menor e a tomada de medidas avulsas que se
vel para todos através do museu, do planetário, do aquário, do ar- tem verificado ao longo de décadas não tem facilitado. Temos que
quivo histórico, da biblioteca, da Academia de Marinha e de outros encontrar soluções integradas e com visão de futuro, sendo impera-
organismos. tivo que a anunciada revisão de carreiras contribua para solucionar,
Em síntese, a Marinha está presente em praticamente todos os secto- ou pelo menos minimizar, as assimetrias existentes. Em paralelo,
res da vida nacional ligados ao mar e à projecção externa do nome de há que encontrar soluções que respondam ao esforço de racionali-
Portugal. Fá-lo por dever e zação que a Marinha tem
fá-lo com devoção. vindo a efectuar, e que
Militares, militarizados nos últimos dez anos, se
e civis da Marinha, traduziu numa redução
Fazemos muito, faze- de 30% dos efectivos mi-
mos bem, mas muito mais litares, bem como para as
há para fazer e muito me- variadas alterações, nem
lhor! todas sintónicas, do en-
É esse o nosso empe- quadramento legal.
nho e a nossa responsa- Faremos mais, com me-
bilidade! nos gente; por isso há que
Portugal, fruto do seu recompensar adequada-
processo de construção de mente os melhores e dar,
quase nove séculos, man- como temos feito, uma
tém interesses políticos, atenção muito especial à
económicos, militares e qualificação do pessoal.
culturais, que podem re- O marinheiro é antes de
querer o emprego da sua mais um cidadão, um cida-
Marinha muito para além dão do mundo que ama e
da geografia de proximidade. luta pelo seu país. Este é o enquadramento de tudo o resto. Mas, no dia
Preservar uma Marinha de dimensão oceânica, ajustada à natureza a dia, há que formar este cidadão, também na modernidade das coi-
e dispersão de tais interesses, sustentada num conjunto equilibrado sas do mar. Neste sentido, o actual sistema de formação profissional,
de capacidades, em que exista um efeito de complementaridade si- iniciado em 2004, tem permitido que os sargentos e praças adquiram
nérgica entre todos os meios, que possibilite empenhamentos no mar uma sólida e permanentemente actualizada preparação.
e a partir do mar, onde, quando e como o país precise, requer uma No ensino superior, fomos pioneiros no processo de Bolonha e pros-
vontade política determinada. Este requisito é crítico no momento seguiremos no seu aperfeiçoamento, no sentido de conferir aos futu-
presente, porque a renovação dos meios não ocorreu de forma gra- ros oficiais a adequada formação técnico-naval, militar e marinheira,
dual e faseada. Esqueceu-se a forte dependência que a Marinha tem assim como a formação humanista e científica de base, compatível
do cumprimento do planeamento. Com efeito, as Marinhas não se com o exigente desempenho das suas futuras funções.
improvisam, e são mais fáceis e baratas de manter do que de edificar. Na formação pós graduada, no que se refere ao Instituto de Estu-
Também é certo que a Marinha é dispendiosa, mas, como a história dos Superiores Militares, é forçoso que os cursos aí ministrados per-
facilmente comprova, muito mais caro é não tê-la ou querer tê-la de- maneçam com elevada qualidade e que, no harmonioso respeito das
masiadamente tarde. culturas próprias dos três Ramos das Forças Armadas e visão con-
O Governo correspondeu a esta imperativa necessidade com visão junta, habilitem os oficiais ao desempenho das funções de comando,
político-estratégica, decidindo investir na renovação da Esquadra mes- direcção, chefia ou estado-maior, nos mais diversos, e exigentes am-
mo em contra-ciclo económico, pelo que espero em breve ter notícias bientes. É que não há conjunto sem partes e só deste modo podere-
- boas notícias - para dar a todos os que compreendem os factores de- mos evoluir sinergicamente.
terminantes duma política de defesa que sirva Portugal. A motivação dos que servem a Marinha no mar constitui matéria
Estes programas representam um enorme alento e uma acrescida central das nossas preocupações. Alguns dos seus aspectos funda-
responsabilidade para todos os marinheiros. A nova esquadra terá mentais têm a ver com estatutos, quadros, carreiras e progressões
mais capacidade de intervenção dentro e fora do País, num leque que ultrapassam a Marinha. Os militares, militarizados e civis, em
mais alargado de situações, com maior influência nos acontecimen- geral, têm compreendido as dificuldades do país, mas esperam, com
tos e mais visibilidade para Portugal, como membro activo da comu- confiança, a resolução dos problemas já identificados. Dos aspectos
nidade internacional. Por outro lado, vai exigir um enorme esforço ligados à motivação ao alcance da Marinha, considero importante
de adaptação a novas tecnologias e a novas formas de estar no mar, diferenciar a capacidade de progressão e ascensão nas carreiras dos
com menos pessoas e por períodos mais longos. É um desafio que mais capazes, dedicados e competentes e prosseguiremos o reconhe-
vamos vencer! cimento da especificidade do pessoal embarcado e com funções na
Os novos patrulhas oceânicos em construção realizarão também primeira linha de exigência operacional.
tarefas de protecção ambiental. Duas destas unidades terão capaci- É sabido, porém, que não existe organização sem disciplina. É meu
dades de balizagem e de combate à poluição. Anuncio com muito dever tutelar os meus subordinados, isto é, defender os seus legíti-
gosto que o primeiro, cujo aumento ao efectivo se prevê para 2008, mos interesses.
6 JUNHO 2006 U REVISTA DA ARMADA