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vais, onde decorreram diversas instruções No dia 10 reembarcou-se no Ambriz o
teóricas e práticas de tarefas a ser desempe- agrupamento de fuzileiros e demandou-se A FUNÇÃO DIPLOMÁTICA
nhadas pelos fuzileiros, no âmbito de uma o Lobito, onde o navio chegou no dia 11 de DO PODER NAVAL
forca anfíbia - nomeadamente socorrismo, Abril, dia cheio de Sol, mas que mais uma A presença de um navio de guerra português em
utilização de GPS, comunicações, controlo vez, à semelhança de Luanda, se entornou Angola revestiu-se de uma importância crucial no
de tumultos e vigilância. de repente numa chuva diluviana, quan- relacionamento, não só entre as respectivas Ma-
do se aguardava a rinhas, mas sobretudo entre os Estados. Sendo a
bordo a chegada política externa a actividade desenvolvida pelo
de entidades ofi- Estado em relação a outros Estados e aos actores
com relevância internacional, visando garantir as
ciais e da comu- melhores condições para a realização de objecti-
nidade lusa para vos, na defesa dos interesses próprios do Estado, e
a recepção. As au- atendendo ao actual contexto nacional e interna-
toridades locais, cional, é possível afirmar que a política externa é
militares e civis, um factor vital na definição estratégica do sistema
político de um país, garantindo quer a sua sobera-
tudo fizeram para nia quer a sua integridade territorial. Concretizan-
num curto período do-se pela diplomacia e servindo-se do poder mi-
atracado, de pou- litar para sustentar a sua credibilidade, confiança
co mais de 24 ho- e segurança, os meios navais poderão representar
ras, tornar a visita indubitavelmente uma forte instrumento de con-
cretização daquela política.
do navio uma boa Embora as missões da Marinha possam tomar
recordação para diferentes contornos consoante os objectivos, a
todos. missão Angola 2006 protagonizada pela “Corte-
Na tarde do dia Real”, apresentou um carácter essencialmente
12, o navio largou diplomático. Como embaixador do território na-
cional, esta visita naval relevou e salientou antes
com rumo a São de mais a presença portuguesa no continente afri-
Tomé e Príncipe, cano. Por outro lado, e fortalecendo o poder polí-
No dia 9 de Abril realizou-se o exercício ilhas de grande beleza e de gentes acolhe- tico português consubstanciada pela visita oficial
DISTEX, tendo-se simulado a prestação de doras, mas cuja visita não se concretizou do Primeiro Ministro, do Ministro da Defesa Na-
auxilio a uma população, no surgimento de devido à situação política que então se de- cional, do Ministro dos Negócios Estrangeiros e
da respectiva comitiva empresarial, esta presença
uma hipotética catástrofe. Os preparativos e senvolveu, tendo o navio seguido directa- permitiu dar um contributo para reforçar os laços
execução envolveram toda a guarnição, com mente para o Gana. Nesta tirada, e face ao diplomáticos, económicos, e de amizade, através
o natural destaque para a componente logís- tempo disponível, permitindo a realização da actividade da fragata “Corte-Real” em Angola,
tica, pois foram contentorizados cerca de 7 de execícios de marinharia, aproveitou-se onde foi visitada pelas mais diversas e altas entida-
ton de material diverso, necessário para que para concretizar um dos objectivos dos es- des políticas e militares dos dois Estados.
Atendendo ao grau de envolvimento e à dimen-
a unidade de desembarque comandada pelo tágios dos aspirantes e dar-lhes a oportuni- são adquirida, também os exercícios combinados
Imediato e constituída por cerca de metade dade de “mexer” no navio, efectuando uns constituem um ponto de passagem bem marcado
da guarnição se desloque a terra, prestando “homens ao mar”. na definição de um futuro no relacionamento e
o melhor auxilio possível, a quem dele muito Na segunda visita ao Gana, o cônsul cooperação mútuos
precisa. O exercício revestiu-se para o navio organizou a pedido do navio uma visita Com a descrição própria da diplomacia, esta
de uma complexidade superior ao normal, duma delegação do navio à antiga Feito- missão representou para Portugal muito mais do
que uma mera missão naval de cooperação e de
pois para além da unidade de desembarque ria portuguesa de São Jorge da Mina no reencontro com um país irmão.
integrar militares de ambas marinhas, incluiu Golfo da Guiné, hoje conhecida por Elmi-
também um aturado planeamento de direc- na. A feitoria, composta por uma fortaleza DISTEX ANGOLA06
e uma povoação,
foi constituída em A fragata “Corte-Real” treinou, na Base Naval
1482 com o intui- de Luanda, com a Marinha de Guerra Angolana a
to de controlar e assistência em terra a uma população cuja povoa-
ção foi vítima de uma catástrofe natural.
defender o comér- Para o exercício DISTEX (Disaster Exercise) si-
cio do ouro e a na- mulou-se que a vila fictícia de VILAILHA foi vítima
vegação dos por- de um tremor de terra durante a madrugada de 08
tugueses na costa para 09 de Abril, tendo de imediato as autoridades
ocidental de Áfri- locais solicitado ajuda internacional para socorrer
as vítimas deste incidente que se estendeu pela
ca, e foi a primeira maior parte do território, absorvendo na totalida-
cidade portugue- de os seus recursos de protecção civil.
sa fundada fora A Marinha Portuguesa ordenou então à fraga-
de Portugal Con- ta “Corte-Real”, que navegava na vizinhança, que
tinental. Assim, se se aproximasse do litoral da vila sinistrada com a
principal missão de salvar as vidas humanas e asse-
fez uma viagem gurar o apoio necessário para restabelecer as con-
de 200 km, nem dições básicas de vida naquela povoação.
sempre confortável A acção de assistência em terra foi organizada
por causa do calor por brigadas especializadas na execução de deter-
e pelo mau estado minadas actividades, sendo coordenada por um
Posto de Comando em Terra, instalado no local do
de alguns troços de sinistro e chefiado pelo Imediato, o qual por sua
ção do exercício, esta assegurada por uma estrada, mas vivendo-se um espírito de boa vez esteve subordinado ao Posto de Comando a
célula constituída por pessoal do navio co- disposição e sentido histórico, pois, tendo Bordo onde se encontrava o Comandante. Desem-
locado “no play” e encarregue de preparar os 37 portugueses que guarneciam a for- barque 100 elementos da guarnição, 7 toneladas
e injectar os incidentes essenciais ao desen- taleza sido expulsos pelos holandeses no de material, com o emprego do helicóptero orgâni-
co, e foram integrados nas brigadas especializadas
volvimento do exercício e adaptados aos séc. XVII, eram agora 90 marinheiros que militares da Marinha de Guerra Angolana.
objectivos estabelecidos. “regressavam.” Chegados à fortaleza, foi a
10 JUNHO 2006 U REVISTA DA ARMADA