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Os Fuzileiros em Angola
                                                      Os Fuzileiros em Angola


                                                           o âmbito da Cooperação Técnico-Militar com os países de língua portu-
                                                           guesa e coincidindo com a visita do Primeiro - Ministro a Angola, e dos
                                                      NMinistros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros a Angola, realizou-se
                                                      neste país, no período de 3 a 10 de Abril de 2006, um exercício combinado envol-
                                                      vendo as Marinhas de Portugal e Angola, no qual participou o NRP “Corte-Real”
                                                      com uma Força FZ embarcada (TE 443.21.02.02).
                                                       A TE 443.21.02.02 de escalão Pel (-), foi constituída aglutinando diversas capaci-
                                                      dades técnicas e operacionais do Corpo de Fuzileiros, visando a realização de um
                                                      conjunto de exercícios direccionados para as missões de apoio à paz.
                                                       O navio largou da BNL em 20 de Março rumo a Cabo Verde. Após uma curta es-
                                                      tadia em S. Vicente, largou novamente e a rotina voltou a ocupar toda a guarnição,
                                                      agora também constituída por Fuzileiros e Mergulhadores. Estávamos na presença
         delegação recebida pelas autoridades locais, designa-  de um saudável exemplo
         damentre o Presidente da Câmara de Elmina, assim   de colaboração, entre as
         como o chefe tribal local da comunidade psicatória,   vertentes que constituem
         que sobre uma vista inesquecível sobre a praia, inú-  a Componente Operacional
         meras pirogas na sua faina de pesca e sob a a entrada   da nossa Marinha.
         da fortaleza deram as boas vindas e guiaram a visita.   De uma forma natural,
         Turistas de várias nacionalidades foram então escla-  aproveitando as manhãs
         recidos, pelos respectivos guias turísticos, da inusi-  para efectuar treino físico
         tada “invasão” dos marinheiros acabados de chegar,   e as tardes para aperfeiço-
                                                      ar aspectos técnicos, sem-
         de branco uniformizados, e da sua ancestral ligação   pre em coordenação com
         a tão emocionante local, perdido algures na costa do   o planeamento de bordo, a
         Golfo da Guiné.                              missão seguiu até ser efec-
           Com Tema na popa, regressámos à contra-corrente   tuada nova escala para rea-
         equatorial, que agora nos atrasava no regresso à base   bastecimento, num país desconhecido para a maioria dos militares, o Gana.
                                                       No dia 3 de Abril, deu-se finalmente a chegada a Luanda e nesse mesmo dia a
                                                      primeira reunião de coordenação com os mais altos representantes da Força de
                                                      Fuzileiros de Angola e da Cooperação Técnico Militar – Projecto VI. O desenho do
                                                      exercício, apresentado pelo CEM da Força de Fuzileiros de Angola, na presença
                                                      do seu Comandante, era perfeitamente ajustado e enquadrava-se nos objectivos
                                                      traçados para o mesmo.
                                                       Assim, foi proposto um exercício a realizar no período de 8 a 10 de Abril, cons-
                                                      tituído por três fases distintas. Na área do Ambriz, local onde se encontra actual-
                                                      mente a Escola de Fuzileiros, realizaram-se duas delas, trabalhando em interliga-
                                                      ção com o Grupo Especial de Fuzileiros (GEF) da Marinha de Angola.
                                                       A primeira, uma série táctica envolvendo uma acção directa de resgate de um
                                                      refém, com projecção da força por bote de assalto a partir do navio e exfiltração
                                                      também por bote, mas desta vez para a Escola de Fuzileiros. A segunda consti-
                                                      tuída por um “Cross-training”, abrangendo diversas áreas como comunicações,
                                                      socorrismo, controlo de tumultos, navegação terrestre por GPS, utilização de equi-
                                                      pamentos de visão nocturna e tiro de combate.
                                                       Ao mesmo tempo, a bordo da “Corte-Real”, realizou-se a outra fase do treino,
                                                      que integrava acções no âmbito da abordagem (com o Grupo de Abordagem a Pla-
                                                                                         taformas Marítimas – GAPM).
         e ao exercício SWORDFISH06, que entretanto já afa-                              Para esta fase do treino, foi ne-
         nosamente se preparava por todos os departamentos                               cessário o embarque de uma
         do navio. Quase cinco dias foi quanto se levou entre                            equipa do GAPM no NRP
         Tema e a cidade da Praia, na ilha de Santiago. Na tira-                         “Corte-Real”, para desenvol-
         da para Cabo Verde, agora à ilha da capital, Praia, re-                         ver o trabalho conjuntamente
         tomou-se a rotina interna de exercícios, mantendo-se                            com a equipa de abordagem
         a actividade permanente de reconhecimento da ima-                               da Força FZ portuguesa.
                                                                                           Ainda durante este período,
         gem de superfície.                                                              o NRP “Corte-Real” efectuou
           Em Cabo Verde, o navio visitou a Praia no dia 23,                             na Baía de Luanda, um Exercí-
         tendo recebido o Chefe do Estado-Maior das Forças                               cio DISTEX com a colaboração
         Armadas (CEMFA), Coronel Antero de Matos a bordo.                               da Marinha Angolana.
         Ao fim do dia, largou para o Mindelo, onde reabaste-                               Indiscutivelmente, esta foi
         ceu ao largo do porto, prosseguindo para Norte. Jun-  uma experiência invulgar e extremamente gratificante para todos os fuzileiros
         to do Arquipélago das Canárias procurou-se durante   que durante três dias, com a temperatura a rondar os 40º C e a humidade perto
         algumas horas a origem de um pedido de socorro de-  dos 100%, puderam conviver, trabalhar, trocar experiências e criar amizade com
         tectado num satélites COSPAS-SARSAT, o qual se veio   aquele grupo, num ambiente de total hospitalidade e simplicidade, que conferiu
         a revelar ser mais um falso alerta. Novamente nas Sel-  a este exercício um sentimento de grande dignidade, orgulho e respeito sentido
         vagens, agora de dia, onde não se registou a presença   inequivocamente por todos os participantes, reforçando assim os laços de amiza-
                                                      de e cooperação entre os dois países
         de qualquer actividade, e de onde largámos após um   O navio regressou à BNL em 28 de Abril, tendo efectuado escalas para reabas-
         reconhecimento aéreo e um contacto com os vigilantes   tecimento nos mesmos Países. Ficou o sentimento do dever cumprido, convictos
         do parque, chegando a Lisboa a 28 de Abril.  que, tanto os Fuzileiros Angolanos como os Portugueses, não esquecerão esta
                                                 Z    experiência.                                           Z
                   (Colaboração do Comando do NRP “Corte-Real”)
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2006  11
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