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O Guanabara viu a sua história iniciar-se para com elas efectuarem exercícios de tiro. para que fosse possível efectuar uma visita
na Alemanha. Na singela cerimónia do içar Nas rodas do leme do navio, principal e de com os oficiais e aspirantes do navio à Base
da bandeira do Brasil que decorreu em Bre- emergência, encontrava-se inscrito o seu Aeronaval de Laguna del Saude e à cidade
merhaven no ainda Albert Leo Schlageter, nome e, diametralmente oposto, o lema da de Punta del Este. Como se sabe, 58 anos
apenas estiveram presentes o Comandante Marinha do Brasil: «Tudo pela Pátria». Estes volvidos, na viagem de instrução deste ano,
da base americana no rio Weser, Captain vestígios ainda hoje podem ser reconheci- o navio voltou a fazer escala na capital do
H. R. Holcomb, a sua mulher, Mrs. Cinthia dos, sem grande dificuldade, nas rodas do Uruguai, desta feita ostentando a bandeira
Holcomb, e o Capitão-de-mar-e-guerra Pau- leme do navio-escola Sagres. de Portugal.
lo Penido, Adido Naval junto da Embaixada Na sua primeira viagem o Guanabara visi- A 14 de Julho de 1959 o Guanabara lar-
do Brasil em Londres. Apesar de se encontrar tou o porto de Recife, «em cruzeiro de expe- gou para a sua última navegação. No dia se-
em relativo bom estado, o navio não reu- riência». Foi pois o primeiro porto brasileiro guinte fundeou junto à ilha Francisca, onde
nia todavia as condições para empreender onde o navio atracou, depois de largar do embarcou os alunos do Colégio Naval, ten-
uma tão longa viagem. Além disso não era cais da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, no do suspendido nesse mesmo dia. Atracou
economicamente viável fazer chegar à Ale- dia 8 de Dezembro de 1948, debaixo de um no porto de Vitória no dia 18 e daqui largou
manha toda uma guarnição e treiná-la, de violento temporal. Terminado o mau tempo dois dias depois. Chegou ao Rio de Janeiro
forma a poder atravessar o Atlântico em se- foi efectuada a primeira compensação das no dia 21 onde atracou pelas 15h45, ten-
gurança, uma vez que o Albert Leo Schlage- agulhas magnéticas e o pano foi caçado pela do completado a sua última viagem com a
ter necessitava obrigatoriamente de algumas primeira vez dois dias depois. bandeira do Brasil.
reparações. Por isso, terminadas as formali- Ao serviço da Marinha do Brasil o navio- No total, em cerca de treze anos ao ser-
dades, procedeu-se então à preparação do -escola Guanabara efectuou inúmeras via- viço da Marinha do Brasil, o navio efectuou
navio para se dar início ao seu reboque até gens de adaptação e instrução com os guar- 79 viagens, incluindo as pequenas saídas de
ao Rio de Janeiro. Para este serviço de re- das-marinhas e aspirantes da Escola Naval carácter técnico. Entre a primeira viagem,
boque, foram contratados no iniciada a 8 de Dezembro de
porto holandês de Ijmuiden, 1948, e a última, concluída
situa do no início do canal a 21 de Julho de 1959, per-
que liga Amesterdão ao mar, Arquivo Marinha do Brasil correu mais de 64.000 mi-
o rebocador Noord-Holland lhas, em 861 dias de mar e
bem como uma tripulação apenas não navegou no ano
reduzida. Curiosamente, o de 1958.
preço deste serviço foi exac- A 30 de Novembro de
tamente o mesmo pelo qual 1960 o navio-escola Guana-
o navio havia sido transaccio- bara foi formalmente abatido
nado, ou seja, 5.000 dólares ao efectivo dos navios da Ma-
americanos. rinha Brasileira, mas mantido
No dia 6 de Agosto, ao fim pela lotação do «Grupo de
de 33 dias de viagem, o navio Manutenção» até se concre-
entrou na baía de Guanabara. tizar a sua venda a Portugal.
Depois de cuidadosamente A paragem do Guanabara foi
inspeccionado foi cumprido o resultado de uma política
um rigoroso período de fa- iniciada em 1954, com vista
bricos, com vista a dotá-lo a pôr fim à existência de na-
de todas as condições para vios de vela na Marinha do
desempenhar as funções de Brasil. Em 1959, após a pa-
navio-escola, e, a 27 de Ou- ragem do Guanabara, o Na-
tubro de 1948, foi incorpo- vio de Transporte de Tropas
rado na Marinha do Brasil, Custódio de Melo, construí-
com o nome Guanabara. A do no Japão em 1953, levou
cerimónia teve lugar a bor- a cabo a primeira viagem de
do e foi presidida pelo Presi- instrução dos guardas-mari-
dente da República, General nhas. Nesta qualidade efec-
Eurico Gaspar Dutra. Esteve tuou a última navegação em
ainda presente o Ministro da Cadetes ao leme do navio-escola Guanabara. 1986, tendo, pouco tempo
Marinha, Almirante-de-esquadra Sylvio de Brasileira, sargentos e praças, e também com depois, sido abatido ao efectivo. Por seu
Noronha e o Chefe do Estado-Maior das alunos do Colégio Naval e da Marinha Mer- turno, o navio-escola Almirante Saldanha,
Forças Armadas, Almirante-de-esquadra cante. Serviu ainda, por vezes, como meio maior do que o Guanabara, efectuou a sua
Jorge Dodsworth Martins. Por esta ocasião de transporte de militares da Marinha Brasi- última viagem de instrução em 1954. Dez
o Capitão-de-fragata Pedro Paulo de Araújo leira para as diferentes escolas de formação anos depois, e já sem mastros, foi transfor-
Suzano tomou posse como primeiro coman- situadas ao longo do litoral brasileiro. Além mado em navio oceanográfico, sendo aba-
dante do Guanabara. disso, representou também a Marinha do tido em 1990.
Durante o período em que navegou com Brasil em vários eventos e comemorações. Não obstante, desde o ano 2000 que a
a bandeira brasileira, o Guanabara manteve Relativamente a portos estrangeiros, o Gua- Marinha Brasileira dispõe de um moderno
como figura de proa a águia alemã, herda- nabara apenas visitou Montevideu, logo na veleiro, o Cisne Branco, construído na Ho-
da do Albert Leo Schlageter, à qual foi reti- sua segunda viagem, em Janeiro de 1949. E landa. Nesse ano, curiosamente, aquando
rada a cruz suástica do brasão existente na nesta estadia a recepção ao navio não po- das comemorações do quinto centenário
sua base. As duas peças de artilharia anti- deria ter decorrido de melhor forma. O pró- do achamento do Brasil, coube ao navio-
-aérea (76mm/L63) que existiam no castelo prio Presidente da República do Uruguai, escola Sagres, ex-Guanabara, apadrinhar
de proa, também do período alemão, foram solicitou ao Ministro da Marinha Brasileira a primeira travessia do Atlântico feita pelo
regularmente utilizadas pelos alunos e pela que o Guanabara permanecesse mais dois Cisne Branco, bem como a sua chegada ao
guarnição do navio nas viagens de instrução, dias em Montevideu, para além do previsto, Rio de Janeiro.
REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2007 9