Page 299 - Revista da Armada
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O Guanabara viu a sua história iniciar-se  para com elas efectuarem exercícios de tiro.  para que fosse possível efectuar uma visita
         na Alemanha. Na singela cerimónia do içar  Nas rodas do leme do navio, principal e de  com os oficiais e aspirantes do navio à Base
         da bandeira do Brasil que decorreu em Bre-  emergência, encontrava-se inscrito o seu  Aeronaval de Laguna del Saude e à cidade
         merhaven no ainda Albert Leo Schlageter,  nome e, diametralmente oposto, o lema da  de Punta del Este. Como se sabe, 58 anos
         apenas estiveram presentes o Comandante  Marinha do Brasil: «Tudo pela Pátria». Estes  volvidos, na viagem de instrução deste ano,
         da base americana no rio Weser, Captain  vestígios ainda hoje podem ser reconheci-  o navio voltou a fazer escala na capital do
         H. R. Holcomb, a sua mulher, Mrs. Cinthia  dos, sem grande dificuldade, nas rodas do  Uruguai, desta feita ostentando a bandeira
         Holcomb, e o Capitão-de-mar-e-guerra Pau-  leme do navio-escola Sagres.   de Portugal.
         lo Penido, Adido Naval junto da Embaixada   Na sua primeira viagem o Guanabara visi-  A 14 de Julho de 1959 o Guanabara lar-
         do Brasil em Londres. Apesar de se encontrar  tou o porto de Recife, «em cruzeiro de expe-  gou para a sua última navegação. No dia se-
         em relativo bom estado, o navio não reu-  riência». Foi pois o primeiro porto brasileiro  guinte fundeou junto à ilha Francisca, onde
         nia todavia as condições para empreender  onde o navio atracou, depois de largar do  embarcou os alunos do Colégio Naval, ten-
         uma tão longa viagem. Além disso não era  cais da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, no  do suspendido nesse mesmo dia. Atracou
         economicamente viável fazer chegar à Ale-  dia 8 de Dezembro de 1948, debaixo de um  no porto de Vitória no dia 18 e daqui largou
         manha toda uma guarnição e treiná-la, de  violento temporal. Terminado o mau tempo  dois dias depois. Chegou ao Rio de Janeiro
         forma a poder atravessar o Atlântico em se-  foi efectuada a primeira compensação das  no dia 21 onde atracou pelas 15h45, ten-
         gurança, uma vez que o Albert Leo Schlage-  agulhas magnéticas e o pano foi caçado pela  do completado a sua última viagem com a
         ter necessitava obrigatoriamente de algumas  primeira vez dois dias depois.   bandeira do Brasil.
         reparações. Por isso, terminadas as formali-  Ao serviço da Marinha do Brasil o navio-  No total, em cerca de treze anos ao ser-
         dades, procedeu-se então à preparação do  -escola Guanabara efectuou inúmeras via-  viço da Marinha do Brasil, o navio efectuou
         navio para se dar início ao seu reboque até  gens de adaptação e instrução com os guar-  79 viagens, incluindo as pequenas saídas de
         ao Rio de Janeiro. Para este serviço de re-  das-marinhas e aspirantes da Escola Naval  carácter técnico. Entre a primeira viagem,
         boque, foram contratados no                                                      iniciada a 8 de Dezembro de
         porto holandês de Ijmuiden,                                                      1948, e a última, concluída
         situa do no início do canal                                                      a 21 de Julho de 1959, per-
         que liga Amesterdão ao mar,                                                     Arquivo Marinha do Brasil  correu mais de 64.000 mi-
         o rebocador Noord-Holland                                                        lhas, em 861 dias de mar e
         bem como uma tripulação                                                          apenas não navegou no ano
         reduzida. Curiosamente, o                                                        de 1958.
         preço deste serviço foi exac-                                                      A 30 de Novembro de
         tamente o mesmo pelo qual                                                        1960 o navio-escola Guana-
         o navio havia sido transaccio-                                                   bara foi formalmente abatido
         nado, ou seja, 5.000 dólares                                                     ao efectivo dos navios da Ma-
         americanos.                                                                      rinha Brasileira, mas mantido
           No dia 6 de Agosto, ao fim                                                      pela lotação do «Grupo de
         de 33 dias de viagem, o navio                                                    Manutenção» até se concre-
         entrou na baía de Guanabara.                                                     tizar a sua venda a Portugal.
         Depois de cuidadosamente                                                         A paragem do Guanabara foi
         inspeccionado foi cumprido                                                       o resultado de uma política
         um rigoroso período de fa-                                                       iniciada em 1954, com vista
         bricos, com vista a dotá-lo                                                      a pôr fim à existência de na-
         de todas as condições para                                                       vios de vela na Marinha do
         desempenhar as funções de                                                        Brasil. Em 1959, após a pa-
         navio-escola, e, a 27 de Ou-                                                     ragem do Guanabara, o Na-
         tubro de 1948, foi incorpo-                                                      vio de Transporte de Tropas
         rado na Marinha do Brasil,                                                       Custódio de Melo, construí-
         com o nome Guanabara. A                                                          do no Japão em 1953, levou
         cerimónia teve lugar a bor-                                                      a cabo a primeira viagem de
         do e foi presidida pelo Presi-                                                   instrução dos guardas-mari-
         dente da República, General                                                      nhas. Nesta qualidade efec-
         Eurico Gaspar Dutra. Esteve                                                      tuou a última navegação em
         ainda presente o Ministro da   Cadetes ao leme do navio-escola Guanabara.        1986, tendo, pouco tempo
         Marinha, Almirante-de-esquadra Sylvio de  Brasileira, sargentos e praças, e também com  depois, sido abatido ao efectivo. Por seu
         Noronha e o Chefe do Estado-Maior das  alunos do Colégio Naval e da Marinha Mer-  turno, o navio-escola Almirante Saldanha,
         Forças Armadas, Almirante-de-esquadra  cante. Serviu ainda, por vezes, como meio  maior do que o Guanabara, efectuou a sua
         Jorge Dodsworth Martins. Por esta ocasião  de transporte de militares da Marinha Brasi-  última viagem de instrução em 1954. Dez
         o Capitão-de-fragata Pedro Paulo de Araújo  leira para as diferentes escolas de formação  anos depois, e já sem mastros, foi transfor-
         Suzano tomou posse como primeiro coman-  situadas ao longo do litoral brasileiro. Além  mado em navio oceanográfico, sendo aba-
         dante do Guanabara.                disso, representou também a Marinha do  tido em 1990.
           Durante o período em que navegou com  Brasil em vários eventos e comemorações.   Não obstante, desde o ano 2000 que a
         a bandeira brasileira, o Guanabara manteve  Relativamente a portos estrangeiros, o Gua-  Marinha Brasileira dispõe de um moderno
         como figura de proa a águia alemã, herda-  nabara apenas visitou Montevideu, logo na  veleiro, o Cisne Branco, construído na Ho-
         da do Albert Leo Schlageter, à qual foi reti-  sua segunda viagem, em Janeiro de 1949. E  landa. Nesse ano, curiosamente, aquando
         rada a cruz suástica do brasão existente na  nesta estadia a recepção ao navio não po-  das comemorações do quinto centenário
         sua base. As duas peças de artilharia anti-  deria ter decorrido de melhor forma. O pró-  do achamento do Brasil, coube ao navio-
         -aérea (76mm/L63) que existiam no castelo  prio Presidente da República do Uruguai,  escola Sagres, ex-Guanabara, apadrinhar
         de proa, também do período alemão, foram  solicitou ao Ministro da Marinha Brasileira  a primeira travessia do Atlântico feita pelo
         regularmente utilizadas pelos alunos e pela  que o Guanabara permanecesse mais dois  Cisne Branco, bem como a sua chegada ao
         guarnição do navio nas viagens de instrução,  dias em Montevideu, para além do previsto,  Rio de Janeiro.
                                                                                REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2007  9
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