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ALMIRANTE FERNANDO DE OLIVEIRA PINTO
ALMIRANTE FERNANDO DE OLIVEIRA PINTO
MARINHEIRO NOTÁVEL NO MAR E EM TERRA, NA PAZ E NA GUERRA
esde há muito as opiniões têm-se Rovuma e matam o respectivo coman- dizer do historiador francês René Pélissier
dividido entre os adeptos da ge- dante, um sargento de Marinha, que foi o combate de Môngua constitui a maior bata-
Dneralização e os da especialização. o primeiro militar português a morrer em lha campal jamais realizada por um coloniza-
Reconheço que existem vantagens e des- combate na Grande Guerra. Em Setembro dor europeu contra um poder de estado negro-
vantagens em cada uma das opções mas, acontece uma grave ocorrência no sul de africano a sul do Saará desde a vitória etíope
pessoalmente, talvez por a minha carreira Angola com uma força militar vinda do contra os italianos a 1 de Março de 1896 .
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naval ter sido francamente variada, des- Recorde-se que o General Pereira D’Eça,
perta-me sempre interesse conhecer a comandante da coluna militar onde es-
biografia de oficiais dito generalistas. tava integrado o Batalhão de Marinha,
Fernando de Oliveira Pinto é um des- Foto Arquivo de Marinha no relatório do combate dedica uma
ses exemplos. especial atenção a esta força afirman-
Nos derradeiros anos da Monarquia, do, entre outros predicados, que ela foi,
em 1906, após frequentar o Colégio Mi- sem o maior exagero, uma unidade de elite,
litar, ingressa na Escola Naval tendo, cuja têmpera ficou definida dizendo que foi
em 1909, ao terminar o período acadé- a mais resistente nas marchas a mais esfor-
mico, embarcado no cruzador “S. Ga- çada nos combates.
briel”, o primeiro navio português em O comportamento do Tenente Olivei-
que foi montado um equipamento de ra Pinto durante o combate de Môngua
TSF e o que efectuou a primeira viagem mereceu do Ministro das Colónias o
de circum-navegação, iniciada em 11 de seguinte louvor: Distinguiu-se pela in-
Dezembro de 1909. Cite-se o facto curio- teligência, energia, actividade, resistência
so do navio ter tomado conhecimento à fadiga, espírito disciplinador em todos os
em Manila da implantação da Repúbli- serviços e ainda valentia que deu provas nos
ca e hasteado, pela primeira vez, a nova combates travados no Cuanhama em espe-
bandeira nacional em Timor. cial na direcção das cargas executadas pelo
No dia 14 de Outubro, a navegar de seu pelotão no combate de 20 de Agosto. Fo-
Zamboanga para Díli, consta no Diário ram-lhe então concedidas as medalhas
Náutico do “S. Gabriel” que houve uma de prata de valor militar e da cruz de
aula primária e prelecção geográphica pelo guerra de 1ª classe. Após a ocupação da
guarda-marinha Oliveira Pinto. É o pri- Guarda-Marinha Fernando de Oliveira Pinto. região do Cuanhama, que culmina com
meiro registo da sua actividade pedagó- o içar da Bandeira Nacional em Ngiva,
gica a qual, mais tarde, havia de exercer na Sudoeste Alemão. Torna-se necessária a rá- na embala do soba, a 5 de Setembro de
Escola Naval durante um largo período. pida ocupação efectiva do território, espe- 1915, o Batalhão de Marinha regressa, no
Em Janeiro de 1911 Oliveira Pinto passa cialmente na região de Cuanhama aonde mês seguinte , a Lisboa e o 2º Tenente Oli-
no porto de Lourenço Marques à canho- as forças portuguesas nunca tinham ido, veira Pinto retorna à vida de bordo.
neira “Diu”, navio a prestar serviço na Es- apesar de estar dentro das fronteiras an- A requisição dos navios alemães, surtos
tação Naval de Moçambique. Em Setem- golanas. Assim, é constituído o Batalhão em portos nacionais, leva à declaração de
bro, mês em que é promovido a 2 tenente, de Marinha Expedicionário a Angola, do guerra por parte da Alemanha, a 9 de Mar-
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regressa a Lisboa, depois de ço de 1916. Portugal entra na
uma ausência durante a qual guerra! A Divisão Naval de
cruzou o Atlântico, o Pacífico Defesa e Instrução intensifica
e o Índico e conheceu o então Foto Museu de Marinha a actividade e Oliveira Pin-
Ultramar Português, mais de- to, que ascende a 1º tenente
talhadamente Moçambique. em Setembro de 1917, presta
Seguiram-se três anos, com serviço na Divisão, na Defe-
um intervalo de Dezembro sa Marítima e nos Serviços de
de 1912 a Janeiro de 1913 em Barragem. Embarca no cruza-
que foi Delegado Marítimo dor auxiliar “Pedro Nunes”
de Sesimbra, de embarque em Outubro e Novembro
em vários navios, na maio- desse ano. Foi uma das oito
ria cruzadores em comissão viagens que o navio fez para
nas águas do Continente. Brest ao serviço do Corpo Ex-
Em Setembro e Outubro de pedicionário Português. O
1914 é Ajudante de Ordens “Pedro Nunes” era escoltado
do A dministrador dos Ser- por contratorpedeiros portu-
viços Fabris, nome como era gueses e ingleses escalando
designado o responsável pelo habitualmente, na viagem
Cruzador “S. Gabriel”.
Arsenal da Marinha. de regresso, Plymouth. Nes-
Entretanto, em Julho, a Grande Guerra qual o 2º Tenente Oliveira Pinto faz par- te porto e no de Brest ficou conhecido por
tinha eclodido na Europa e logo no mês te. A força desembarca em Moçâmedes a navio fantasma visto, apesar de navegar em
seguinte, os alemães, que cobiçavam An- 23 de Novembro de 1914 e terá acções de águas infestadas por submarinos alemães,
gola e Moçambique, atacam o posto mili- combate em Tchipilongo, em Maio do ano nunca ter sido atacado. Embarca depois no
tar português de Mazuía, na fronteira do seguinte e na Môngua, em Agosto . No contratorpedeiro “Tejo” que comboia di-
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REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2007 21