Page 307 - Revista da Armada
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que lhes notamos é não só nos conteúdos mas  assimilado. Às vezes começam, um pouco, até  turados de tantos, como nós, desconhecidos.
         até na forma de os apresentar, de os estruturar  por observar.          CVM - A “Sagres” é, para além de navio es-
         e de os ligar.                       O simples facto deste navio, quando chega  cola, uma embaixada itinerante da Marinha e
           RA – Isso numa perspectiva pessoal?  a um porto, ter, por si só, uma forte acção de  de Portugal, transportando com ela, não só a
           CVM – E de trabalho em equipa. Aliás, con-  Representação facilita que se apercebam me-  evocação do nosso passado comum, mas prin-
         siderando o grupo, há também uma união que  lhor do que se espera deles, o que lhes permi-  cipalmente jovens que terão nas suas mãos o
         tende a desenvolver-se mais no mar, em que se  te irem-se, pouco a pouco, familiarizando com  dia de amanhã. É para esse futuro, com os pés
         reforçam mais os laços à medida que se vão co-  esta vertente acrescida do relacionamento que  assentes no presente, que todos trabalhamos
         nhecendo e que, como eles próprios nos dizem,  a Representação implica pois, como sabemos,  dia-a-dia; para que a “Sagres” continue a levar
         acabam, nalguns casos, por os aproximar mais  passa por outras múltiplas nuances.  longe e bem alto o nome da Marinha e de Por-
         do que o ano e meio na Escola Naval.                                        tugal e para que os jovens de hoje pos-
           Tudo isso são elementos muito in-                                         sam vir a ser os grandes marinheiros
         teressantes. Fazemos também com os                                          e marinheiras de um amanhã em que
         cadetes exercícios de liderança , em                                        o mar seja também cada vez mais ele-
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         termos de manobra de embarcações,                                           mento de ligação, identidade e projec-
         das baleeiras, de remo…                                                     ção nacional, para bem de todos e da
           Quando os deixamos de ter aqui,                                           realização pessoal de cada um.
         costumo dizer que a “Sagres” parece                                           RA - Não falámos da sua Guarni-
         como quando os casais deixam de ter                                         ção mas depois do que observámos
         os filhos em casa.                                                           há semanas, quando do embarque de
           RA – Fica “vazia”…                                                        convidados das Jornadas do Mar da
           Falou-nos em oficiais da Escola                                           Escola Naval, deduzimos que todos
         Naval?                                                                      viverão de modo muito intenso e con-
           CVM – Embarca um Director de                                              tagiante o espírito do navio tal como
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         Instrução que é um oficial superior e   Recepção no Rio de Janeiro em 6 de Setembro de 2007.  no filme «Eram Duzentos Irmãos»
         um Comandante de Companhia que este ano   RA – Ainda me lembro de duma visita que  se tentou recriar.
         é uma oficial subalterna. Os cadetes estão orga-  fiz a um Aviso, com os meus Pais, tinha eu oito   A Revista da Armada e os seus leitores orgu-
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         nizados em grupos e vão rodando pelos oficiais  anos . Há a representação em portos nacionais  lhar-se-ão da sua «Sagres», muito mais do que
         de quarto à ponte, são dados aos mastros e têm  e talvez com mais impacto no estrangeiro?  um casco com um número de ordem porque
         aulas dadas pelos oficiais do navio, incluindo   CVM – A forma como encaramos os vários  motivados desde dentro, dão, agora em Por-
         trabalhos a elaborar e apresentar conforme a  portos é sempre a mesma. Tentamos sempre fa-  tuguês, expressão ao melhor que nós somos
         classe a que pertencem: Administração Naval,   zer o melhor, ter sempre o navio na melhor for-  como pessoas e mesmo, acreditassem mais
         Engenharia Mecânica ou de Armas e Electróni-  ma, responder da melhor maneira, enfim, rece-  nele, como Povo.
         ca, Fuzileiros ou Marinha.         ber bem, sempre, e transmitir uma boa imagem o                     Z
           RA – Muito positivo.             que só se consegue quando essa atitude faz parte   Dr. Rui Manuel Ramalho Ortigão Neves
           CVM – Outro aspecto importante das via-  da nossa forma intrínseca de estar e de actuar. É a     1TEN
         gens de instrução é o da Representação, que  única maneira de melhor assegurar que a Repre-  Fotos:
         tem de ser transmitida e sobretudo  vivencia-  sentação seja feita como deve ser feita.  CTEN Maurício Camilo, 1TEN Castro Afonso,
         da. O navio representa melhor com cadetes e a   RA – Falaram-nos das filas em St. Malo. Não   1SAR A Gonçalves Mendonça e 1MAR E Escusa Branco
         Formação dos cadetes ganha com as funções de  só de imigrantes…
                                                                               Notas
         Representação atribuídas ao navio.   CVM -  Este navio, para além de ser um ve-  1  Uma  vedeta, ao encostar, meteu-lhe dentro uma fieira
           RA – Como que interagem…         leiro, com todos os símbolos fortes que incor-  de rebites e o Curso de «Duarte Pacheco», então embarcado,
           CVM – Mas há mais. Há dois aspectos dessa  pora; o nome, «Sagres», o Infante D. Henrique,   entrou em doca seca antes de iniciar a sua primeira viagem
                                                                               que foi também o seu primeiro embarque.
         representação que podem ser tratados separa-  como Carranca, as Cruzes de Cristo, nas velas,   2  Presente o G/M EMQ Roque Martins.
         damente mas que estão profundamente in-                                   3  A que teve a artilharia anti-aérea de maior calibre
         terligados. Um é o próprio relacionamento                               em Portugal - 127 mm! Fomos seu Chefe do Serviço Téc-
         interpessoal; é as pessoas criarem empatia                              nico de Artilharia em 1964/5! Fazíamos, com a “irmã”
         com os outros, conseguirem comunicar com                                (a «Diogo Cão»), a anterior Esquadrilha de Submarinos
                                                                                 e a FAP, o treino NATO da Armada.
         outras pessoas, estarem abertas para essa co-                             4  Há hoje, também, uma maior preocupação em in-
         municação. O dia-a-dia no embarque tende                                tegrar todos os oficiais, afinal o Estado Maior, através
         a desenvolver essa capacidade entre eles e                              do Briefing do Comando como observámos na actual
         isso acaba por se repercutir nos contactos                              «Corte Real», durante um trânsito da STANAVFOR-
         pessoais com pessoas exteriores ao navio em                             LANT entre a Alemanha e a Noruega.
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         terra e a bordo, aquando das recepções, das                             ramente pessoal. Ainda temos muitos dos livros que
         visitas ao navio e até quando essas pessoas                             líamos, seguíamos e divulgávamos. Cremos que hoje
         (VIPS, OCS, etc.) embarcam connosco.                                    a Formação Pessoal e Social é mais cuidada, indepen-
           RA – Sem dúvida!                                                      dentemente de nos parecer que seja mais necessária. E
                                                                                 mais profissionalizante a Formação, nomeadamente
           CVM – Aliás, hoje os jovens, sobretudo,                               para Comando…
         são motivados a ficarem atrás dum compu-                                   6  Em Lourenço Marques, a um dos nossos Avisos
         tador, a comunicar por msg’s e por isso é im-                           de 1ª Classe, em 1948, quando junto duma das «Oër-
         portante estimular esse convívio e eu penso   O Comandante Vale Matos.  likon», a EB, o Artilheiro que nos acompanhava, um
         que o ambiente vivido num grande veleiro fa-  que ligam tudo à nossa maritimidade, à nossa   homem já maduro, solenemente lhes revelou que «temos
                                                                               agora um equipamento que vê os navios de noite». Há
         vorece esse relacionamento interpessoal.  História, à época áurea dos nossos Descobri-  sessenta anos!
           RA – O outro?                    mentos, sensibiliza-nos a todos e, mais do que   7  Há uns bons anos, numa concentração de veleiros que
           CVM – Depois, há todo o aspecto mais espe-  nos sensibilizar, a todos nos mobiliza.  ocorreu em Lisboa, estava a «Sagres» aberta ao público, já
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         cífico da Representação. O de as pessoas assu-  RA – Uma vez , fomos guiados por cadetes e   noite, na doca do Espanhol, quando resolvemos metermo-
                                                                               nos na bicha para, com uma amiga de minha Mulher vi-
         mirem um papel em que elas são mais do que  sentimos neles um empenho, uma satisfação,   sitarmos o navio.
         elas próprias. É claro que só se consegue dar   um aprumo, talvez uma legítima vaidade, que   8  De Armando Vieira Pinto, em 1952, tendo por argu-
         este segundo passo quando o primeiro já está  encantou o nosso grupo e já deveriam estar sa-  mento uma viagem de cadetes na «Sagres».
                                                                              REVISTA DA ARMADA U SETEMBRO/OUTUBRO 2007 17
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