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versos navios no percurso Lisboa-Funchal. do cruzador “Carvalho Araújo”. Foi uma e ao ensino dos alunos da Escola Naval, missão
Caber-lhe-á parte do louvor dado pelo difícil e delicada missão – a participação em que relevou elevadas qualidades.
Major-General da Armada às guarnições nas medidas de repressão da Revolta da Os anos 30 do século XX foram marcan-
do “Pedro Nunes” e do “Tejo”. Madeira e dos Açores, em Abril de 1931 – tes para a Marinha. Em 1933 chegaram as
Em Agosto de 1918 tem o seu primeiro tendo a força de desembarque do cruzador primeiras unidades navais, os avisos de
comando no mar, o caça-minas “Au- 2ª classe, do Programa Naval “Maga-
gusto Castilho” e a 21 desse mês es- lhães Correia” e em Janeiro de 1936,
coltando o vapor “Sam Miguel”, do com a tomada de posse do novo Mi-
Funchal para Lisboa, com nevoeiro Foto Museu de Marinha nistro, Capitão-Tenente Ortins de
denso, avista nas proximidades do Bettencourt, grandes reformas acon-
Cabo Raso, às 6 horas e 30 minutos, teceram no meio naval. Em Outubro
um grande submarino inimigo em a Escola Naval é transferida para o
meia imersão, rompe então fogo con- Alfeite, há uma reacção a esta medi-
tra ele, que apesar de navegar a toda a da, sendo parte do respectivo corpo
velocidade é atingido por três grana- docente substituído. O Comandante
das, duas na torre e uma no costado, Oliveira Pinto mantem-se na regência
adornando para bombordo e desa- da sua cadeira. Como sempre o fez e
parecendo rapidamente. É agracia- fará os interesses da Instituição estão
do com a cruz de guerra de 2ª classe acima dos seus proveitos pessoais.
pela coragem e decisão que demonstrou Inicia então a terceira fase da sua
no dia 21-8-918 sendo Comandante do carreira naval. Como já referido a
caça-minas “Augusto Castilho” quando primeira estendeu-se até ao final da
ao largo do Cabo Raso, este navio atacou Grande Guerra e a segunda compre-
com tiros de peça um submarino de gran- endeu às duas décadas na Escola Na-
des dimensões. val. Esta nova fase decorrerá de Agos-
Mais tarde, a 14 de Outubro, seria to de 1939 a Outubro de 1944.
também o “Augusto Castilho” cam- Será Comandante do contratorpe-
boiando ainda o “Sam Miguel” do deiro “Lima” até Julho de 40, no mês
Funchal para Ponta Delgada, que seguinte é promovido a capitão-de-
trava combate com um submari- -mar-e-guerra, e depois do contrator-
no alemão, tendo o caça-minas sido pedeiro “Douro” em acumulação com
afundado e o seu comandante, 1º Te- O 2º Tenente Oliveira Pinto, porta-bandeira do Batalhão de Marinha o cargo de Comandante da Esquadri-
nente Carvalho Araújo, morto. Este Expedicionário a Angola. lha de Contratorpedeiros e Torpedei-
oficial fez inicialmente parte do Batalhão sido determinante para a rendição dos re- ros. Efectua então exercícios em águas do
de Marinha em Angola mas por razões voltosos de Angra do Heroísmo. Continente, adestramento de guarnições de
de saúde regressou a Lisboa. Curiosa a Voltando à actividade no ensino, a partir outros navios e no “Douro” Serviço de Bus-
coincidência de situações entre o herói de de 1918, do 1º Tenente Oliveira Pinto, dos ca e Salvamento nos mares dos Açores. Por
Môngua e o do “Augusto Castilho”. Quiz sucessivos louvores que recebeu transcre- fim é nomeado, em Abril de 1941, Coman-
o destino que Oliveira Pinto sobrevivesse ve-se o último, já capitão-de-fragata pos- dante Chefe da Força Naval da Metrópole
à guerra, terminada a 11 de Novembro de to a que tinha sido promovido em 1937, e graduado em comodoro. Foram os seus
1918 e durante a qual em terra, últimos embarques. Em Novem-
tinha ganho as medalhas de bro de 1944 é louvado pelo Ma-
valor militar e da cruz de guer- jor-General da Armada devido
ra e no mar, a segunda cruz de Foto Museu de Marinha à forma como exerceu o Comando
guerra. Para um jovem 1º te- Superior da Força Naval da Me-
nente era um brilhante início trópole durante mais de três anos
de carreira. com grande actividade, competên-
No ano de 1919 é-lhe ainda cia e são critério e pelo elevado es-
concedida a medalha de cora- pírito de cooperação de que sempre
gem, abnegação e humanidade deu provas, assim como pelo muito
em atenção aos relevantes serviços tacto com que sempre se houve e lhe
prestados como comandante de uni- grangeou muita estima e muito res-
dade mobilizada a cargo de quem es- peito dos seus subordinados.
tava a vigilância marítima e a ro- Volta então à Escola Naval
cega de minas, evitando a perda de como seu Director e 1º Coman-
muitas vidas devido ao seu muito dante. Os vinte anos ali passa-
zêlo, altruísmo e abnegação. dos a leccionar permitir-lhe-ão
Ao concluir o comando do exercer um comando que irá,
“Augusto Castilho”, no fim de Içar da Bandeira Nacional em Ngiva. entre outras medidas, incenti-
Agosto de 1918, é nomeado ins- var a modernização das várias
trutor de uma turma do 1º ano do Curso dado pelo 1º Comandante da Escola Naval cadeiras então ministradas. De salientar
Elementar de Pilotagem da Escola Naval. em Agosto de 1939. Deixando hoje de pres- durante o seu comando a realização, de
Será longa a sua permanência na Escola, tar serviço nesta Escola o capitão-de-fragata 25 de Abril a 3 de Maio de 1945, das Co-
durará cerca de duas décadas. Embarca Fernando de Oliveira Pinto que desde 1918 a memorações do 1º Centenário da Escola,
por curtos períodos em viagens de aspi- 1930 exerceu o cargo de instrutor e de 1931 em evento que, objecto de um vasto e cuida-
rantes, com a excepção de Outubro de diante ocupou o lugar de professor do 4º gru- do programa, ficou documentado na obra,
1930 até ao mesmo mês do ano seguinte, po, acumulando no ano lectivo de 1937-1938 “Os primeiros cem anos da Escola Naval”,
ano da sua promoção a capitão-tenente, em com a regência dos cadetes do 2º grupo, louvo edição do Ministério da Marinha. A obra
que presta serviço como oficial imediato o referido oficial pela sua dedicação à educação inclui um escrito do Comandante Olivei-
22 SETEMBRO/OUTUBRO 2007 U REVISTA DA ARMADA