Page 18 - Revista da Armada

Alocução do Director do Museu de Marinha
Alocução do Director do Museu de Marinha
CMG J. A. Rodrigues Pereira

á duzentos anos este local assistiu à O ano de 1792 marcou a data em que a Eu- gressando a Lisboa ao fim de oito meses de
partida de uma esquadra portuguesa ropa se declarou incompatível com a Revolu- dura campanha.
Hque transportava para o Brasil a Fa- ção Francesa, tendo a generalidade dos paí- Também em 1793, uma frota de quatro na-
mília Real, a Corte e algumas importantes ins- ses tomado medidas de defesa relativamente vios largou de Lisboa em Setembro escoltando
tituições do Estado, transferindo para aquele à França. os 14 transportes onde seguiam as forças mili-
território a capital do Reino. No início do conflito, Portugal prepara uma tares portuguesas enviadas para a Catalunha,
Esta acção foi possível porque Portugal se- esquadra de sete navios, denominada Esqua- afim de combater os franceses no Rossilhão.
guira, nos anos anteriores, uma políti- Em 1797, uma fragata portuguesa
ca de desenvolvimento do seu Poder salvou o navio de Lord Nelson que fi-
Marítimo que lhe permitiu, no mo- cara danificado num combate naval ao
mento necessário utilizá-lo da forma largo do Cabo de São Vicente (1797) e
mais conveniente para a defesa da sua ameaçava perder-se e uma esquadra
soberania. portuguesa colabora no bloqueio in-
Pela reforma administrativa de 1763 glês a Cádis.
fora criada a Secretaria de Estado dos No ano seguinte, o Governo portu-
Negócios da Marinha e Domínios Ul- guês mandou seguir para o Mediter-
tramarinos, que passou a dirigir todos râneo, os seis navios da Esquadra do
os assuntos da Corporação e dos terri- Ocea no sob o comando de D. Domin-
tórios de Além-Mar. gos Xavier de Lima, 7º Marquês de
Em 1770 é nomeado Martinho de Nisa, que se incorporou na esquadra
Melo e Castro para ocupar aquele car- inglesa de Lord Nelson.
go, Iniciando-se um período de ressur- Durante dois anos esteve esta es-
gimento da Marinha de Guerra através quadra no Mediterrâneo sob as ordens
da acção persistente daquele Secretário de Nelson, o que obrigou a montar, a
de Estado, e do seu sucessor D. Rodrigo partir de Lisboa, uma complexa ope-
de Sousa Coutinho. ração logística para manter abastecida
Em 1779 é criada a Academia Real aquela frota.
de Marinha que se manteria em fun- A fragata Princesa Carlota colabora
cionamento até 1837, altura em que foi com a esquadra inglesa num combate
criada a Escola Politécnica e que mais contra uma frota franco-espanhola ao
tarde daria lugar à Faculdade de Ciên- largo de Cádis em 13 de Julho de 1801.
cias de Lisboa. O ano de 1802 é marca do por um trá-
Na área do pessoal, procedeu-se à gico episódio. A fragata Nossa Senhora
regularização dos postos da Armada do Bom Despacho mais conhecida pelo
e à fixação dos vencimentos. Foram nome de Cisne, navio de 44 peças per-
criadas a Companhia Real dos Guar- tencente à Esquadra do Estreito foi ata-
das-Marinhas, a Academia Real dos cada e apresada por navios argelinos.
Guardas-Marinhas, o Corpo de Ofi- Estes são apenas alguns exemplos da
ciais da Armada Real, a Brigada Real intensa actividade operacional da Ar-
da Marinha e a Brigada Real de Arti- mada Portuguesa naquele período.
lharia da Marinha. Depois da derrota em Trafalgar, Na-
Na área das infra-estruturas, salien- poleão tenta, através do Bloqueio Conti-
tamos a construção da Real Fábrica de nental, impedir que os navios ingleses
Cordoaria, do Real Hospital de Ma- utilizem portos portugueses. A recusa
rinha, a reorganização do Arsenal de significaria a invasão de Portugal pelos
Marinha e a construção do seu dique, exércitos francês e espanhol.
a primeira doca seca de Portugal. A Armada Real estava numa situação
Na área do material, foram lançados desafogada, devido à actuação brilhan-
ao mar num período de sete anos, 18 te dos últimos Secretários de Estado da
navios, para além de mais seis moder- Marinha. Fundeadas no Tejo estavam
nizados no mesmo período. doze naus, nove fragatas, uma corveta,
Em 1796 a Marinha Portuguesa dis- sete brigues, quatro charruas e três es-
punha de 45 navios de alto bordo e 26 cunas que compunham o Poder Naval
pequenas embarcações com um total Nacional operacional, à data em que os
de 2.200 peças de artilharia. exércitos de Napoleão entram no país.
Esta Armada, de 800 oficiais e 20.000 A Primeira Invasão Francesa leva a
homens embarcados, equivalia, numa Família Real, acompanhada da Corte,
população de 3,5 milhões de habitantes, a 0,6% dra do Canal, que envia para Inglaterra em a transferir-se para o Brasil.
da população, e permitia manter em perma- 1793, destinada a colaborar com os ingleses nas A 26 de Novembro, com o exército de Junot
nência esquadras na entrada do Mediterrâneo, lutas contra a França no Canal da Mancha. em Abrantes, o Governo tem conhecimento
ao longo da costa portuguesa e ao largo dos No ano seguinte, uma nova esquadra de da invasão e publica um decreto onde eram
Açores, que protegiam o comércio marítimo oito navios incorporou-se nas forças navais expostos os motivos que levavam o Príncipe
português contra as actividades dos corsários inglesas, procedendo a numerosas acções de Regente a partir para o Brasil.
franceses, espanhóis e barbarescos. escolta a comboios de navios mercantes e re- A 27 embarcam, no cais de Belém, os mem-

16 JANEIRO 2008 U REVISTA DA ARMADA