Page 20 - Revista da Armada
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coroas após o turbilhão napoleônico? Nem                              darte do Corpo de Fuzileiros Navais da Mari-
         posso desconsiderar a imensidão territorial                           nha do Brasil, em que o vermelho de seu pano
         brasileira, sob a mesma bandeira, cultuando                           remete ao sangue de tantos Fuzileiros Navais
         o mesmo idioma, mesclando crenças e etnias                            em quem poder não teve a morte, e o 1808, à
         unidas por um único e irrestrito sentido de                           sua chegada no Brasil.
         nacionalidade, esta a herança maior daquela                             ADSUMUS, aqui estamos; trazidos por pro-
         iniciativa, em contraponto à atomização da                            fundo preito de gratidão e apreço àqueles va-
         América espanhola. Se tal não basta para con-                         lorosos combatentes anfíbios da Brigada Real
         ferir grandeza àquela saga, resta, ainda, um                          da Marinha que deixaram este solo generoso
         argumento: fosse essa efeméride realizada em                          para dedicarem-se, inteiramente, à Pátria que
         nossos dias, com todos os meios e facilidades                         viriam a adotar e aprender a amar.
         hoje existentes, ainda assim, seria considerada                         Meu orgulho, contudo, embota-se diante da
         um feito extraordinário.                                              emoção que sinto por viver este momento; eu
           Desde sua chegada ao Rio de Janeiro, em                             que trago em minhas melhores recordações
         07 de março de 1808, a Brigada Real da Ma-                            infantis os anos passados na Aldeia de Arou-
         rinha, que nunca mais deixou o Brasil, empe-                          ca, minha Arouca das cavacas e do pão-de-ló,
         nhou-se em honrar os valores que motivaram                            do Monte da Freita, da Santa Rainha Mafalda
         sua criação. Ainda nesse mesmo ano, 1808,                             e das festas de Nossa Senhora da Laje, aldeia
         foi empregada na conquista de Caiena, rea-                            onde, em meio aos folguedos nos milharais,
         ção imediata de D. João, à invasão francesa de                        ao sumo das uvas pisadas no lagar, aos sarra-
         sua terra natal.                                                      bulhos, ao surdo barulho da mó esmagando
           Desde então, os Fuzileiros-Marinheiros da                           o fruto dos olivais, aprendi, na lousa, a rabis-
         Brigada Real da Marinha, embora sob diferen-  manobras e evoluções próprias dos regimen-  car as primeiras letras do nosso idioma e no
         tes denominações, envolveram-se em todos os  tos de meu exército de terra, e devendo ser  coração, a amar Portugal, antes mesmo, da
         conflitos internos e externos que ameaçaram a  próprias, particularmente, para defenderem as  minha Pátria.
         unidade brasileira; nossa História confunde-se  embarcações de guerra e para fazerem algum   Sou um homem bafejado pelo Criador por
         com a própria História do Brasil. No altar da  desembarque, e tentar algum ataque; é sobre  viver este momento.
         Pátria, 1622 Fuzileiros Navais imolaram suas  objetivos análogos a este fim proposto que de-  Devo pedir-lhes desculpas, por externar nes-
         vidas por um Brasil soberano.      vem principalmente exercitar-se”.  ta cerimônia, plena de protocolo, significado
           Nessa trajetória, seguimos diversas orienta-  Portanto, como Comandante-Geral do Cor-  e pompa, sentimentos pessoais; fi-lo contudo,
         ções e sofremos diferentes influências doutri-  po de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil,  como um justo tributo a meus pais, que à se-
         nárias; todas lídimas, porém, inadequadas ao  sinto incomensurável orgulho, ao ver meus  melhança dos Fuzileiros da Brigada Real da
         nosso emprego e à nossa dimensão. Quando  Fuzileiros Navais envergando o uniforme da  Marinha, também cruzaram o mar oceano, e
         decidimos trilhar nosso próprio caminho, foi  Brigada Real da Marinha, e portando seu Es-  entregaram seu filho ao serviço da Pátria que
         no Alvará de Dona Maria I que identificamos  tandarte o qual reproduz as cores básicas dos  tão generosamente os acolhera.
         a verdadeira razão de nossa existência e de  antigos uniformes da Armada Portuguesa:
         nossa destinação: “sendo inúteis que tropas  verde e amarelo; verde e escarlate; e azul e   BRAÇO ÀS ARMAS FEITO!
         de desembarque sejam exercitadas a grandes  branco. Com ele ombreia altaneiro o Estan-  VIVA A MARINHA!






















          Discurso proferido pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada
          Discurso proferido pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada

                                    Almirante Fernando de Melo Gomes
               irigindo-se às altas entidades presen-  evento histórico que marca, a partir de uma  CEME e CEMFA e senhores Embaixadores,
               tes, o Almirante CEMA disse:  raiz comum, o desenvolvimento das nossas  a fineza que fizeram em se associarem a esta
         D Celebramos hoje, de forma simbó-  Marinhas.                         comemoração.
         lica, duzentos anos desde a partida da Família   De igual modo quero agradecer a dispo-  Todos estarão recordados do ambiente de
         Real para o Brasil, em 1807.       nibilidade do Senhor Ministro da Defesa  segurança que se vivia na Europa do início do
           Nesta ocasião, quero, em primeiro lu-  Nacional para presidir a esta cerimónia e ao  século XIX. O “povo em armas” da repúbli-
         gar, salientar o grato prazer que a Marinha  Senhor Ministro de Estado e dos Negócios Es-  ca francesa, comandado por um General de
         Portuguesa tem em receber uma represen-  trangeiros, senhor General CEMGFA, senhor  trinta anos, Napoleão Bonaparte, varrera a
         tação tão distinta e numerosa da Marinha  Presidente da Comissão de Defesa, senho-  parte ocidental do continente europeu, faltan-
         do Brasil para, em conjunto, evocarmos um  res Secretários de Estado, senhores Generais  do apenas subjugar o Reino de Portugal para

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