Page 19 - Revista da Armada
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bros da Família Real. São acompanhados por  interrupção, avistava 38 navios, estando o na-  buquerque e Bedford e a fragata Urânia.
         15.000 cortesãos, funcionários, artistas, magis-  vio-almirante português a cerca de 7 milhas.   Largando da Baía a 26 de Fevereiro, com to-
         trados, militares, com mobílias, arquivos, bi-  Ao terceiro dia de viagem os navios pude-  dos os navios que ali se lhe juntaram, o Prínci-
         bliotecas, 9 carruagens e cerca de 10 milhões  ram guinar para Sul, passando de novo na la-  pe Regente atinge o Rio de Janeiro a 7 de Mar-
         de cruzados, metade da moeda então em cir-  titude de Lisboa em 3 de Dezembro. O vento  ço, sob as salvas dos fortes e das embarcações
         culação no Reino.                                                     fundeadas na Baía de Guanabara, desembar-
           De notar que os preparativos desta partida,                         cando na tarde do dia seguinte. Estava termi-
         com a transferência de toda a volumosa do-                            nada a viagem.
         cumentação necessária à gestão do Reino, ha-                            A Armada Real e a Marinha Mercante por-
         viam sido iniciados cerca de um ano antes.                            tuguesa, dotadas de numerosos e excelentes
           A esquadra de 23 navios de guerra, acom-                            navios, com oficiais e guarnições treinadas e
         panhada de 31 navios mercantes, comandada                             experientes reuniram em Lisboa mais de meia
         pelo chefe de esquadra Manuel da Cunha Sou-                           centena de navios capazes de transportar para
         to-Maior, saiu a barra a 29 de Novembro.                              o outro lado do Atlântico um elevado núme-
           Quando Junot entrou em Lisboa, sem qual-                            ro de pessoas (estima-se em mais de 15.000)
         quer resistência, só teve ocasião de ob servar,                       e material, permitindo salvaguardar a inde-
         ao longe, a esquadra portuguesa. Os franceses                         pendência nacional retirando a Corte, o Go-
         falhavam os principais objectivos; não aprisio-                       verno e algumas importantes instituições do
         navam a Família Real nem se apoderavam da                             Estado, impedindo que fossem aprisionados
         esquadra portuguesa! Por outro lado, a capital                        pelo invasor, como acontecera na maioria dos
         do Reino era transferida para o Brasil – com o                        Estados europeus.
         Governo do Reino e do Império – retirando aos                           Embora muito castigados por sucessivos
         franceses a legitimidade de se poderem arro-                          temporais de grande violência – que lhes cau-
         gar como novos e legais governantes do país.                          saram graves avarias – os navios portugueses
           No Tejo tinham ficado ainda 5 naus a ne-                             chegaram todos ao seu destino com duas ex-
         cessitar reparações e os 11 navios russos do                          cepções; a nau Príncipe do Brasil que arribou a
         almirante Siniavin; no entanto a grande maio-                         Plymouth para receber fabricos e a pequena es-
         ria das unidades das marinhas de comércio e                           cuna Curiosa que regressou a Lisboa com água
         de guerra portuguesas estava fora do alcance  moderado que passou a soprar permitiu rea-  aberta. Isto reflecte, por um lado, a qualidade
         dos franceses.                     lizar a bordo uma série de tarefas e corrigir as  e experiência dos seus oficiais e guarnições, e
           Na tarde de 29 o vento rondou para SSW in-  avarias provocadas pelos temporais dos pri-  por outro, a excelência dos seus projectos e dos
         comodando os passageiros pelo que os navios  meiros dias.             métodos de construção naval portuguesa que,
         se puseram de capa com a vela grande e arria-  A 14 de Janeiro chegaria ao Rio de Janeiro o  desde o século XV preparava navios para na-
         ram vergas e mastaréus para tentar diminuir o  brigue Voador trazendo a notícia da próxima  vegarem no alto mar em condições de tempo
         balanço. Eram 67 navios! 23 navios de guerra  chegada do Príncipe Regente, e a 17 entra na-  muito difíceis.
         portugueses, 13 navios de guerra ingleses e 31  quele porto a nau Rainha de Portugal, em que   Portugal soube, naquela época, utilizar o
         navios mercantes portugueses. Os navios come-  vinham embarcadas as infantas.  poder marítimo de que dispunha para, alian-
         çaram a dispersar-se e, na manhã de 30, o Hi-  A 22 de Janeiro de 1808, após 54 dias no  do-se à potência marítima predominante,
         bernia ainda relatou que apesar da violência do  mar, fundeavam na Baia as naus Príncipe Real,  vencer a Guerra contra Napoleão, nos dois
         vento e da intensidade da chuva, que caía sem  com o Príncipe Regente a bordo, Afonso de Al-  lados do Atlântico.




















                     Discurso proferido pelo Comandante-Geral
                     Discurso proferido pelo Comandante-Geral
              do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil
              do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil
                       Almirante de Esquadra Álvaro Augusto Dias Monteiro

              u a Rainha, faço saber aos que este Al-  embarcações de guerra da Armada Real que  de suas conquistas e o orgulho português de
              vará com força de lei virem... Assim,  demandaram a imensidão do mar oceano a  a ninguém submeter-se; epopéia que ainda
         EDona Maria I de Portugal inicia o do-  fim de transmigrar para o Brasil, não apenas  não mereceu da História todo o reconheci-
         cumento em que, em 1797, cria a Brigada Real  a corte e o aparato estatal do reino português,  mento devido.
         da Marinha.                        mas, principalmente, seus bens mais precio-  Não me quero imiscuir nos debates históri-
           Apenas dez anos após sua criação, já tendo  sos: a integridade das armas e dos barões as-  cos sobre o valor dessa ação; falta-me conheci-
         contudo demonstrado provas ímpares de sua  sinalados, a perpetuação de sua história, a  mento para tanto. Todavia, indago: que outros
         lealdade, a Brigada guarneceu as naus e as  sobrevivência de sua cultura, a manutenção  reis do continente europeu mantiveram suas
                                                                                      REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2008  17
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