Page 187 - Revista da Armada
P. 187
Dia da Marinha
Alocução do Almirante CEMA
ENQUADRAMENTO HISTÓRICO zer-se que deve ser exercida onde estiverem os nossos interesses.
Trata-se de conceptualizar - e tirar daí as necessárias consequên-
O não é congruente separar, de modo estanque, a Defesa e o apoio à
Funchal celebra, neste ano de 2008, 500 anos desde a sua cias - relativamente às fronteiras alargadas do País, porque hoje
elevação a cidade. Seria sempre um imperativo para a Mari-
nha comemorar esta data. Fazemo-lo com gosto e honrados política externa, da segurança e, também, no nosso caso, da autori-
pelo convite, aqui estamos, de novo, 26 anos volvidos, a celebrar o dade do Estado no mar.
Dia da Marinha. Nesta oportunidade, cumpre-me agradecer o apoio Isto implica reconhecer a inevitabilidade de, urgentemente, ade-
que desde a primeira hora recebemos do Senhor Presidente do Go- quar o instrumento militar a novas circunstâncias, cuidando pru-
verno Regional da Madeira, do Senhor Presidente da Câmara Mu- dentemente do futuro, porque é de todos conhecido que uma Ma-
nicipal do Funchal, e demais entidades que mostraram inexcedível rinha não se pode improvisar.
vontade em nos apoiar nesta inicia- Se, por um lado, a democracia é
tiva de trazer a Marinha à Madeira e a marca da identidade do Portugal
aos madeirenses. moderno, temos que reconhecer que
Foi no Porto Santo, em 1418, que o mar, o nosso mar, pertence ao sen-
se iniciou a gesta dos descobrimen- tir da Nação, e é a marca do Portugal
tos quando João Gonçalves Zarco e de sempre; Onde nos distinguimos
Tristão Vaz Teixeira ali aportaram no entre os demais, demos novos mun-
decorrer duma missão de busca aos dos ao mundo e onde sempre encon-
corsários de Salé. Logo no ano seguin- trámos válidas alternativas para as
te, com Bartolomeu Perestrelo, vieram “apoquentações” que ciclicamente
à Madeira explorar este lugar estraté- nos visitam.
gico, situado no meio do mar oceano, Hoje, continua a ser assim. É por
para servir de base na defesa das nos- onde circula a esmagadora maioria
sas costas. Foi o princípio do maior do nosso comércio externo, contribui
feito dos Portugueses, a epopeia dos com 11% para o PIB, 90% do turismo,
descobrimentos, que nos uniu como 17% dos impostos cobrados e 12% do
Nação e nos colocou nas páginas da emprego. É, também, pelo nosso mar
história da humanidade. que passam 53% das mercadorias de
Neste enquadramento, é com mui- e para a Europa. É também ele que
to gosto, que agradeço a V. Ex.ª, Se- une o todo Nacional e grande parte
nhor Ministro da Defesa Nacional, a da nossa diáspora.
disponibilidade que teve para presi- Por tudo isto, julgamos poder afir-
dir a esta cerimónia, em que também mar, com toda a certeza, que os recur-
celebramos 510 anos desde a chegada sos nele dispendidos, não são uma des-
de Vasco da Gama à Índia, pelo apoio pesa mas antes um investimento. Um
institucional que nos transmite. Fica- investimento também na segurança,
mos mais confiantes da comunhão do que é o pilar essencial onde assenta o
pensamento e da continuidade na ac- desenvolvimento.
ção estratégica para a modernização
da Marinha, aspecto essencial para que os Portugueses possam usar o ÍNDOLE E ACTUAÇÃO DA MARINHA
mar na medida das suas necessidades.
Agradeço, também, a todos, muito em especial a S. Exa. o Repre- O modelo português de imposição da autoridade do Estado nos
sentante da República para a Região Autónoma da Madeira e S. Exa. espaços marítimos, foi aperfeiçoado ao longo de séculos e é hoje
o Presidente da Assembleia Legislativa, a disponibilidade que tiveram exemplo para outros países. Neste modelo, a Marinha detém res-
para estar connosco, nesta cerimónia, e envio uma saudação calorosa, ponsabilidades que se estendem desde as praias e domínio pú-
para aqueles que, hoje mesmo, estão a cumprir a sua missão no mar. blico hídrico, até aos confins da zona económica exclusiva e das
Lembro particularmente os fuzileiros que hoje honram os compro- áreas de busca e salvamento. Contando com as águas sob nossa
missos de Portugal no Afeganistão. soberania e jurisdição situamo-nos hoje entre a primeira dúzia
de estados do mundo. Há um enorme potencial a explorar, ates-
ENQUADRAMENTO ESTRATÉGICO tado, também, pelo facto de não haver um único dia em que não
contemos, nas nossas águas, com navios de investigação científi-
Se olharmos para o panorama internacional, não será difícil pers- ca estrangeiros. A Marinha, a vossa marinha, procura rentabilizar
pectivar a dificilmente evitável ocorrência de acontecimentos que a os recursos que os portugueses nos disponibilizam. Com os mes-
diplomacia não poderá resolver por si só; de fenómenos que afec- mos meios, desempenha, em simultâneo, funções de defesa e de
tam a nossa segurança individual e colectiva e que vão perdurar no apoio á política externa, de imposição da autoridade do estado
tempo com diversos patamares de risco e ameaça. no mar e, ainda, da sua investigação e desenvolvimento. É o que
O mundo apresenta, hoje, uma incerteza, imprevisibilidade e diversi- designamos por uma marinha de duplo uso, que agrupa as duas
dade de perigos a que só um leque apropriado de capacidades e a união vertentes referidas - uma de índole “militar” e outra de carácter
de esforços, aos níveis interno e internacional, poderão fazer face. “civil”- numa lógica de integração e complementaridade visando
A segurança nacional adquiriu um sentido muito lato, podendo di- a optimização de recursos.
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2008 5