Page 188 - Revista da Armada
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Mas existem muitos outros actores com protagonismo no mar.  “representam um enorme alento e uma acrescida responsabilidade
         Hoje, o instrumento essencial para evitar o desperdício, chama-se  para a Marinha e para todos os marinheiros”. A nova Esquadra terá
         cooperação. Todos dependem de todos e todos não são suficientes  mais capacidade de intervenção dentro e fora do País, num leque
         para acorrerem a todas as necessidades. Recentemente, após muitos  mais alargado de situações, com maior influência nos acontecimen-
         anos de estéreis discussões, deu-se um passo de enorme importância  tos e mais visibilidade para Portugal”.
         no sentido da modernidade, com a regulamentação das missões que   Contudo, passados que estão dois anos, falta ainda concretizar
         cada um deve desempenhar, e a criação do Centro Nacional Coorde-  parte significativa do plano.
         nador Marítimo, organismo potenciador do desempenho cooperati-  Se é certo que dentro de seis semanas teremos o lançamento à
         vo. Dispensam-se assim outros organismos do Estado de replicarem  água do primeiro dos novos submarinos, o N.R.P. “Tridente”, e no
         meios que já existem, poupando recursos escassos e dispendiosos.  fim deste ano iremos receber a primeira das duas fragatas adquiri-
         Este é, no meu entendimento, a único caminho a percorrer de forma  das à Holanda, o N.R.P. “Bartolomeu Dias”, continuam por opera-
         a salvaguardar os nossos                                                           cionalizar três importantes
         interesses no mar, a custos                                                        programas de meios na-
         comportáveis, exploran-                                                            vais: o Navio Polivalente
         do as sinergias e evitando                                                         Logístico, (o mais conjunto
         desperdícios.                                                                      de todos os meios do sis-
           Mas, para que este mo-                                                           tema de forças) as Lanchas
         delo possa funcionar, é                                                            de Fiscalização Costeira
         também necessário que se                                                           e os Navios de Patrulha
         disponha de uma Marinha                                                            Oceânica.
         que corresponda às neces-                                                            Existem recursos e ca-
         sidades actuais do País e                                                          pacidade. Há que decidir
         dos espaços onde nos inte-                                                         para que se possa passar da
         gramos, designadamente a                                                           virtualidade ao concreto!
         União Europeia e a NATO,                                                             O Navio Polivalente Lo-
         assente na robustez de três                                                        gístico, é essencial para a
         pilares fundamentais: a                                                            capacidade expedicioná-
         organização e doutrina, os                                                         ria nacional. Poderá trans-
         meios e as pessoas.                                                                portar meios do Exército, e
                                                                                            da Força Aérea e potencia-
         ORGANIZAÇÃO E DOUTRINA                               rá o emprego dos nossos Fuzileiros bem como o apoio às popula-
                                                              ções, como plataforma de protecção civil e apoio sanitário em caso
           No âmbito do primeiro pilar, está em curso uma revisão profunda  de catástrofe ou acidente. Assumimos que o conjunto é a forma de
         da estrutura superior da Defesa Nacional e das Forças Armadas.  emprego mais eficaz das Forças Armadas. Por isso, não podemos,
           A Marinha encontra-se vinculada, desde o início, à construção de  nem devemos, adiar por mais tempo a obtenção da mais conjunta
         um edifício legal moderno, adaptado às nossas circunstâncias e às  capacidade do sistema de forças nacional.
         exigências do novo ambiente de segurança internacional.  No âmbito da fiscalização, atingimos uma situação insustentável
           A problemas cada vez mais complexos, terá que corresponder um  no que respeita à manutenção dos actuais Patrulhas da classe “Caci-
         processo de consultas político-militares cooperativo, sólido e abran-  ne”. A sua substituição é urgente, pelo que a assinatura do contrato
         gente, que permita identificar sempre a melhor solução.  de construção das Lanchas de Fiscalização Costeira é inadiável.
           Em paralelo, para podermos dar resposta a um crescente núme-  Só com os novos navios poderemos reforçar o dispositivo, o que,
         ro de solicitações, da mais                                                        no caso da Madeira, se jus-
         diversa origem, haverá                                                             tifica plenamente há mui-
         que tornar mais simples,                                                           tos anos, pela vastidão e
         flexível e eficaz o uso das                                                          sensibilidade da sua zona
         capacidades disponíveis,                                                           económica exclusiva.
         no respeito pela identida-                                                           Finalmente, no caso
         de e cultura própria dos                                                           dos Patrulhas Oceânicos,
         Ramos.                                                                             a Marinha e o País preci-
           Aqui, temos a vanta-                                                             sam destes navios. Confio
         gem de podermos ajustar                                                            que, durante o próximo
         o nosso modelo à expe-                                                             ano, seremos capazes de
         riência de outros e não re-                                                        os aumentar ao efectivo
         petir erros perfeitamente                                                          da Armada e continuar
         evitáveis.                                                                         o processo de construção
           Adaptaremos, assim, a                                                            das restantes unidades
         nossa organização, procu-                                                          previstas.
         rando servir, ainda melhor,                                                          É com especial satisfa-
         Portugal e os portugueses.                                                         ção que dou público co-
         Estamos nisso empenha-                                                             nhecimento que um dos
         dos. Há muitos séculos; quase tantos como os que conta a naciona-  futuros NPO será baptizado com o nome “Funchal” como home-
         lidade. Conhecemos os ventos favoráveis à nossa rota. Só esses nos  nagem sincera às gentes da Madeira que sempre acolheram a sua
         servem, porque sabemos muito bem onde estamos e para onde que-  Marinha com o carinho que só os do mar sabem dispensar e com-
         remos ir.                                            preender.
                                                               Mas de nada servirá ter navios, se não os soubermos manter. Por
         MATERIAL                                             isso, é essencial transformar o Arsenal do Alfeite num estaleiro mo-
                                                              derno e competitivo investindo os recursos necessários nos seus tra-
           Em relação ao material, disse há dois anos, aquando da aprovação  balhadores e equipamento. Esta é uma reforma crucial que temos
         da nova Lei de Programação Militar, que os programas nela inscritos  que concretizar rapidamente.

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