Page 201 - Revista da Armada
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vam as que defendiam a costa algarvia e ger Soubiran tinham completado a primeira
o Estreito de Gibraltar do corso e pirata- viagem aérea recorrendo aos instrumentos
ria internacional. e técnicas de navegação adaptadas e desen-
Na formosa baía do Funchal, o primei- volvidas por Gago Coutinho, que dispensa-
ro capitão construiu uma pequena igreja vam as referências visuais em terra. Cerca
e fundou uma vila que rapidamente se de quatrocentos anos depois de Zarco, os
alargou pela encosta, merecendo a dis- portugueses abriam, de novo, a porta para
tinção do título de cidade por parte do rei outro tipo de viagens transoceânicas. Hoje
D. Manuel, em 1508. Foi a primeira ci- em dia, este feito parece relegado para um
dade ultramarina portuguesa, que come- cruel e indiferente esquecimento, mas na
mora este ano cinco séculos de orgulho- altura não deixou de impressionar os ma-
sa existência. O seu porto cedo ganhou deirenses que, de imediato, construíram um
uma importância estratégica determinan- monumento evocativo, financiado por um
te para o país, não só pela dimensão do banqueiro do Funchal. A travessia que de-
comércio externo que se fazia através morava três, quatro ou mais dias, cumprira-
dele, como pela posição dominante que -se em apenas oito horas e vinte minutos,
tem, sobre as linhas de navegação do deixando a Madeira mais próxima do resto
Atlântico e do Mediterrâneo. A transpo- do mundo e dando-lhe a esperança de um
sição para o mar dos conflitos de fundo menor isolamento. Presentemente, as co-
religioso ou político, dos séculos XVI e municações com a Ilha beneficiam de um
XVII – com particular incidência para a moderno aeroporto e são regulares as car-
disputa atlântica entre o império espa- reiras aéreas, mas o mar continua a ser a via
nhol e britânico – realçaram esta função privilegiada de abastecimento de mercado-
estratégica, e obrigaram à construção de rias, continuando a ser preferido por um
infra-estruturas defensivas que proteges- fluxo de turismo específico que necessita
sem o porto e dessem guarida aos navios de liberdade e segurança no espaço oceâni-
que ali fundeavam. No princípio do sé- co. Todos os ilhéus têm consciência disso, e
culo XIX, quando a Europa viveu o ven- provaram-no na forma amiga e acolhedora
daval napoleónico e o país foi ocupado como receberam a Marinha no seu dia de
pelos franceses, a corte portuguesa emi- festa no Funchal. Uma amizade que retri-
grou para o Brasil e a Madeira foi base de buímos com emoção, numa homenagem
apoio na protecção ao comércio ultrama- que não se cumpria há vinte e seis anos e
rino que passava para o Norte, servindo que era devida aos madeirenses.
de ponte para o lançamento de opera-
ções contra os invasores. E esta notorie- AS COMEMORAÇÕES DO
dade manteve-se até ao presente, sendo DIA DA MARINHA
exemplo disso os episódios a que assistiu
durante as duas grandes guerras mundiais Para as comemorações do Dia da Mari-
do século XX. Varanda sobre o Atlântico, nha no Arquipélago da Madeira foi consti-
com um olhar sobre a entrada do Medi- tuída a TG 443.20, comandada pelo CMG
terrâneo, o Arquipélago desempenhou Alberto Manuel Silvestre Correia, embarca-
um papel fundamental na consolidação do no NRP “Corte-Real”, que foi o navio
do Portugal marítimo, que se afirmou a chefe da Força Naval durante todo o perío-
partir do século XV e foi a pedra de to- do. Integraram-na ainda os NRP “Álvares
que da independência nacional. Cabral“, NRP “Afonso Cerqueira“, NRP
Durante quatro séculos, o mar foi a “João Roby“, NRP “António Enes“, NRP
única via de acesso à Madeira, e isso “Barracuda“, NRP “Sagres“, NTM “Creou-
justificava plenamente a relação das suas la“, NRP “D. Carlos I“, NRP “Bacamarte“,
gentes com a Marinha e os navios. E quis NRP “Orion“ e NRP “Hidra“, que se diri-
o destino que fosse pela mão da Marinha giram ao Arquipélago, concentrando-se a
que, pela primeira vez, um avião alcan- partir de 18 de Maio. O “Creoula” atracou
çasse aquela ilha pelas 17.15 do dia 22 no Porto Santo, no dia 19, e a “Sagres”
de Março de 1921, um hidroavião F-3 chegou pouco tempo depois, ficando fun-
amarava na baía do Funchal. O Capitão deada ao largo. Aí embarcou um grupo de
de Mar-e-Guerra Gago Coutinho, o Capi- crianças seleccionadas pela Associação
tão Tenente Sacadura Cabral, o 1º Tenen- Náutica da Madeira, por um concurso pro-
te Ortins Bettencourt e o mecânico Ro- movido pelo Diário de Notícias da Madei-
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2008 19