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ACADEMIA DE MARINHA
Sessões Culturais
Sessões Culturais
m 11 de Março, realizou-se uma sessão cultural trução naval referiu-se às “traças” e ao confronto entre
subordinada ao tema “A Arquitectura Naval Por- sete autores, passando depois ás características gerais
Etuguesa Antiga – Os “Tratados” e os “Traços”” dos navios dos finais do séc. XVI segundo os “Trata-
proferida pelo académico Dr. Hernâni Amaral Xavier, dos” e as “Traças”.
da classe de História Marítima. Ao aproximar-se do fim da sua intervenção, o Dr. Ama-
Depois da apresentação do orador pelo Presidente da ral Xavier apresentou à assistência não as suas conclusões,
Academia de Marinha, VALM Ferraz Sacchetti, aquele mas antes uma série de reflexões sobre os modelos estu-
fez uma breve introdução ao tema referindo-se a aspec- dados e baseados nos famigerados “Tratados”, concluin-
tos da marinharia no Mediterrâneo e no Atlântico, ao que do que “em relação a estas matérias, apenas se continua
se seguiu um brevíssimo resumo da história das navega- a arrazar, com o “bulldozer” do desconhecimento, uma
ções portuguesas ligando-as aos consecutivos desafios Dr. Amaral Xavier. enorme montanha de dados pelo cume, deixando acu-
verificados e impostos à nossa construção naval, desde o reinado de mular, na base, juntamente com o entulho, a verdade que se procura”.
D. João I até além dos Filipes, abordando ainda o declínio da Marinha O orador, após a sua comunicação, apresentou um modelo de navio,
Portuguesa a partir de D. João III e as perdas das naus da Índia. por si construído, de acordo com as Traças do Manuscrito de Magliabec-
Prosseguiu, na sua comunicação mencionando depois as dificuldades chiani, do séc. XV, apresentando seguidamente uma série de questões
enfrentadas pelos investigadores quando consultam as poucas fontes que se levantaram acerca deste modelo “baseado numa Traça Univer-
existentes e salientou os cuidados de que se devem rodear as interpre- sal do mesmo século, construção que ainda talvez venha a servir para
tações a avaliação da validade daquelas mesmas fontes. outros ensaios, porque bem estanque, pelo menos está”.
Foi de opinião que algumas “fontes directas que genericamente têm Após a comunicação e no período que se seguiu, levantaram-se
sido apelidadas de “Tratados”, quando nenhuma delas verdadeira- diversas questões sobre o tema abordado, pelo que o orador teve a
mente o é”, tendo abordado as obras de João Baptista Lavanha e do oportunidade de esclarecer e até desenvolver certos aspectos já por
e
P. Fernando de Oliveira. si referidos, muito embora alguns deles não tivessem a total concor-
O orador, seguidamente, servindo-se de elementos técnicos de cons- dância dos interventores.
m 8 de Abril teve lugar, uma comunicação pro- “exagerada saliência” a prova de Vasco da Gama ter
ferida pelo membro emérito Arquitecto José Cid atingido “a costa ocidental nas imediações da enseada de
ta
Ede Sousa Tudella sobre “A angra de S Helena Santa Helena”.
e a cartografia quinhentista”. Na mesa da presidência Baseado nos factores anteriormente expostos e após
encontrava-se o VALM Silva Horta e o Dr. João Abel da uma análise conjunta do roteiro anónimo da viagem, dos
Fonseca. Aberta a sessão pelo Presidente da Academia, sábios conceitos expendidos por Gago Coutinho e da
VALM Ferraz Sacchetti, este fez uma breve apresentação geo metrização feita sobre cartas geográficas antigas com-
do currículo do orador no campo do ensino secundário e paradas as correspondentes actuais, o orador avaliou
técnico-profissional, terminando por dizer que este aca- “a dimensão do erro das antigas cartas e reconstituiu o caminho
démico era bem conhecido, pois desde 1979 que perten- efectivamente percorrido em 1497, permitindo deste modo com-
cia à Classe de Artes, Letras e Ciências da Academia. Arquitecto Sousa Tudella. preender a razão da arribada involuntária a S Helena”.
ta
O Arq. Tudella dissertou então sobre os defeitos das cartas de nave- Terminadas as palavras do orador, houve várias intervenções da assis-
gação nos séc. XV e XVI e daí que o contorno do continente africano tência, algumas nem sempre concordantes com a matéria que acabava
aparecesse deformado, “Tornando-o mais bojudo longitudinalmente na sua de ser apresentada, tendo surgido então a proposta de a Academia vir
porção superior, situada a norte do Golfo da Guiné.” a organizar um painel para um debate sobre as navegações portugue-
Seguidamente, abordou então o facto de como resultante daquela sas no Atlântico Sul, nos séc. XV e XVI.
m 22 de Abril, foi proferida uma comunicação Referiu-se, ainda, às meticulosas figuras coloridas,
pelo académico Prof. Doutor Vasco Gil Mantas, de grandes dimensões, de vinte e um portos nacionais,
Edocente da Universidade de Coimbra, sobre desde o Rio Minho até ao Guadiana, pois nessas figu-
“O Atlas de Pedro Teixeira e os portos do continente ras se mencionam balizas, canais de acesso às barras,
português nas vésperas da Restauração”. Na mesa da profundidades, acrescentando o orador que algumas
Presidência encontrava-se o Prof. Doutor Contente Do- daquelas figuras constituem a mais antiga representa-
mingues e o Comandante Malhão Pereira. ção conhecida de determinadas povoações como, por
Feita a apresentação do orador pelo Presidente, exemplo, S. Martinho do Porto.
VALM Ferraz Sacchetti, aquele explicou que o objecti- Chamou ainda o orador a atenção para a necessidade
vo primordial da sua comunicação era “divulgar entre de se prosseguir na busca de documentação portugue-
os académicos o conhecimento do Atlas elaborado pelo cos- Prof. Doutor Gil Mantas. sa fora do nosso país, principalmente no que se refere
mógrafo Pedro Teixeira Albornoz, datado de 1634”, uma vez que aquele ao período filipino, quando a coroa dos Filipes abrangia regiões para
Atlas tinha sido identificado recentemente na antiga Biblioteca Im- além da Península Ibérica.
perial de Viena de Áustria e já tinha sido publicado em Espanha por Após a exposição, seguia-se um período de permutas e respostas,
um grupo de investigadores. que foi aproveitado pelo orador para esclarecer pontos menos claros
Explicou, seguidamente, que era um documento extraordinário da sua intervenção.
para o estudo dos portos do litoral continental português face à quan- Z
tidade e boa qualidade da informação que nele se contém. (Colaboração da ACADEMIA DE MARINHA)
REVISTA DA ARMADA U JUNHO 2008 17