Page 377 - Revista da Armada
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favor do ensino, mas no plano mais geral que nos ocupa particularmente, o ensi- vel para qualquer estudante universitário
de uma Armada ao serviço do país, dota- no superior militar naval, toda a compe- destes domínios do saber - lá encontrará
da de um pensamento e doutrina estraté- tência científica e labor académico que o uma menção ao “seu” Instituto, elevado à
gicos bem conceptualizados e estrutura- Professor Adriano Moreira concretizou ao condição de primeira escola onde, no cita-
dos e operada por um quadro de oficiais longo de uma prolongada e brilhante car- do ano, organizou e leccionou as matérias
qualificados em moldes abrangentes e ac- reira docente, aproveitando o ISNG larga- versadas nessa obra (em 5ª edição) aos alu-
tualizados. mente dessa obra e do seu amadurecido nos dos Cursos Navais de Guerra, onde se
Vejamos, então, algumas dimensões que pensamento e capacidade analítica, num incluíam, como já referido, oficiais repre-
sobressaem desse contributo. vasto leque das ciências sociais. Os alunos sentantes de marinhas amigas e aliadas, de-
Do Mestre – sentem, a Marinha e todos os dos diversos cursos navais de guerra não signadamente dos PALOP´s, Brasil, Espa-
seus oficiais e antigos alunos, uma enorme esquecem as aulas do Professor Adriano nha, Alemanha, Marrocos e Tunísia. Já dois
dívida de gratidão, estima e respeito pelo Moreira. Essas várias gerações de oficiais anos antes, a publicação do Instituto de Re-
Professor Adriano Moreira, por alguém que da Armada recordar-se-ão certamente do lações Internacionais, do ISCSP – Política
congrega a excelência do professor univer- sortilégio dos momentos e da mais-valia da Internacional – de sua autoria, prefaciava
sitário, a integridade do servidor público aprendizagem; eram lições pautadas pela “O papel pioneiro do Instituto Superior Naval
e a estatura cultural e cívica do cidadão, fluidez própria da experiência e cultura de Guerra e do Instituto Superior de Ciências
numa grandeza difícil de resumir nestas académicas (teorizando e conceptualizan- Sociais e Políticas da Universidade Técnica teve
breves anotações, possibilitando, apenas, do em áreas relevantes para a função mili- a sua primeira expressão nestas lições, do ano
um modesto traço do riquíssimo perfil de tar como a Ciência Política, a Política Inter- lectivo de 1967-1968 (a propósito da sua ree-
humanista presente no homem de cultura nacional e as Relações Internacionais), pela dição em 1990) .......”. Assim deixou regista-
e de serviço público, da mais uma das suas
além de notável aca- múltiplas provas de
démico. Nessa estatu- carinho pela Marinha,
ra ressalta, obrigato- que não se cansou de
riamente, a elevação lhe dispensar;
e tolerância com que Quem, de entre os
conseguiu enfrentar seus estudantes, se
as vicissitudes e algu- pode esquecer das
mas “dificuldades” da penetrantes análises,
sua vida, em boa me- onde permanece fiel
dida coincidentes e à inspiração da sa-
contemporâneas com bedoria que acumu-
as da Marinha e da lou, às leis da ciência
própria nação, enten- que sabe aplicar e às
dendo-as, não como da consciência que
incidências meramen- quer firme e coerente?
te pessoais, o que seria Quem não reconhece
redutor, mas numa a sua acção de pensa-
perspectiva sociológi- dor orientada para a
O edíficio da Administração Central da Marinha onde funcionou o ISNG até 1960.
ca, histórica e política descoberta e a inova-
de cidadão livre que sempre se manteve, simplicidade da comunicação (tão benéfica ção conceptual? Quem poderia resistir ao
de homem de ciência e saberes que é e de em disciplinas com o seu quê de novidade) conteúdo estratégico do pensar Portugal,
académico e universitário que nunca dei- e pelo domínio e articulação das matérias integrado na Europa e aí valorizado pelas
xará de ser. São estas múltiplas valências (eficácia do enquadramento, lucidez da ligações transatlânticas advindas da diver-
que fazem do Professor Adriano Moreira, análise, perspicácia da prospectiva, disci- sificada experiência histórica, na busca de
uma das figuras cimeiras da nossa cultura plina do debate, rigor da terminologia, mo- entendimentos e interesses comuns com
e personalidade de valor e prestígio ímpa- dernidade da linguagem, para enumerar outras áreas da nossa inserção no mundo,
res, que a Instituição Militar teve o privilé- apenas alguns dos atributos). Mas, talvez especialmente África e o espaço da luso-
gio de acolher e testemunhar os serviços re- mais importante, ainda, para a qualificação fonia, conferindo-lhe utilidade acrescida
levantes, extraordinários e distintos, por si dos oficiais, o facto de muitos destes qua- face a parceiros dotados de outros recur-
prestados e merecedores de justo e público dros terem tido a oportunidade de testar e sos de que o país não dispõe? Quem não
reconhecimento, em diversas ocasiões, pe- aplicar esses ensinamentos e conceitos ex- captou a ideia-força da complexidade da
los altos responsáveis militares. tremamente úteis, em benefício do poste- relação de Portugal com a sua circunstân-
Esta dimensão de “Mestre” é, quiçá, o rior exercício de funções, dentro e fora da cia, na qual, como sintetizou o Professor,
grande timbre de todo um trajecto dedica- Marinha, quer em cargos nacionais, quer “.... é movediça a estrutura e reformulação da
do ao ensino, a imagem de marca e influ- internacionais, num jeito de ajuda imate- NATO, são incertos o projecto e a consistência
ência que os alunos do Professor Adriano rial ao mais proficiente desempenho pro- do pilar europeu da defesa, sofrem redefinição
Moreira, incluindo os oficiais de marinhas fissional, crescentemente necessitado de profunda as várias não coincidentes fronteiras
estrangeiras, jamais esquecerão. Uma tal tais ferramentas académicas. portuguesas – geográfica, económica, política,
impressão sai ampliada pelo seu exemplo Todos aproveitaram das “viagens guia- cultural, de segurança, de cada uma delas ...”
de vida pública e percurso académico, num das” por aquelas áreas disciplinares, con- (extracto de “O Indefinido Conceito Estraté-
registo de simplicidade e lucidez analítica duzidas pelo Professor Adriano Moreira, gico Nacional”, Adriano Moreira, Encontros
servidas por uma capacidade invulgar de ao longo de várias gerações e anos lectivos. do Porto, 2002).
sistematização sobre questões e desafios A propósito, é interessante referir aqui, re- Como é tonificante para todos nós, dis-
impositivamente colocados por uma rea- portado a 1970, o registo editorial de uma cípulos do Mestre, recordar o significado
lidade nacional e internacional em acele- das suas obras de referência, o livro “Teo- e importância que atribuía aos valores e
rada mudança. ria das Relações Internacionais”, onde, princípios, que exemplificava através do
Constituiu um inegável benefício para na introdução, menciona o ISNG. Quem “eixo e roda”, com aquele, a representar a
o ensino universitário em geral e para o consultar o livro – de leitura indispensá- perenidade referencial de tais valores a
REVISTA DA ARMADA U DEZEMBRO 2008 15