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param na decisão fundadora de criar o GALI-  que corresponde ao maior índice de retorno  para controlar a evolução do projecto nessa
         LEO, nem nas decisões subsequentes que de-  industrial para um Estado Membro.  fase. Importa referir que esse consórcio único
         finiram o seu perfil global), mais os membros                           integrava as companhias EADS (Franco-Ale-
         da Agência Espacial Europeia, que na maioria  PONTO DE SITUAÇÃO       mã), Thales (França), Alcatel-Lucent (França),
         são, já de si, membros da União, com excep-  A Comissão Europeia pretendia que este  Inmarsat (Reino Unido), Finmeccanica (Itália),
         ção da Noruega, Suíça e Canadá. Além disso,  projecto se desenvolvesse no âmbito de uma  AENA (Espanha), Hispasat (Espanha) e Deuts-
         têm vindo a ser acordadas parcerias com paí-  gigantesca Parceria Público-Privado, em que  che Telekom (Alemanha).
         ses como China, Rússia, Israel, Ucrânia, Índia,  o sector privado assumiria parte dos custos de   Em Janeiro de 2006, a Galileo Joint Under-
         Marrocos, Coreia do Sul, Argentina, Malásia,  implementação do sistema, tendo como com-  taking foi substituída pela GNSS Supervisory
         Austrália, Brasil, Japão e México. De entre es-  pensação o direito de explorar comercialmen-  Authority, que é presidida pelo português Pe-
         tas parcerias, assumem, naturalmente, papel  te o sistema. Significava isso que o GALILEO  dro Pedreira e que actuará como a “proprie-
         de destaque, pelo peso relativo                                                  tária” pública do GALILEO e
         desses países na arena interna-                                                  que tinha a responsabilida-
         cional, as estabelecidas com a                                                   de de assinar o contrato de
         China (que está a investir 200                                                   concessão e assegurar que o
         milhões de Euros neste projec-                                                   consórcio vencedor cumpri-
         to), com a Rússia (o primeiro                                                    ria com todas as obrigações
         satélite do GALILEO foi lan-                                                     contratualizadas. No entan-
         çado por um foguetão russo, a                                                    to, as negociações para a as-
         partir de Baikonur) e com Israel                                                 sinatura do contrato de con-
         (cujo Primeiro Ministro presi-                                                   cessão, que se iniciaram em
         diu, ele próprio, à assinatura do                                                Janeiro de 2006, foram-se
         acordo com a União Europeia                                                      arrastando num impasse, já
         sobre o GALILEO e que está a                                                     que o consórcio único se re-
         investir cerca de 18 milhões de                                                  cusava a assumir a parte que
         Euros neste projecto).                                                           lhe competiria dos riscos des-
                                                                                          te programa, nomeadamen-
         PORTUGAL E O GALILEO                                                             te riscos de mercado (riscos
           Portugal, como membro da                                                       que pretendem cobrir a pos-
         União Europeia e da Agência   Primeiro satélite de teste do GALILEO (GIOVE-A).   sibilidade de o GALILEO não
         Espacial Europeia, contribuiu                                                    vir a ter a aceitação comercial
         para a fase de desenvolvimento do GALILEO  seria um projecto eminentemente comercial,  que se antecipa) e riscos de design (riscos
         com um total de 18,32 milhões de Euros, dos  cuja operação competiria a um concessioná-  que pretendem cobrir a responsabilidade fi-
         quais 9,94 através da União Europeia e 8,38  rio privado que arrecadaria as receitas dos uti-  nanceira decorrente de erros de projecto da
         através da Agência Espacial Europeia. Esta  lizadores pagantes do sistema.  constelação de satélites que possam obrigar
         contribuição correspondeu a cerca de 1,2%   Para esse efeito, a Comissão Europeia lan-  a re-projectar o sistema e/ou a lançar novos
         do investimento total na fase de desenvolvi-  çou, em 15 de Outubro de 2003, um mega-  satélites). Naturalmente, o facto de os norte-
         mento, que é de 1,6 mil milhões de Euros. Im-  -concurso para seleccionar o futuro con-  -americanos disponibilizarem o sistema GPS
         porta referir que nesta fase, os principais con-  cessionário do GALILEO. Nessa fase de  de forma gratuita coloca um grande ponto de
         tribuintes para o projecto GALILEO têm sido a  concurso, surgiram 4 consórcios interessados  interrogação sobre o número de utilizadores
         Alemanha (com 19,1% do to-                                                       que quererão, no futuro, pagar
         tal), o Reino Unido (com uma                                                     pela utilização do GALILEO,
         fatia de 16,7%), a França (com                                                   levando o consórcio de em-
         16,4%), a Itália (com 15%) e a                                                   presas candidatas à concessão
         Espanha (com 8,7%).                                                              do GALILEO a querer passar
           Em função do valor da con-                                                     para o sector público os riscos
         tribuição, assim cada país tem                                                   de mercado.
         direito a contratos de valor                                                       Além disso, e tanto quanto
         proporcional, pelo que o GA-                                                     foi possível perceber, o con-
         LILEO está a ser posto de pé                                                     sórcio único nunca funcio-
         maioritariamente por firmas                                                      nou de forma homogénea. É
         dos cinco países acima dis-                                                      disso exemplo, o facto de as
         criminados. Além disso, esses                                                    8 companhias integrantes do
         paí ses também repartiram en-                                                    consórcio nunca terem con-
         tre si as principais infra-estru-                                                seguido designar um CEO que
         turas terrestres do GALILEO.                                                     as representasse nas rondas
           Quanto a Portugal, não se                                                      negociais, o que dificultava
         pode dizer que não esteja a                                                      as negociações. Acresce que
         aproveitar as oportunidades   Um dos serviços a implementar no GALILEO será dedicado à busca e salvamento.  as várias empresas integrantes
         proporcionadas por este pro-                                                     mantiveram uma guerra surda
         grama. A nossa indústria espacial nascente,  em tornarem-se concessionários do GALILEO.  sobre a distribuição geográfica das infra-estru-
         constituída por diversas empresas, maiori-  Houve uma primeira selecção em que foram  turas e respectiva partilha de trabalho, sendo
         tariamente de software, tem conseguido ga-  excluídos dois dos concorrentes e, após lon-  que essas disputas eram apoiadas pelos Esta-
         nhar alguns contratos, que totalizam cerca de  gas negociações, os outros dois consórcios  dos Membros, que apoiavam de forma velada
         15,485 milhões de Euros. Isso significa que –  acabaram por se juntar, em Maio de 2005,  as suas empresas, não sendo despiciendo o
         descontando custos internos da Agência Es-  havendo suspeitas de que essa junção tenha  facto de a maior parte dessas empresas pos-
         pacial Europeia, custos de lançamentos e ou-  sido patrocinada pela Galileo Joint Under-  suírem forte participação de capitais públicos.
         tros – a indústria portuguesa está a conseguir  taking, que foi a estrutura criada pela Comis-  Percebem-se, portanto, todas as dificuldades
         um retorno industrial da ordem dos 108%, o  são Europeia e pela Agência Espacial Europeia  na negociação do contrato de concessão.

         16  MARÇO 2008 U REVISTA DA ARMADA
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