Page 27 - Revista da Armada
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d. O desaterro da designada caldeirinha. e Greenwich, onde o Cutty Sark, famoso tando o rio muito afastado, a caldeirinha

e. A substituição dos revestimentos do clipper do chá e que também foi português perdeu as suas características históricas,

pavimento e a (re)plantação de diversas es- com o nome Ferreira, ocupa uma doca seca. deixando de ser uma doca para passar a

pécies arbóreas;                                                                             ser um pequeno lago.

f. A cedência à Marinha,                                                                     Este processo de recupe-

para sua utilização exclusiva,                                                               ração do dique chamou-me a

do parque de estacionamento                                                                  atenção para um outro edifício

localizado no largo do Corpo                                                                 que foi, igualmente, sacrifi-

Santo.                                                                                       cado pelo mesmo camartelo.

Apesar da Marinha perder                                                                     Refiro-me ao Observatório As-

a sua independência na área                                                                  tronómico da Marinha, extinto

em causa, em parte compensa-                                                                 em 1874 e cuja história contei

da pela cedência do parque de                                                                numa obra, com este título,

estacionamento do Largo do                                                                   publicada em 2009. Nesse ob-

Corpo Santo, considero que as                                                                servatório, que se encontrava

soluções encontradas, no âm-                                                                 nas proximidades do dique,

bito museológico, são extrema-                                                               existia um balão, enfiado num

mente benéficas, não só para a                                                               mastro, que caía diariamente

Marinha como para a cidade       O Edifício do Observatório.                                 às 13 horas, tendo em vista a
de Lisboa. As carreiras vão fa-
zer relembrar o local onde se    “Plano Hidrográfico desde o Cabo da Roca até Sesimbra. Direcção Geral comparação [regulação] dos
                                 dos Trabalhos Geodesicos do Reino”, 1882.                   cronómetros de bordo, dos na-

construíram os navios que des-                                                               vios que se encontravam fun-

cobriram o Mundo. Desentulhar o dique          A recuperação da caldeirinha, que exis- deados nas proximidades.

é, também, uma medida que nos encanta, tiu junto à Casa da Balança, é também uma             Assim, se o edifício do observatório não

mas que teria maior impacte se nele fos- solução meritória, por saudosismo. De fac- merece ser refeito, o balão, pela importân-

se colocada a fragata D. Fernando e Glória, to, nos velhos tempos, os oficiais fardavam- cia que teve para a segurança da navega-

emendando o erro que cometemos largos -se nos vestiários, existentes no edifício da ção, era importante que fosse relembrado.

anos atrás. Aliás aquela fragata esteve por Casa da Balança, e iam e regressavam dos Para o efeito devia possuir um dispositivo

quatro vezes no dique, em 1881, 1887,1890 navios, fundeados no Quadro dos Navios que o fizesse cair, diariamente às 13 horas.

e 1909. Esta seria a quinta e, desta vez, não de Guerra, em embarcações que atracavam Seria a História lembrada por um monu-

para ser reparada, mas para mostrar a fi- na caldeirinha.                                    mento com vida.

nalidade do Dique, que – vazio – passa            Todavia, a este respeito, tenho notícia                     A. Estácio dos Reis
despercebida, para a maioria dos mortais.      de uma carta dirigida por Cardoso Tava-                                          CMG
Aliás, outros navios históricos são, ac-       res, à Câmara Municipal de Lisboa, cha-

tualmente, atractivo em várias cidades,        mando a atenção para o facto de, no fim       Notas:
tais como Portsmouth, onde está a Vic-         dos anos 40, ter assistido ao derrubar da
tory de Nelson, Hamburgo, que exibe a          muralha Sul da caldeirinha e esta ter sido       1 “E, afinal, falam”, Revista da Armada, nº 208, Mar

Rickmer Rickmers, que foi a nossa Sagres, aterrada. Além disso, lembrava que, es-            1989.

                                                                                             2 Revista da Armada nº 358, Novembro de 2002.

50º ANIVERSÁRIO DO INÍCIO DA GUERRA EM ÁFRICA
No passado dia 15 de Março, sob a
          presidência de Sua Excelência o      uma intervenção alusiva ao evento e assistiu    os que, pela sua acção na defesa de Portugal,
          Senhor Presidente da República                                                       sofreram no corpo e na alma o preço do dever
Professor Doutor Aníbal Cavaco Silva,          ao desfile do batalhão  representativo          cumprido. São merecedores de todo o nosso
decorreu junto ao Forte do Bom Sucesso                                                         profundo respeito. Saudamos com especial
em Pedrouços, Lisboa, uma cerimónia            dos três ramos das Forças Armadas, que          apreço, pelo muito que lhes devemos, os
evocativa dos 50 anos do início da guerra                                                      militares de etnia africana que, de forma
do Ultramar.                                   prestou as honras militares.                    valorosa, lutaram ao nosso lado. Todos,
                                                                                               combatentes por Portugal!...”.
    Esta cerimónia, uma iniciativa da Liga        Na sua alocução o Senhor Presidente
dos Combatentes, inseriu-se no programa        da República afirmou que “…Para lá da               No final o Presidente da República
de “… partilha de memória e homenagem          memória, impõe-se o reconhecimento de todos     visitou uma exposição fotográfica sobre
a todos os vivos, mortos e vítimas envolvidas                                                  a Guerra em África e percorreu o interior
no conflito…”, foi precedida de uma missa                                                      da fortaleza onde se encontra o Museu
celebrada pelo bispo das Forças Armadas                                                        do Combatente.
e da Segurança, D. Januário Torgal
Ferreira, no Mosteiro dos Jerónimos.                                                               O programa destas comemorações
                                                                                               encerrou com uma conferência com
    Nesta Homenagem ao Combatente, e                                                           a participação do antigo ministro do
acompanhado por várias entidades civis                                                       Ultramar, Professor Adriano Moreira e do
e militares, o Presidente da República                                                       general António Gonçalves Ribeiro, que
descerrou uma placa comemorativa das                                                         após o 25 de Abril 1974 foi responsável
cerimónias no muro exterior do Forte do                                                      pelos desalojados das antigas colónias, na
Bom Sucesso, colocou uma coroa de flores                                                     Sociedade de Geografia de Lisboa.
no Monumento ao Combatente, proferiu
                                                                                                                     Colaboração do EMA

                                                                                             27REVISTA DA ARMADA • MAIO 2011
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