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bem as políticas, os governos e tácticas das “Memória” e “Infante D. Sebastião”). lha naval do Cabo de São Vicente que, de
Marinhas de Portugal e do Brasil. O ressentimento nos portugueses deste 3 a 5 de Julho de 1833, determinará a sorte
Às 14.00 horas de dia 11 de Julho de acto marítimo foi grande. Foi principalmen- da guerra civil em Portugal.
1831, a esquadra francesa de 14 Navios te para o Governo de Dom Miguel, e foi Para a Marinha francesa, depois do su-
(6 naus, 3 Fragatas, 2 Corvetas, e 3 Bri- também uma página triste nossa história di- cesso da Batalha de Navarino em 182710,
gues), liderada por Roussin, embarcado plomática. O potencial marítimo português e quase um ano após a tomada de Argel
no “Suffren”, dispondo de 796 modernas viu-se consideravelmente enfraquecido e pelo Almirante Duperré, o episódio naval
bocas-de-fogo, apresenta-se, em duas co- foi visto como ultrajante pelo Portugal Mi- do «Forçamento do Tejo» foi, um feito de
lunas paralelas, no enfiamento da Barra guelista, não deixando de ter um impacte armas naval. A Monarquia de Julho podia
Sul, aproando à entrada do Tejo, entre importante na guerra civil portuguesa, que gozar uma vitória política e diplomática
os fortes se São Lourenço do Bugio na cena europeia e contribuir, de
e de São Julião da Barra. As naus maneira positiva, para o restabeleci-
francesas navegavam de bombor- mento de um regime constitucional
do, as fragatas, corvetas e brigues, em Portugal. Em reconhecimento
de estibordo. O efeito de surpresa pelos serviços prestados o Contra-
foi grande, a Barra do Tejo, armada -Almirante Roussin foi promovido,
de 370 canhões e reputada como por Decreto-Real; ao posto de Vice-
uma das mais bem defendidas do -Almirante, da Armada Francesa,
mundo foi transposta, em menos em 26 de Julho de 1831.
de uma hora, por entre forte fogo de O eco político do acontecimen-
artilharia. Dos dois lados, as perdas to acabou por determinar a sua
foram mínimas. As fortalezas por- importância iconográfica, daí as
tuguesas, sentinelas do Tejo foram várias gravuras desenhadas por
pouco atingidas. A frota francesa, importantes pintores de Marinha
manobrando com destreza e ajuda- L´Expédition du Tage, 1831, Franceses da primeira metade do
da por ventos fortes, passou sem ne- Pierre-Julien Gilbert, desenhador, Rouargue, gravador. (Col. do Autor). século XIX que trataram por di-
nhum dano significativo. Essa cena versas vezes, espaçadas no tempo,
foi representada, em 1841, pelo Pin- este tema histórico. O episódio da
tor Naval Auguste Mayer, usando «Investida do Tejo», embora mal
uma técnica quase miniaturista num contextualizado na continuidade
dos seus quadros consagrados a esta das campanhas marítimas e mili-
acção naval, no qual se avistam os tares francesas no Norte de África,
navios franceses, de proa, fazendo foi, dessa forma, também objecto
fogo em simultâneo sobre o Forte de de pintura. A preferência do Rei
São Julião e sobre a Torre do Bugio. Louis-Philippe recaiu em três artis-
Junto da Torre de Belém, baluarte tas franceses de renome, o celebre
simbólico da entrada do Porto de Lis- pintor de história, de retratos e de
boa, o Almirante Roussin dá ordem batalhas Horace Vernet e os pin-
de “alto fogo” para poupar a emble- La flotte française Force le Tage en 1831. tores de temas da marinha, Pierre-
mática fortificação histórica, que arria Pierre-Julien Gilbert, desenhador, Chavane, gravador. -Julien Gilbert e Auguste-Etienne
a bandeira em sinal de rendição, cena Mayer. O tema é alvo de uma pe-
representada, no segundo quadro quena encomenda de pinturas. De
de Mayer. Às 16.00 horas, os navios facto, ao avaliarmos as cerca de
franceses fundeiam, junto à Cordoa- 3.000 telas que evocam os momen-
ria Real de Lisboa, apontando as pe- tos épicos da história da França e
ças aos Palácios Reais e para parte da realizadas especificamente para
esquadra de Dom Miguel fundeada o novo Museu do Palácio de Ver-
diante de Cacilhas (1 nau, 3 fragatas, salhes, inaugurado em Junho de
3 corvetas e 2 brigues). Os Portugue- 1837, durante a Monarquia de Ju-
ses, surpreendidos com alguns navios lho, o tema é pouco representado.
em estado incompleto de armamento A constituição desse acervo deve-
foram-se rendendo. Às 17.00 horas, a -se ao apoio extraordinário conce-
rendição estava consumada. Dia 14 de dido por Louis-Philippe à escola
Julho de 1831, uma convenção proto- de pintura de marinha em França,
colar era assinada a bordo do “Suffren”, nomeadamente através da criação
por imposição dos franceses. Para La flotte française force l´Entrée du Tage, le 11 Juillet 1831. de um Corpo de Pintores Oficiais
obter plena reparação8 de danos, a es- Horace Vernet, desenhador - Skelton, gravador (Col. do Autor). da Marinha, em 1830.
quadra francesa permanecerá em Lisboa até como sabemos, teve uma componente na- Existe ao todo uma série de cinco qua-
meados de Agosto de 1831. E toma em sua val decisiva. Permitiu um maior domínio dros muito idênticos conservados quer em
posse, até Brest, como “compensação” ou dos mares pelas tropas liberais, antecipan- Versalhes, quer em Dijon e consagrados a
“reparação de guerra”, a um Portugal “gas- do um primeiro desembarque na Ilha de dois momentos muito precisos do “For-
to” e “empobrecido” com as Guerras Penin- em São Miguel, nos Açores, em Junho de çamento do Tejo”: o combate na zona do
sulares e com as Guerras Civis, 9 navios da 1831 e manteve parte da costa situada a Bugio e de São Julião da Barra, e o combate
Armada Miguelista9 (3 fragatas: “Pérola”, norte Cidade do Porto acessível por mar. na área da Torre de Belém e respectiva ren-
“Amazona” e “Diana”; 2 corvetas: “Leal- Mais ainda, teve no longo prazo uma dição. Em Versalhes, no Museu Histórico
dade” e “D. João 1”; 3 brigues “D. Pedro”; grande importância no desfecho da Bata- do Palácio, encontram-se bem conservados
24 MAIO 2011 • REVISTA DA ARMADA