Page 25 - Revista da Armada
P. 25

três quadros da esquadra francesa trans-     Horace Vernet (1789-1863), neto do grande           «Investida do Tejo». Albin-Reine, Baron
pondo a Barra do Tejo e depois oferecendo    pintor de marinhas Claude-Joseph Vernet,            Roussin: Almirante em 1840, Ministro-
combate em Lisboa. Cronologicamente,         e um dos principais artistas associados à           -Secretário de Estado da Marinha e das
Pierre-Julien Gilbert (1783-1860), pintor e  criação do Museu Histórico de Versalhes.            Colónias em 1840 e em 1843, pintado por
desenhador de talento, professor de dese-    A tela adopta uma perspectiva insólita: o           Charles-Philippe Larivière (1798-1876).
nho na Escola Real da Marinha de Brest,      Almirante Roussin dando ordens no con-              A tela, pintada em 1841 e também eleita
assina, em 1834, as primeiras duas grandes                                                       para figurar no Museu Histórico de Ver-
telas pintadas em honra do “Forçamento                                                           salhes, representa o Almirante de pé, no
do Tejo”. Nos dois quadros a óleo de di-                                                         “Suffren”, trajando com farda de gala,
mensões médias11, conservados em Ver-                                                            segurando um óculo na mão esquerda.
salhes, o “drama” da cena, o pormenor e                                                          Nas suas costas, avista-se a Torre de Be-
o estilo realista dos vasos de guerra bem                                                        lém, lembrando a sua “Grande Acção”
como o jogo de cores e de contrastes, cor-                                                       naval no comando da expedição maríti-
respondem bem às exigências de uma pin-                                                          ma em Lisboa, em Julho de 1831.
tura “oficial», muito apreciada na época e
que procura sobretudo empolar a grande-                                                              Já no século XX, continuamos a depa-
za dos “feitos históricos”. Na década de                                                         rar-nos com várias publicações francesas
1840, Auguste - Etienne Mayer (1805-1890)                                                        com referências iconográficas ao “Força-
realiza várias cópias dos quadros de Gil-                                                        mento do Tejo”. Para terminar, citaremos
bert, dedicados ao mesmo acontecimento.                                                          alguns trabalhos artísticos interessantes:
Por volta de 1841, compõe uma reprodu-                                                           como os do ilustrador e pintor Alfred Pa-
ção para Versailles e anos mais tarde, por                                                       ris (activo entre cerca de 1880 e de 1900)
volta de 1845, pinta outros dois quadros                                                         ou mais perto de nós, do pintor de ma-
ligeiramente diferentes, e de maiores di-                                                        rinhas Alain Coz, nascido em 1951 que
mensões12, sobre os mesmos temas, para                                                           serve também de ilustração para a capa
a colecção do próprio Almirante Roussin.                                                         dum livro recente sobre a história dos
Aliás, são essas duas últimas telas que se                                                       marinheiros franceses, escrito pelo Con-
encontram hoje nas colecções do Musée                                                            tra-almirante Hubert Granier.
des Beaux-Arts de Dijon.
                                             Baron de Roussin, Amiral de France (1781-1854)                                    Dr. Paulo Santos
   É de facto notável uma clara correspon-   Philippe Larrivière - Château et Musée de Ver-      Notas:
dência de temas e de estilos entre as pin-   sailles, Photo © Gérad Blot, Copyright Notice, ©
turas de Gilbert e Mayer, o que não é sur-   Direction des Musées de France, 1986.                  1 A expressão utilizada em francês, relativamente ao
preendente quando sabemos que Mayer                                                              acontecimento é: «Le Forcement des Passes du Tage»,
foi aluno de Gilbert, a quem sucedeu no      Forcement du Tage, par l´Amiral Roussin en 1831,    que traduzimos neste artigo, por «A Acção do Tejo».
ensino da Cadeira de Desenho, na escola      devant la Tour de Belém. Alain Coz, Pintura a
de Brest. No entanto, sobressaem alguns      Oleo (Capa do Livro «Histoire des Marins Français,      2 Rei de França Louis-Phillipe 1º (1773-1850). Rei-
pormenores que diferenciam essas obras.      1815-1870» do Contra-Almirante Henri Granier)       nou de 1830 a 1848.
No quadro de Mayer que trata do comba-       (Reproduzido com a autorização do Artista).
te em Belém, a Torre é representada com      vés do seu navio-almirante, o “Suffren”, à              3 Dona Maria da Gloria, encontrava-se refugiada no
uma das bandeiras arriadas, e é patente      vista da entrada de Lisboa, num momen-              Palácio de Meudon, perto de Versalhes, residência dis-
o uso do código de sinais como meio de       to desta acção. A tela foi colocada na Sala         ponibilizada pelo Rei Louis-Philippe.
comunicação entre os navios franceses. A     de Constantine, totalmente decorada du-
versão do quadro de Mayer dedicada ao        rante três anos por Horace Vernet. Existe               4 Os “Pedristas” constituíam um corpo expedicioná-
combate na altura do Bugio e de São Julião   uma gravura de metal, de excelente qua-             rio formado por emigrantes políticos, soldados, oficiais
da Barra, e que se encontra em Versalhes,    lidade, aberta pelo artista inglês Joseph           e mercenários portugueses e estrangeiros (cerca de mil
é quase em tudo idêntica à de Gilbert, sen-  Skelton, a partir do quadro de Horace               portugueses concentrados primeiro em Plymouth e
do contudo de maior dimensão13. Nessa        Vernet. Noutro salão do Palácio de Ver-             depois estacionados em França, nos campos de Laval,
obra, o Bugio figura em primeiro plano,      salhes, figura o retrato oficial do herói da        Mayenne e Fougères a Norte e a Leste de Rennes, co-
do lado direito da tela, com as bocas-de-                                                        mandados pelo General Saldanha, e aos quais se junta-
-fogo representadas a alvejar os navios da                                                       ram 300 mercenários ingleses e 600 franceses).
esquadra francesa. Já na versão pintada
para a colecção do Almirante Roussin14, a                                                            5 Em Junho, Julho e Agosto de 1831, Dom Pedro vi-
perspectiva do Bugio é significativamente                                                        sita sucessivamente Paris e Londres, duas capitais que
diferente, avistando-se a estibordo, não                                                         apoiam a sua causa. Em Belle-Isle en Mer, de fins de
em primeiro plano do quadro, mas a uma                                                           1831 e até Fevereiro de 1832, Dom Pedro (Pedro IV de
distância maior. Nessa versão toda a frota                                                       Portugal) manda transformar em vasos de guerra, vários
francesa ainda não transpôs a fortificação,                                                      navios mercantes comprados em Inglaterra.
sendo muito mais explícito o dispositivo de
ataque em duas colunas paralelas, adopta-                                                            6 Autor de «Notes sur les Provinces du Brésil»
do pelos navios franceses. Foi editada uma                                                       e de «Pilote du Brésil ou Description des Côtes de
gravura, a partir dessa tela, e outra com                                                        l´Amérique Méridionale», publicado em 1826. A esta-
maior liberdade artística, ambas assinadas                                                       ção naval francesa foi estabelecida em 1822 no Brasil
por Gilbert.                                                                                     pelo Contra-Amirante Roussin, na sequência da inde-
                                                                                                 pendência do País.
   Por entre os principais quadros a óleo
que retratam a acção naval de Lisboa figura                                                          7 Depois com o título de Dom Pedro IV de Portugal.
igualmente uma obra pintada em 1838 por                                                             8 O Tratado de 14 de Julho de 1831 estipula que o
                                                                                                 governo português será obrigado a libertar todos os fran-
                                                                                                 ceses presos por delitos políticos em Portugal, decretar a
                                                                                                 nulidade das sentenças e destituir os seus juízes. Deverá
                                                                                                 ainda pagar cerca de 754.00 francos da época para li-
                                                                                                 quidar o saldo da dívida e reembolsar as «despesas da
                                                                                                 expedição militar” bem como as indemnizações pagas a
                                                                                                 comerciantes franceses por prejuízos sofridos.
                                                                                                    9 Quatro navios portugueses foram vendidos em hasta
                                                                                                 pública, em França, para ajudar a pagar as reparações de
                                                                                                 guerra. Uma corveta, um brigue e uma charrua, foram
                                                                                                 devolvidos à Armada Portuguesa em 1834 e em 1838.
                                                                                                    10 Batalha naval travada ao largo da Grécia, no
                                                                                                 contexto da luta pela libertação do País, na qual a fro-
                                                                                                 ta duma coligação Inglesa, Francesa e Russa derrotou a
                                                                                                 Marinha Otomana.
                                                                                                     11 Altura: 52 cm, Largura: 80 cm.
                                                                                                     12 Altura: 94 cm, Largura: 119 cm.
                                                                                                     13 Idem.
                                                                                                     14 Altura: 103 cm, Largura: 162 cm.

                                                                                                 25REVISTA DA ARMADA • MAIO 2011
   20   21   22   23   24   25   26   27   28   29   30