Page 17 - Revista da Armada
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PATRONO DO NOVO CURSO DA ESCOLA NAVAL
CONTRA-ALMIRANTE
JOAQUIM DE ALMEIDA HENRIQUES
Nascido a 28 de Maio de 1875, em Leiria,
ingressou na Escola Naval em Novem- dade sublevada de menor valor, se nenhuma Arquivo Histórico da Marinha mais elevado nessa área, o de Director do Servi-
bro de 1893, como aspirante de mari- das ameaças tivesse resultado. A ordem não foi ço de Submersíveis, onde se manteve até Março
nha de 2ª classe, e foi promovido a guarda–ma- cumprida pois o comandante do “Espadarte”, de 1933, quando ocorreu a sua promoção a ca-
rinha em Outubro de 1895. Após a promoção a dotado de profundo espírito humanitário e de pitão–de-mar-e-guerra.
2º tenente, em Junho de 1898, esteve embarcado justiça aliado à solidariedade com a instituição
em unidades navais em serviço na costa de An- que dedicadamente servia, não quis cobrir o na- Os seus profundos conhecimentos sobre a
gola e nos mares do Continente. vio com o sangue dos seus camaradas de armas. arma submarina foram mais uma vez compro-
vados quando, em Maio, ficou encarregue da
No ano de 1907, na Escola de Torpedos e Face aos excelentes resultados obtidos pelo fiscalização de submersíveis a construir em In-
Electricidade, de Vale de Zebro, especializou-se “Espadarte”, em finais de 1915 o Governo Portu- glaterra (“Delfim”, “Espadarte II” e “Golfinho
em oficial torpedeiro e logo em Março do ano se- guês encomendou em Itália mais três submersí- II” que iriam constituir a II Esquadrilha) e em
guinte destacou para o cruzador “Adamastor”, veis: o“Foca”, o “Golfinho” e o “Hidra”, que lar- acumulação, a partir de Agosto, com o cargo de
que em Julho e Agosto permaneceu em Timor, garam do porto de La Spézia em Dezembro de Chefe da Missão dos Avisos de 1ª classe, igual-
tendo ficado a seguir atribuído à Divisão Naval mente em construção naquele país.
do Índico. Promovido a 1º tenente, em Setem- 1917. Em plena GrandeGuerra eapóscruzarem
bro de 1908, assumiu o cargo de oficial imediato o Mediterrâneo, enfrentando fortes intempéries, Com a chegada dos novos submersíveis
do cruzador, que regressou a Lisboa em Julho em zonas infestadas por submarinos inimigos a Lisboa, em inícios de 1935, terminou para o
de 1909. Em Janeiro de 1910 foi nomeado para tendo até presenciado o torpedeamento de na- Comandante Almeida Henriques o seu ines-
uma comissão encarregue de efectuar a revisão vios mercantes nas suas proximidades, chega- timável contributo para a integração dos sub-
do Regulamento da Administração da Fazenda ram a salvo a Lisboa em Fevereiro de 1918. Co- mersíveis na Marinha Portuguesa, sendo no-
Naval. Foi a primeira das muitas comissões de mandava então o “Golfinho” o capitão-tenente tável a divulgação que fez da importância e da
que fez parte ao longo da sua carreira. De salien- Almeida Henriques (tinha sido promovido em necessidade dos submersíveis, especialmente
tar que em Novembro de 1910 integrou um gru- Outubro), que passou a comandar a Esquadri- através de uma muito vasta colaboração nos
po de trabalho para propor a Reorganização da lha de Submersíveis, constituída pelo “Espadar- Anais do Clube Militar Naval, iniciada em
Armada, facto que demonstra que o seu mérito te” a que se juntaram as três novas unidades. Em 1915 com o artigo “Navegação Submarina”,
era igualmente reconhecido pelo recém implan- 1918 ficou concluída a Estação de Submersíveis, tema da maioria dos seus trabalhos que foram
tado regime republicano. instalada na Doca de Belém, em cujo projecto publicadosaolongodetrêsdécadas. Foi igual-
tinha participado, assim como o Regulamento mente responsável nos Anais, de 1927 a 1933,
Entretanto, o submersível surgiu como um da Esquadrilha de Submersíveis da sua autoria. pela secção “Crónica naval - Submarinos” e
novo meio operacional, pelo que um navio des- recebeu o “Prémio Almirante Augusto Osó-
te tipo tinha sido encomendado, em Junho de Por Decreto de Janeiro de 1920 foi agracia- rio” em 1937, por escritos da sua autoria na
1910, pelo Comandante João Coutinho, Minis- do com o grau de oficial da Ordem da Torre e Revista Militar.
tro da Marinha, numa ocasião em que esta arma Espada, “atendendo aos relevantes serviços
ainda não estava suficientemente provada. prestados durante o Estado de Guerra como Exerceu depois cargos superiores de Di-
Comandante de Esquadrilha de Submersíveis e recção e Administração. Assim, foi Director
Os submersíveis ficariam indelevelmente Comandante do ”Golfinho”. e 1º Comandante da Escola Naval durante o
associados à carreira do Tenente Almeida Hen- primeiro semestre de 1936, contribuindo com o
riques que, em 1912, seguiu para Itália a fim de Promovido a capitão-de-fragata em Abril seu elevado sentido de organização para o êxi-
acompanhar a construção e o aprontamento de 1920, deixou nesse mês o comando do “Gol- to da transferência da Escola para o Alfeite, que
daquele que seria o seu primeiro comando, o finho” e, em Maio de 1922, o da Esquadrilha. se efectuou em Outubro desse ano, conforme
submersível “Espadarte”. No dia 15 de Abril planeado. Desde sempre ligado às actividades
de 1913 realizou-se a entrega formal do “Espa- Após um período de dois anos, em que foi desportivas, foi também Director da Educação
darte”, que largou de La Spézia a 4 de Maio e sucessivamente Capitão do Porto da Nazaré Física da Armada.
depois de uma muito atribulada viagem em e prestou serviço nas Repartições dos Serviços
que percorreu 1.400 milhas, sem escolta, sofren- Marítimos e da Marinha Mercante, regressou Após a sua promoção a contra-almirante,
do longos períodos de mau tempo e sucessivas aos submersíveis para desempenhar o cargo em Maio de 1937, foi sucessivamente Sub-
avarias, obrigando-o a arribar a vários portos, -chefe e Chefe do Estado-Maior Naval e Su-
demandou o porto de Lisboa em 5 de Agosto perintendente dos Serviços da Armada.
de 1913. Foi então louvado “pelo zelo e profici-
ência com que se houve no período de prom- A presidência do Supremo Tribunal da
pdificação e experiências no Espadarte e pelo Marinha, exercida de 1938 a 1940, ano em
denodado esforço e coragem como o conduziu que passou à situação de reserva, foi o último
de Spézia ao porto de Lisboa”. cargo da sua brilhante carreira naval.
Dotado de elevadas qualidades profissio- Além da Ordem da Torre e Espada, já
nais, são de destacar as de carácter, bem de- referida, foi igualmente agraciado com o
monstradas quando a 14 de Maio de 1915, em grau de Comendador da Ordem Militar de
Lisboa, travaram-se graves confrontos, lidera- Avis, com as medalhas da Ordem da Corôa
dos pela Marinha, com vista a provocar a queda de Itália, da Cruz de Guerra concedida pelo
do Governo do General Pimenta de Castro. Era Governo Italiano, a militar de prata de Bons
vontade de alguns membros desse Governo Serviços, de prata “ Rainha D. Amélia”, a
que o “Espadarte” intimidasse os marinheiros comemorativa do Exército Português com a
revoltosos enviando uma mensagem rádio para legenda “No mar 1916-17-18”, a da Vitória e
que se rendessem, caso necessário o submersí- a de ouro de Comportamento Exemplar.
vel mostrar-se-ia à esquadra e imergia com ins-
truções de, em última instância, atacar uma uni- O Contra–Almirante Joaquim de Almei-
da Henriques, “O pai dos submersíveis da
Marinha Portuguesa”, faleceu em Lisboa a
26 de Setembro de 1945.
17REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2011