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HIERARQUIA DA MARINHA 11
COMITRE
Osubstantivo comitre teve, pro- su juicio puédense alzar al almiral... Mas Oliveira, expressa na Arte da Guerra
vavelmente, a sua origem no estos comitres non deben seer puestos si- do Mar, “comitre he pronunciaçam
castelhano cómitre, que, por non por el rey mesmo ó por su mandado.” francesa, a qual os nossos tomarão de
sua vez, derivou do vocábulo catalão (Madrid, Lex Nova, 1989, Partida II, França com outras muytas, e quer di-
cómit, cuja génese se encontra no ter- Tit XXIV, Lei IV). zer companheyro do mestre, quasi o
mo latino comesitis, que significa com- que dizem nos nauios de vela contra-
panheiro. No entanto, há várias opiniões Em Portugal, e do nosso conheci- mestre, e he hu modo de composiçam
quanto à sua utilização no âmbito da mento, o termo comitre aparece refe- da lingua latina na qual esta parte com
hierarquia naval. renciado pela primeira vez na Crónica sinifica companhia e ajuntamento”,
Geral de Espanha, de 1344, escrita por acrescentando que os genoveses “cha-
O Diccionario Enciclopédico de Gaspar Pedro Afonso, conde de Barcelos. mam comito ao que os nosso antigos
e Roig (ed. 1870, Madrid, Real Acade- Nesta obra, o autor, na linha de Afon- chamauam comitre, e quer dizer com-
mia Española, 2001), em síntese refe- so X, refere “...e como estavam pres- panheyro, tirado de comite palaura
re que, em Espanha, o termo comitre tes de vyandas e do que mester avyã, latina, e tem a mesma significaçam de
era utilizado para designar o oficial pos hy almirantes e comitres e outros comitre porque como dixe he cõmap-
que dirigia a manobra e o castigo dos mareantes quaaes entendeu que com- nheyro do mestre ou patram” (1555,
remadores forçados nas galés, bem pryã e mãdoulhes que o fossem spe- Lisboa, Edições Culturais da Marinha,
como o capitão-do-mar que coman- rar em Espanha e que aportassem em 1983, p.72).
dava o navio onde embarcava o al- Cartagenya...”(edição crítica de Lin-
mirante da esquadra, o comandante dley Cintra, Lisboa, Academia Por- A partir da análise conjugada dos
de qualquer navio de guerra e, até, os tuguesa de História, 1951-1961, Cap. três textos de autores nacionais, pare-
capitães de navios mercantes. LIX, p.91) ce razoável afirmar que, em Portugal,
embora o termo comitre possa ter sido
Porém, segundo Afonso X, o Sábio, Todavia, J. M. Silva Marques afir- inicialmente utilizado com o mesmo
o termo comitre era usado para desig- ma que, segundo documentação de 23 significado dado em Castela no século
nar o comandante das galés. No Livro de Junho de 1423, o vocábulo comitre XIII, não foi transposto para os navios
das Siete Partidas (1256-1265) refere aparece no meio de uma longa enume- de vela e manteve-se ligado ao oficial
que “... comitres son llamados otra mane- ração de postos “...e porem mandamos incumbido de superintender os rema-
ra de homes que son cabdiellos de mar so el aos patrõões alcaydes aRayzes e pínti- dores forçados das galés.
almirante; et asi como cada uno dellos ha tãães comitres e besteiros galeotes ma-
poder de acabdellar los de su navio, bien reantes marinheiros...“(Descobrimentos António Silva Ribeiro
puede otrosi librar las contiendas que aca- Portugueses, Vol I, Lisboa 1949, p. 263). CALM
escieren entrellos pero si non pagaren de
Na opinião do padre Fernando
VIGIA DA HISTÓRIA 38
VOZ CORRENTE
Évoz corrente terem os marinheiros Sol, o sargento da guarda, encarregado de que os embarcou.
uma mulher em cada porto, ora a levar para a fortaleza, verificou que ela Uma escolta, enviada de terra, enviada
, para além de serem mais as vo- não se encontrava na sua casa .
zes que as nozes, por vezes a realidade, para os capturar foi recebida a tiros de ar-
como sucedeu no episódio que seguida- Na manhã seguinte o Governador orde- tilharia pela Fluminense, regressando de
mente se relata, se encarrega de mostrar nou que uma escolta fosse a bordo da galera mãos a abanar .
que a hipótese inversa também poderá Lourenço Marques e da barca Fluminense
ser verdade. que estavam autorizadas a largar naquele Grandes encantos, ou posses, deveria
dia ambas com destino ao Rio de Janeiro . ter esta Maria da Glória para assim ter
A portuguesa Maria da Glória, por cri- conseguido seduzir aqueles homens.
me que não se conheceu, encontrava-se Pelas 1100, antes da hora prevista para
degradada, por toda a vida, em Lourenço a largada e da chegada da escolta, a galera O documento onde se recolheu esta
Marques . suspendeu e começou a navegar tendo, informação termina, em jeito de consola-
no entanto, encalhado logo de seguida. ção, com a afirmação de que as casas da
Tendo constado que a condenada pro- Verificou-se, aquando da descarga da ga- desterrada haviam sido vendidas, rever-
curava evadir-se num dos navios que se lera, que a Maria da Glória se encontrava tendo a receita, 330 pesos e meio, para a
encontravam naquele porto foi obrigada escondida no paiol da farinha conseguin- Fazenda Nacional.
a pernoitar, diariamente, na fortaleza da- do, juntamente com o capitão do navio,
quela cidade . fugir num escaler para fora da barra onde,
entretanto, se encontrava já a Fluminense
No dia 10 de Março de 1830, ao pôr do Com. E. Gomes
Fonte: Documentação Avulsa de Moçambique no
Arquivo Histórico Ultramarino vol. 2
22 DEZEMBRO 2011 • REVISTA DA ARMADA