Page 17 - Revista da Armada
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«Cartografia náutica – séculos XVI a XIX»
Exposição
Comemora-se este ano o quinto centená- de uma forma gráfica, nas chamadas «cartas- o processo de construção das cartas manteve
rio do nascimento de Gerard Mercator. -portulano». O esquema geral destas cartas a grelha de direções, caraterística das «cartas-
Para assinalar a efeméride, no quadro era sempre semelhante. Consistia numa gre- -portulano». Era no entanto necessário acres-
daAção Cultural da responsabilidade da Co- lha de direções, normalmente 32, que se con- centar o novo elemento que se obtinha por
missão Cultural de Marinha (CCM) foi pla- tavam a partir do Norte e que irradiavam a métodos astronómicos: a latitude. As cartas
neada, concebida e encontra-se em exibição, partir de vários pontos da carta, de forma a passaram a conter também uma escala de
no Museu de Marinha, uma exposição de car- cobrir toda a superfície desta. Além dessa latitudes, que permitia marcar esta coorde-
tografia. Subordinada ao tema «Cartografia grelha, existia ainda uma escala de distâncias, nada na carta.
náutica – séculos XVI a XIX», a exposição foi que era conhecida como «tronco das léguas».
inaugurada no dia 8 de março, na presença A planificação de uma superfície esféri-
do Almirante Chefe do Estado-Maior da Ar- O processo anterior servia perfeitamente ca tem sempre erros associados, sendo estes
mada. Acerimónia de abertura da exposição para o Mediterrâneo e para as navegações mais significativos no caso de se pretender
constituiu oportunidade para a concretização feitas junto a costa para o Norte da Europa. planificar uma superfície mais extensa. Cedo
de dois outros momentos de in- No entanto, quando os Portugueses se aven- se percebeu que a representação da superfície
cidência cultural: a apresentação turaram em viagens oceânicas este processo
pública de um vídeo promocio- revelou-se insuficiente.Anecessidade de pas- terrestre neste género de cartas
nal do património cultural da sar longos períodos ao largo, sem avistar ter- apresentava algumas limitações.
Marinha e dos órgãos mais di- ra, conduzia a uma acumulação de erros na Quem primeiro notou essas li-
retamente responsáveis por esse posição. Para minimizar esses erros, os Portu- mitações foram os cosmógrafos,
património e a incorporação do gueses desenvolveram técnicas de navegação nomeadamente Pedro Nunes.
modelo do primeiro navio-escola astronómica. Assim, nos finais do século XV Ao analisar matematicamente os
Sagres na exposição permanente começaram a ser usados a bordo processos problemas da navegação perce-
do Museu de Marinha. para determinar a latitude dos navios, nome- beu que as «cartas quadradas»
adamente pela observação da estrela Polar e como lhes chamava, não repre-
No vídeo, intitulado “Por uma da passagem meridiana do Sol. sentavam corretamente a super-
Cultura Marítima em Portugal – fície da Terra. Ele usava a expres-
AHerança e o Património”, rele- As cartas de navegar acompanharam a são «cartas quadradas» porque
va-se a importância do patrimó- evolução da Arte de Navegar e passaram a se considerava que nelas estava
nio cultural material e imaterial refletir as novas técnicas de navegação. O implícita a existência de uma gre-
da Marinha, através de um enfo- método de rumo e estima manteve-se a base lha de paralelos e de meridianos,
que nos diversos órgãos de natu- de condução da navegação. Por esse motivo, igualmente espaçados uns dos
reza cultural na dependência da outros, formando portanto qua-
CCM e respetivas missões. drados. Ora nesse tipo de cartas,
os meridianos eram representa-
No que respeita ao modelo da dos paralelos uns aos outros, en-
antiga Sagres, importa ter pre- quanto que na superfície terrestre
sente que, até à data, não existia eles convergem todos nos pólos.
no Museu de Marinha nenhum Depois de identificar os erros da
modelo dos navios-escola Sagres, carta, Nunes sugeriu formas de os
já que o modelo que tinha sido minimizar.As ideias de Nunes ti-
construído, na sequência de de- veram uma difusão significativa
cisão tomada em 1962, acabara pela Europa culta do seu tempo,
por ficar destruído no incêndio tendo influenciado outros cosmó-
que em 1969 afetou parte das grafos que se dedicavam ao estu-
instalações da Marinha no Ter- do dos problemas matemáticos
reiro do Paço. da navegação. Entre estes mere-
ce destaque Gemma Frisius, que
Para se entender melhor o viria a ser professor de Gerard
significado da exposição que foi Mercator. Este último sugeriu um
inaugurada, assim como a forma processo de eliminar os erros que Nunes tinha
como o seu conteúdo está organizado, im- identificado nas cartas quadradas. Assim, em
porta explicar, sucintamente, o modo como 1569 publicou um planisfério construído numa
evoluiu a Cartografia, no período coberto nova projeção que recebeu o seu nome e que
pela exposição. se tornou a projeção mais usada na náutica até
aos nossos dias.
Na Idade Média desenvolveu-se, no Me- Embora Mercator tenha desenhado um
diterrâneo, um método de navegação que mapa na projeção que recebeu o seu nome,
ficou conhecido entre os historiadores da não explicou como se calculava a mesma ma-
náutica como método de «rumo e estima». tematicamente. Foi necessário esperar até ao
Para a sua aplicação, os pilotos precisavam final do século para que a projeção de Merca-
de conhecer a direção e a distância entre os tor fosse explicada em termos matemáticos.
diferentes pontos. No mar, o piloto conhecia Esse papel foi desempenhado pelo inglês
a direção através da agulha de marear e esti- Edward Wright, que em 1599 publicou um
mava a distância percorrida, em função das texto dedicado à náutica, no qual ensinava a
condições meteorológicas. Esses dados cons- calcular a projeção.
tavam de textos, designados «portulanos».A REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 17
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