Page 13 - Revista da Armada
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cas. Por regra as Nações NATO estabelecem cidade letal exponenciada em virtude da Há também registo de casos de assédio se-
objectivos bastante ambiciosos no que res- evolução tecnológica. Surgem ainda uma xual e bullying. Uma liderança efectiva as-
peita ao produto final a atingir pela Aliança, série de “Ameaças Híbridas”6 de carácter sociada a um maior cuidado na escolha do
mas a tomada de contacto com os custos transnacional que, apesar de desenvolvidas elemento certo para cada função iria sem
que tal representa faz com que muitas das para lá das fronteiras físicas da Aliança, têm dúvida combater este problema.
metas traçadas não passem de projectos. consequências directas para a segurança
Apesar disso a NATO tem vindo a aumen- da NATO e dos seus Estados-membros, e Assim, neste início da segunda década
tar o número de operações que realiza, bem de que destacaríamos a pirataria, o tráfico do Séc. XXI, para além dos clássicos desa-
como o número de militares envolvidos. de armas e estupefacientes, o terrorismo, a fios e dos tradicionais obstáculos, a NATO,
No ano de 1993 a NATO não tinha milita- instabilidade política em certas regiões do enquanto organização de Estados sobera-
res sob a sua bandeira para lá dos limites globo e, evidentemente, a Cyber Warfare. nos, terá que:
territoriais dos Estados que a compõem. No A NATO procura também cada vez mais
final de 2011 a NATO tinha 145.000 milita- atingir uma interoperabilidade perfeita. Al- – Manter um processo contínuo de re-
res envolvidos em operações em territórios gumas das recentes intervenções demons- forma, modernização e transformação por
alheios à Aliança. Acrescente-se a este facto traram lacunas e fraquezas na capacida- forma a ir um passo sempre à frente da
um aspecto curioso, em 1993 a NATO dis- de de interoperabilidade intra-Aliança. A ameaç a. Mais do que nunca a transforma-
punha de 32 Quartéis-generais, e em 2011 NATO opera e combate em ambiente de co- ção acontece diária e globalmente com al-
este número estava reduzido a 12. O in- ligação. Ninguém hoje em dia opera ou vai teração constante dos tradicionais cenários;
vestimento financeiro de cada país na área sozinho para a guerra. Os Estados NATO te-
da Defesa (em valores percentuais do PIB) rão, pois, que estar confortáveis a trabalhar – Estar pronta para dar a resposta adequa-
está longe de ser homogéneo, da às novas “Ameaças Híbridas” (Hybrid
tendo recentemente vários Threats), que agora surgem;
políticos americanos mani-
festado o seu desagrado por – Estar confortável a combater e a operar
este desequilíbrio, uma vez em ambientes de coligação;
que indirectamente implica – Aumentar os níveis de
que os custos financeiros da interoperabilidade entre Es-
NATO não sejam suportados tados-membros;
de forma proporcional entre – Saber trabalhar em fren-
os seus membros. Não é pre- te aos media, transformando
visível que na presente con- este facto numa capacidade,
juntura económica os Esta- ao invés de uma limitação;
dos tenham capacidade de – Estar confortável a traba-
aumentar a sua contribuição lhar com organizações civis,
financeira para a Defesa em nomeadamente as Organiza-
geral e para a NATO em par- ções-não-Governamentais;
ticular; o que será expectável, – Procurar atingir um equi-
é que Estados que agora in- líbrio relativo, em termos de
vestem na Defesa valores da contribuições financeiras por
ordem, ou superiores, dos 2% parte dos Estados-membros;
do seu PIB, decidam reduzir Cenários de Operações NATO. – Melhorar a capacida-
de de liderança ao nível dos
o investimento. A NATO procura já solu- e a combater em ambiente de coligação, e postos mais baixos das forças
ções, e o conceito “Smart Defence”5 é um aqui, por paradoxal que possa parecer, um que se encontram no terreno;
dos principais pontos da agenda da próxima dos principais passos para uma coligação – E, por último, operacio-
Cimeira da Aliança, que terá lugar em Chi- é precisamente não tomar essa coligação
cago em Maio de 2012. Presentemente, a como garantida. Haverá sempre pontos di- nalizar o conceito Smart Defence.
ambição da NATO com o actual orçamento fíceis de integrar na coligação e interope-
é ter a capacidade de conduzir, em simultâ- rabilidade, pontos esses que certos Estados
neo, duas “major operations” e seis “sma não estão dispostos a partilhar, pelo que fi- Luís Nicholson Lavrador
ller operations”. Como exemplo de “major carão sempre a cargo de cada membro. A
operation” podemos referir a intervenção título de exemplo refira-se o Combat Search CFR
no Afeganistão, e como exemplo de “small and Rescue (CSAR). Notas
operation” a Operação Ocean Shield, reali- Outro ponto que tem trazido graves e ne-
zada ao largo da Somália, com o objectivo fastas consequências para a NATO enquan- 1 Parágrafo primeiro do Conceito Estratégico da
de combater a pirataria. to organização, prende-se com a capacida- Aliança Atlântica.
Como já acima sublinhado, e tendo como de (ou falta dela) de liderança, ao nível dos
referência os territórios dos Estados-mem- postos mais baixos. Nos cenários de hoje, 2 General Hastings Lionel Ismay, Secretário-Geral
bros, o mundo estará muito mais perigoso as decisões tomadas por um militar de pos- da NATO entre 1952 e 1957.
hoje do que há 63 anos. Apesar do risco de to inferior, como sendo cabo ou soldado,
um ataque convencional contra a NATO ser poderão ter implicações directas e imedia- 3 Parceria para a Paz (PfP) é um programa de coope-
muito baixo, há uma série de realidades que tas em toda a operação. Operar por longos ração bilateral entre a NATO e Estados amigos. Permi-
não poderão ser ignoradas. Proliferam os períodos em cenários urbanos, no meio de te que estes parceiros construam um relacionamento
países com capacidade de disparo de mis- populações civis, sob cobertura permanente individual com a NATO, escolhendo as suas próprias
seis balísticos, aumenta o número de paí- dos media, exige liderança firme e efecti- prioridades para a cooperação.
ses que estarão muito próximo de conseguir va. Para além de casos de avaliação errada
fabricar armas de destruição maciça, con- e precipitada, que levam a que a decisão 4 Sun Tzu n. China no ano 544 a.C.
tinua igualmente a aumentar o número de tomada não seja a mais adequada, já exis- 5 “I know that in an age of austerity, we cannot spend
grupos extremistas que executam ataques tiram também casos de violência física e more. But neither should we spend less. So the answer
terroristas, ataques estes com a sua capa- emprego de força excessiva contra civis. is to spend better. And to get better value for money. To
help nations to preserve capabilities and to deliver new
ones. This means we must prioritise, we must specialise,
and we must seek multinational solutions. Taken toge-
ther, this is what I call Smart Defence.” NATO Secretary
General Anders Fogh Rasmussen 30 September 2011.
6 A inerente diversidade de Ameaças Híbridas repre-
senta um problema para que se estabeleça uma só de-
finição. Presentemente a usada pela NATO é: “Ameaças
híbridas são aquelas representadas por adversários, que
disponham da capacidade de, simultaneamente, em-
pregar meios convencionais e não convencionais, que
possam ser adaptados em função dos seus objectivos”.
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 13