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necido pela Delegação das Novas Insta- Tendo sido definido que o Bergantim manutenção do acervo do Museu, englo-
lações para os Edifícios Públicos, Frederi- Real e a Galeota Grande deveriam ser bavam uma sala de desenho, as oficinas
co George no seu anteprojeto do Anexo expostos de forma individual para que de carpintaria, serralharia, forja, modela-
do Museu de Marinha, nunca olvidou não se projectassem sobre os outros dores e pintura, o depósito de materiais
que a disposição dos volumes e dos es- exemplares expostos, a criação de uma e demais dependências necessárias ao
paços arquitectónicos que constituiriam galeria central sobre-elevada facilitou a Mestre e ao fiel do armazém.
a composição geral, tinham de se integrar sua visualização, permitindo ao visitan-
no programa de urbanização para a zona te dispor de pontos de vista com a altura No anteprojeto foram remetidos para
marginal de Belém. de 5m sobre as peças expostas em baixo, uma segunda fase de obras, as ligações
Tendo em conta, a especificidade do facultando uma perspectiva superior quer da nave com edificações pré-existentes
recheio a ser albergado nas futuras ins- do Bergantim Real, quer do hidroavião ou a construir posteriormente como a ala
talações, o projecto foi concebido para exposto no espaço reservado à aviação poente do edifício anexo ao Mosteiro dos
decorrer em duas fases. A primeira en- naval. O esquema de circulação interior Jerónimos, o Centro de Estudos Henriqui-
globava a construção da Nave das Em- foi também alvo de preocupação, tendo nos e o Planetário Calouste Gulbenkian.
barcações e da Aviação (cerca de
4.666m2) bem como os Serviços e O projecto do arquitecto Frederico Ge-
instalações do Pessoal (1.508m2), orge para o Museu de Marinha
enquanto da segunda fase faziam está hoje salvaguardado em dois
parte o Centro de Estudos Henri- arquivos nacionais: o da extin-
quinos, a Galeria e o Planetário ta Direcção-Geral dos Edifícios e
(1056m2). Monumentos Nacionais (DGEMN)
Concebido em função de um e os da Fundação Calouste Gul-
conjunto edificado já existente – o benkian. Na primeira instituição
Mosteiro dos Jerónimos –, o Museu faz parte do espólio de Frederico
de Marinha articula-se em duas George, constituído por 1748 pas-
zonas arquitectonicamente dis- tas, 10584 desenhos e 24602 foto-
tintas: as alas anexas ao Mosteiro Planetário em construção. grafias, que constituiu a primeira
dos Jerónimos e os novos edifícios, colecção particular entregue à sua
construídos de modo a formarem guarda e, na segunda, está integra-
um “U” criando uma ampla praça. do no espólio do Arquitecto Luís
O Pavilhão das Galeotas, que Cristino da Silva.
constitui a peça mais importante Ambas as instituições permitem a
dos novos edifícios, foi pensado sua consulta - online e presencial
para albergar e expor oito embarca- no caso da ex-DGEMN e presen-
ções provenientes das instalações cial e na rede interna, no caso da
da Azinheira, bem como algumas Fundação Calouste Gulbenkian.
peças existentes na antiga Sala do “O Museu de Marinha é hoje um
Risco do antigo Arsenal da Ma- museu conhecido no país e no
rinha. Pretendia-se, ainda, expor estrangeiro graças ao nível de de-
numa zona destinada à aviação na- senvolvimento e qualidade alcan-
val o histórico aeroplano de Saca- çadas. Museu que se quer aberto,
dura Cabral e Gago Coutinho. dinâmico e vivo. O discurso da sua
Com uma planta singular e com- Conjunto do Museu de Marinha e Planetário. exposição permanente, ao estabe-
lecer uma filiação entre o passado
plexa, que constituía um verdadeiro e o presente, pretende deste modo
desafio a nível técnico e arquitectó- ser um passo mais no sentido de
nico, o maior problema identifica- um reencontro entre o mar, os Por-
do foi a cobertura da grande nave tugueses e a sua História.” 3
(42m), que não dispunha de apoios
intermédios. A opção escolhida as- Susana Maria Pereira
sentava num sistema de pórticos de Mestre em História de Arte
betão de duas vertentes, articula-
dos, distanciados aproximadamen- Notas:
te de sete metros, e em que o sis- 1 Cf. J. E. Ferreira dos SANTOS, “A César o
tema de contraventamento deveria que é de César” in Revista da Armada, nº
permitir uma iluminação do Norte, 211, Ano XVIII, Lisboa, Marinha de Guer-
na nave. ra Portuguesa, Julho 1989, pp. 30-31.
A sua grande volumetria interior e 2 Cf. “O Museu de Marinha. 50 Anos em Be-
a luz que entra pela fachada nas- Esquema de circulação interior. lém” in Revista da Armada, nº 468, Ano XLII,
cente, totalmente rasgada em três registos o arquitecto optado por definir um per- Lisboa, Marinha de Guerra Portuguesa, Novem-
contínuos de janelas envidraçadas, permi- curso próprio, totalmente independente bro 2012, pp. 4-5.
tem evidenciar as peças que estão na sua do utilizado nos restantes espaços do 3 “O Museu de Marinha – 140 anos –“ in Revista
génese. Museu. da Armada, nº 373, Ano XXXIII, Lisboa, Marinha
O projecto do arquitecto respeitava, A zona destinada aos serviços foi pensa- de Guerra Portuguesa, Março 2004, pp.18-22.
também, os dois eixos definidos no plano da para albergar os alojamentos dos ofi-
de urbanização. Um deles, perpendicular ciais e respectiva sala de jantar e de estar, N.R.
às fachadas nascente e poente, passava as instalações para sargentos e o aloja- O autor não adota o novo acordo ortográfico.
pela entrada, enquanto o outro, na direc- mento para praças, bem como a cozinha,
ção norte-sul, passava pelo eixo do hall copa e arrumos, enquanto as instalações REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2013 29
da entrada da nave. do pessoal, destinadas essencialmente à