Page 24 - Revista da Armada
P. 24
Quando cheguei a Portland e fui a bor- pela minha exoneração do comando do Este acidente teve também as suas con-
do, o que mais me impressionou, não foi Barracuda. Na sequência dessa sua co- sequências positivas. Fruto do que se ha-
ver a parte de vante da torre toda amolga- municação informei o comando da es- via passado e que constava nos autos, o
da, o periscópio todo partido e dobrado quadrilha, que reagiu com surpresa. Os Almirante CEMA determinou, através do
para estibordo, e a falta das antenas de co- sargentos e praças do Barracuda, quan- seu despacho nº 43/95, de 25 de Maio, a
municações, guerra electrónica e antena do souberam dessa decisão, comunica- constituição de dois grupos de trabalho.
do radar. ram-me que tencionavam ir pedir uma Um grupo para apreciar tecnicamente a
O maior choque foi ver as caras de toda audiência ao CEMA para que não fosse capacidade de escuta dos submarinos, a
a guarnição, especialmente a do coman- concretizada a exoneração. Entendi por fim de ser determinada a eficiência do
dante. Face ao quadro em presença, mais bem desdramatizar a situação e desmobi- sistema e avaliar os riscos das operações
importante do que tratar do material, era lizá-los, tendo conseguido que abando- dos submarinos nos vários cenários em
recuperar todo aquele pessoal, todos nassem o seu intuito e que deixassem o que se desenvolviam, e um outro grupo
aqueles amigos e camaradas de armas. destino seguir o seu rumo. para o estudo e reformulação das instru-
O primeiro jantar parecia mais um ve- Os sargentos e as praças do NRP Bar- ções permanentes de operação a bordo,
lório do que uma daquelas refeições em racuda tiveram a iniciativa de promover directamente relacionadas com os proce-
que há sempre um ou outro momento de almoços de despedida ao seu comandan- dimentos de vinda à cota periscópica, na
alegria e descontracção. Havia que dar te. Na placa oferta dos sargentos do Bar- altura em vigor.
volta a esta situação, e depressa. Foi esse, racuda ao seu comandante, pode ler-se:
parte do meu tra- Como resultado final, e para bem da
balho naqueles pri- esquadrilha, muitos
meiros dias, e julgo dos procedimentos
que consegui, fruto de bordo no que diz
da grande amizade respeito à escuta fo-
que existia e conti- ram alterados, adop-
nua a existir nesta tados métodos mais
família que é a dos científicos e obri-
submarinistas. gando a um maior
treino do pessoal, e
Conta de novo o que veio a terminar,
comandante do sub- uns anos depois,
marino: com a realização do
Foi dada a possibili- curso de comandan-
dade a qualquer ele- tes. Na área do ma-
mento da guarnição terial, ficou provado
que não se sentisse que quase todos os
em condições psico- equipamentos sonar
lógicas para perma- estavam francamen-
necer a bordo e fazer te degradados e a
a viagem de regresso, justificar a sua subs-
para não o fazer, con- O Barracuda a navegar. tituição, o que veio
a acontecer fasea-
tudo, não houve qualquer elemento que qui- “Na glória de um militar não contam
sesse usufruir dessa possibilidade. só as batalhas conquistadas damente nos três submarinos, não só em
Na viagem de regresso recebi individual- mas também a certeza do dever cum- consequência da sua falta de rendimento,
mente alguns elementos da guarnição que prido e a gratidão dos seus homens. como também pela sua obsolescência lo-
sentiram necessidade de apoio. Dos Sargentos do Barracuda. gística.
Março 1995”
........ Não posso terminar este breve escri-
Tive uma guarnição antes, tive-a duran- to, sem dar os parabéns à guarnição do
O Barracuda largou de Portland em 25 te e tive-a depois, e isso importa e muito. Barracuda e um renovado abraço ao
de Março e, navegando sempre à superfí- Fomos uma verdadeira guarnição até ao Comandante Silva Crespo, que soube-
cie, chegou a Lisboa a 28 do mesmo mês. fim, coesa, serena, digna. Verdadeira- ram reagir sem falhas a este acidente, que
Claro que poucos dias após a chegada mente, não falhámos uns aos outros ou a souberam recuperar psicologicamente do
a Lisboa o comandante foi exonerado, o nós próprios. susto por que todos passaram, tendo dado
processo de averiguações passou a disci- Num espaço tão pouco privado como é mostras mais que claras das suas eleva-
plinar, mas acabou por ser arquivado por aquele onde se desenrola a nossa acção, das capacidades militares e profissionais,
despacho do Almirante CEMA de 05 de num submarino, o que realmente somos provando serem merecedores da elevada
Maio de 1995. e valemos não se esconde e o que se faz estima e admiração de quem os coman-
O Barracuda atracou no Arsenal do Al- ou não se faz é visto e vivido por todos. dava, e portadores das características e
feite, foi reparado, e na data prevista, tal Assim pois, quando revivo os dolorosos atributos dos submarinistas portugueses.
como tem sido apanágio da IRS, saía para acontecimentos então ocorridos é a men-
provas de mar e ia de novo aos 300 metros sagem que acima transcrevi que retenho Por fim, seja-me permitido afirmar e de-
de profundidade, provando que estava em e que ficou para sempre gravada no meu sejar que no futuro nunca haja necessi-
condições operacionais e pronto a servir coração. Aos sargentos e praças do Bar- dade de escrever palavras semelhantes às
a Marinha. racuda, o meu muito obrigado. que acima ficam para a História.
Hoje ainda tanto ou mais do que antes.
Diz ainda o Comandante Crespo: Álvaro Rodrigues Gaspar
Contudo, o ALM Ribeiro Pacheco, en- Silva Crespo, CFR M RES CALM
tão CEMA, recebeu-me em audiência
e comunicou-me que tinha decidido ........ Com o apoio “corajoso” do Comte. Silva Crespo
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
24 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA