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COMISSÃO CULTURAL DA MARINHA
MUSEU DE MARINHA - 150 ANOS
CONTEXTO ARQUITECTÓNICO
OMuseu de Marinha foi fundado Marinha, e a consequente conservação pois “Após promulgação e reestruturação
a 22 de Julho de 1863, na sequên- das memórias marítimas indispensáveis na orgânica do Museu e seu regulamento em
cia de um decreto real de D. Luís I, construção da identidade cultural das ge- 1959, estavam reunidas as condições para
um monarca com sensibilidades culturais e rações futuras, o que consideramos ser um iniciar uma nova e derradeira etapa na
artísticas e que foi, também, um oficial da imperativo civilizacional e de cidadania. vida desta instituição. Foi, pois, a 15 de
Marinha e comandante de navios. Data de 1959 o Decreto-Lei n.º42 412, Agosto de 1962 que o Museu de Marinha
O acervo inicial do Museu – uma abriu oficialmente as suas portas,
colecção de modelos de navios, reu- nas alas norte e poente do Mosteiro
nida desde o reinado de D. Maria I, dos Jerónimos.” 2 .
no Palácio da Ajuda – foi cedido à O projecto das instalações do
Escola Naval localizada, à época, Museu de Marinha, criado de raiz
no antigo Arsenal da Marinha jun- pelo arquitecto Frederico George
to ao Terreiro do Paço. Contudo, para albergar uma colecção de ca-
em 1916, um incêndio de grandes racterísticas ímpares e valedoras,
proporções destruiu grande parte começou então a ser elaborado
do edifício e, por consequência, da em 1959.
colecção. Colecção que alcança Pintor e arquitecto português,
nova relevância com a doação do Frederico George nasceu em Lis-
seu grande benemérito Henrique boa em 1915, cidade onde mor-
Maufroy de Seixas, que lega em reu em 1994. Tendo estudado na
testamento, em 1948, a sua vasta e Fotografia aérea com a localização do futuro Museu de Marinha. Escola de Belas Artes de Lisboa,
valiosa colecção particular. Peran- concluiu aí a sua formatura no
te o clausulado do testamento, que ano de 1937, em pintura, arte a
obrigava a que fosse encontrado que se dedicou na primeira fase
um imóvel suficientemente digno da sua carreira. Nessa fase par-
e preparado para receber e exibir ticipou na Exposição do Mundo
a colecção, a hipótese do Mosteiro Português (1940) e colaborou com
dos Jerónimos, pelo seu carácter o arquitecto Teotónio Pereira, no-
histórico e simbólico, surge como meadamente nos projectos da
a opção ideal. Igreja das Águas em Penamacor
Contudo, o prazo de três meses e no Bloco das Águas Livres em
para que a colecção fosse reins- Lisboa. Formou-se posteriormente
talada redunda que este acervo em arquitectura, também pela Es-
museológico acabe ainda por ser cola de Belas Artes de Lisboa, em
instalado na Biblioteca e Museu de 1950. Foi o autor dos projectos do
Marinha e, posteriormente, trans- Museu de Marinha e do Planetário
ferido para o Palácio dos Condes Calouste Gulbenkian.
de Farrobo (Palácio das Laranjei- O projecto paisagístico da zona
ras) onde permaneceu, provisoria- Planta de implantação. envolvente do Museu de Marinha
mente, entre 1949 e 1962. ficou sob a responsabilidade do ar-
Por fim, em 1962, a 15 de Agosto quitecto paisagista Gonçalo Ribeiro
desse ano, as actuais instalações do Telles.
Museu de Marinha são inauguradas. O Museu de Marinha, projectado
Dado que o Museu de Marinha e construído para expor uma colec-
usufrui de um espólio ilustre, já re- ção museológica de características
ferido em diversas publicações e se muito específicas, foi idealizado
encontra albergado nos anexos de em função de duas das principais
um extraordinário Monumento Na- peças do seu acervo – o Bergantim
cional considerou-se apropriado, Real e a Galeota Grande.
na celebração dos seus 150 anos, Pavilhão das Galeotas em construção. As obras de instalação do Museu
dar também a conhecer as origens destas de 24 de Julho, que determina a instala- iniciaram-se em 1960 com a construção do
instalações. ção do Museu de Marinha no Mosteiro Pavilhão das Galeotas, que foi inaugurado
É esse o objectivo deste artigo ao recor- dos Jerónimos “(…) O Museu de Marinha cerca de dois anos depois, em 15 de Agosto
dar a história e a evolução dos edifícios será instalado em Santa Maria de Belém, de 1962, sendo no ano seguinte iniciadas
que permitiram criar um polo estratégico ou Mosteiro dos Jerónimos, com exclusão as obras de construção do edifício de ser-
e singular, visando a guarda, preservação da igreja, claustro e outras dependências viços e do Planetário Calouste Gulbenkian,
e exposição do vastíssimo e riquíssimo le- já cedidas à paróquia para serviço do cul- inaugurados em 20 de Novembro de 1965.
gado histórico, patrimonial e cultural da to.” 1 que seria inaugurado três anos de- Embora tivesse por base o programa for-
28 ABRIL 2013 • REVISTA DA ARMADA