Page 5 - Revista da Armada
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submarinos para interditar os espaços marítimos um efeito militar muito superior à sua expressão O terceiro tipo de problemas depende do facto
aos protagonistas dessas ameaças, bem como quantitativa num teatro operacional. Com efei- dos submarinos permitirem que uma potência
para vigiar, controlar e seguir os infractores de to, bastará haver a suspeita da sua presença em mais fraca perturbe profundamente a economia
forma discreta, sem perturbar os seus modos qualquer área de conflito, para as forças aero- de outra mais forte, sem necessitar de conquistar
de actuação e comportamentos, recolhendo navais inimigas terem de despender um esforço território ou, até, de manter o controlo do mar.
informações que possam constituir provas dos muito maior na protecção das suas unidades Para isso, os submarinos são empenhados na
crimes ou ilícitos praticados. principais e das suas capacidades estratégicas, flagelação de alvos em terra e da navegação
porque o emprego dos submarinos coloca a um inimiga, o que faculta, por um lado, preservar
O DESEMPENHO MILITAR possível opositor os três grandes tipos de proble- os meios de superfície próprios e alargar a capa-
cidade de duração do ataque e, por outro lado,
No âmbito do desempenho militar convém mas a seguir descritos. desgastar o adversário, criando insegurança e
referir que os submarinos, por si sós, não permi- O primeiro tipo de problemas tem a ver com incerteza, diminuindo o moral, dificultando os
tem obter a decisão de um conflito, excepto em a importância da tecnologia na guerra. Por os movimentos e reduzindo os seus meios. Estas
casos de flagrante fraqueza global do inimigo. submarinos operarem num meio quase opa-
Contudo, as suas características acções, se acompanhadas de me-
operacionais rentabilizam a con- didas de carácter logístico, que sus-
figuração geográfica do território tentem os submarinos, e de medi-
nacional e tiram partido da possi- das de carácter organizacional que
bilidade de reabastecimento em mantenham o pessoal pronto para
países aliados e amigos, o que se os operar, aumentam o tempo de
traduz num considerável poten- resistência e a liberdade de acção
cial para a protecção das comuni- do país que, apesar de mais fraco,
cações marítimas, a projecção de emprega estes meios navais num
força sobre terra, a defesa do ter- conflito contra outro mais forte.
ritório nacional e a realização de
missões especiais numa vasta área CONCLUSÕES
que engloba o Atlântico, o Medi-
terrâneo e parte do Índico (Fig. 3). O valor estratégico dos submari-
A protecção das comunicações nos decorre do seu contributo para
marítimas é feita através de: pa- Espaços marítimos de soberania e jurisdição de Portugal. a materialização da função militar
do Estado, sustentada pelo exercí-
trulhas das áreas focais e críticas; patrulhas de co, só com o emprego de tecnologias muito cio da soberania e jurisdição, pela consecução
barreira; ataques a submarinos e forças de su- avançadas é possível a sua detecção, ataque e da dissuasão e pelo desempenho militar, aspec-
perfície; lançamentos de campos de minas; destruição. No entanto, como a tecnologia dos tos determinantes da segurança nacional.
contra-medidas de minas, usando veículos sub- submarinos tem evoluído qualitativamente mais Todos sabemos que os submarinos represen-
marinos autónomos. que a dos sensores e das armas usadas pelos avi- taram um investimento público significativo e,
A projecção de força sobre terra é concretiza- ões e pelos navios de superfície empenhados na agora, implicam uma cuidada sustentação, para
da através de: ataques a terra a partir do mar; sua detecção, ataque e destruição, podem, sem que se mantenham tecnologicamente actuali-
apoios diversos às operações terrestres; transpor- grande dificuldade, afectar significativamente zados e aptos a ter empenhamentos eficazes.
tes e lançamentos de grupos de operações es- a navegação marítima, contribuindo decisiva- Nestas circunstâncias, numa época de crise fi-
peciais em incursões anfíbias ou golpes de mão mente para o controlo do mar. nanceira como a que o país vive, a aquisição, a
anfíbios; acções de protecção manutenção e a operação de sub-
e defesa da área do objectivo marinos implica alguns sacrifícios
anfíbio; reconhecimentos de dos portugueses.
portos e locais de desembarque;
reconhecimentos de alvos; Em alternativa, se o país não pos-
ajudas à navegação; recolhas de suísse submarinos, seria preciso
informações. assumir os riscos decorrentes de ou-
A defesa do território nacional é tros Estados, com apetência sobre
materializada através de: ataques os recursos existentes nos espaços
a submarinos; ataques a forças de marítimos de Portugal, poderem en-
superfície; ataques a terra a partir tender essa lacuna do nosso sistema
do mar; vigilâncias das águas cos- de força naval como um sinal de
teiras; transportes e lançamentos renúncia de soberania e jurisdição,
de grupos de operações especiais; de adopção de uma postura permis-
lançamentos de campos de minas; Linhas de tráfego marítimo e alcance dos submarinos. siva e de abdicação da capacidade
patrulhas de áreas críticas; reco- de afirmar os interesses nacionais.
lhas de informações. O segundo tipo de problemas relaciona-se Nestas circunstâncias, poderia passar-se no mar
As missões especiais são realizadas através com o facto da maioria dos Estados costeiros algo semelhante ao que ocorreu em terra no
de: transportes de altos valores; acções de salva- serem incapazes de responder, pronta e eficaz- século XIX, durante a partilha de África. Isto é,
mento; acções de reconhecimento; recolhas de mente, contra ameaças submarinas, por não os países com economias mais pujantes, ten-
informações; ajudas à navegação; lançamentos possuírem meios aeronavais nem outros sub- deriam a impor os seus interesses com recurso
de campos de minas; infiltrações, apoios e re- marinos capazes de os detectar, atacar e destruir. à força militar, o que comprometeria os benefí-
colhas de agentes especiais, de pequenas forças Esta vulnerabilidade, resultante da assimetria de cios que as gerações futuras poderão extrair do
anfíbias e de grupos de operações especiais. meios, existe na maior parte dos sistemas de extraordinário activo estratégico que é o mar
A capacidade de execução das tarefas antes forças navais dos Estados costeiros, o que torna português.
enunciadas, mostra que um submarino conven- possível a um país dotado de submarinos, con-
cional moderno, como aqueles de que Portugal tinuar a atacar outro que não os possui, provo- António Silva Ribeiro
dispõe, pode exercer, seja qual for o requisito es- cando um elevado nível de atrição, que reduz a CALM
tratégico ou a situação táctica, uma influência e vontade de combater ou resistir do inimigo.
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • ABRIL 2013 5