Page 7 - Revista da Armada
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aconteceu! De igual modo, não será de estra- interesse do seu projecto, agora bastante desen- ficando as suas extremidades fixas por bóias.
nhar que com a alteração ocorrida em 1897, volvido, relativamente às versões anteriores. Estes tubos permitiam a admissão de ar fresco
entregando a uma firma o exclusivo do pro- e expulsão de ar viciado, sendo a circulação do
jecto, as publicações sobre o mesmo tenham Conforme já foi afirmado anteriormente, este ar assegurada por uma ventoinha. Para obser-
voltado a surgir. Assim, em 1898 saiu um livro projecto foi evoluindo com o passar do tempo. var o que se passava no exterior Fontes Pereira
intitulado: Estação Automóvel Submarina Fon- Destinado inicialmente a servir apenas como de Melo sugere o uso de dois periscópios. Na
tes. O texto não fornece indicação de quem estação submarina, fundeada em imersão, evo- versão original só tinha um, destinado apenas
seria o seu autor e contêm logo no início uma luiu para um submarino com ampla liberdade a observar o exterior. Na versão mais evolu-
indicação de que a iniciativa de levar a cabo a de movimentos. Apesar desta facilidade em se ída tinha dois periscópios, sendo que um de-
publicação partiu da firma Alves da Rocha & deslocar, nunca foi ambição do autor do pro- les permitia medir ângulos e portanto calcular
C.ª. Nesse texto introdutório é referido que no jecto conceber uma plataforma que se afastasse distâncias. Quanto ao problema da orientação,
folheto que estava a ser publicado se procura- muito de terra, sendo essencialmente destinado o Fontes seria equipado com giroscópios, que
va reunir a informação mais significativa sobre a protecção de zonas portuárias. Poderia ainda evitavam o inconveniente do desvio da agulha,
o projecto. Essa mesma obra conheceu, nesse servir como sino de mergulhador. num navio de estrutura completamente metá-
mesmo ano de 1898, uma edição em francês: lica e no qual uma agulha magnética estaria
Station automobile sous-marine Fontes. Os textos dedicados ao submarino Fontes sujeita à forte influência dessa massa de metal.
mostram que o autor dos mesmos conhecia
Ao mesmo tempo que o projecto era defen- detalhadamente os desenvolvimentos que este Conhece-se ainda um requerimento, datado
dido na Câmara dos Deputados e era apre- género de navios ia conhecendo. Em 1897, de 1907, de Fontes Pereira de Melo, já Capitão-
sentado em livros, volta também a ser tema da compara o Fontes com os seguintes modelos -de-fragata, relacionado com o submarino Fon-
revista Ocidente. No seu número estrangeiros: Goubet, Gymnote, Nordenfeldt,
673, de 10 de Setembro de 1897, Wadington, Pace Maker e Peral. Por outro lado, tes. Tal ocorre pouco depois de ter
volta a surgir um artigo dedicado no texto de 1902 apresenta uma comparação sido proposto um outro projecto
ao Fontes, mais uma vez assina- do Fontes com os submarinos Gustave-Zédé, português, também analisado neste
do por «Grumete». Este pequeno Morse, Lutin, Narval e Holland. A comparação artigo. No entanto, passado pouco
texto apresenta um breve historial incide sobre os seguintes pontos: tempo, em 1910, Portugal assinava
do projecto e dá-nos conta que as o contrato para a construção em
dimensões do navio tinham vindo ∙ Garantia de imersão e emersão; Itália do seu primeiro submersível,
a crescer, com o passar do tempo, ∙ Habitabilidade; o Espadarte.
apesar de a sua forma se ter man- ∙ Estabilidade de equilíbrio e estabilidade
tido mais ou menos a mesma. As- A. Costa Canas
sim, pela revista Ocidente, ficamos de imersão; CFR
a saber que em 1894 o projecto ∙ Direcção no plano vertical;
inicial tinha evoluído de um na- ∙ Direcção no plano horizontal; O SUBMARINO
vio com 160 metros cúbicos para ∙ Força motora; VALENTE DA CRUZ
outro com 182 metros cúbicos. ∙ Provisão de energia (raio de acção)1;
Curiosamente, no texto Estação ∙ Orientação e visão. Em 22 de Agosto de 1905, o Pri-
Automóvel Submarina Fontes, sur- Curiosamente, em todos os elementos anali- meiro-tenente Júlio Lopes Valente
gem dois desenhos corresponden- sados o Fontes fica classificado em primeiro lu- da Cruz assinou, em Lisboa, o seu
tes a um navio com 120 toneladas gar, na opinião do autor. Sem entrar em muitos Projecto d´um torpedeiro submer-
e outro de 182 toneladas. Em 1897 detalhes, apresentamos as principais caracterís- sível. Manuscrito em caligrafia ele-
o autor propunha uma plataforma ticas desta plataforma. Tratando-se de um navio gante, a descrição estendia-se por
com 434 metros cúbicos. destinado à defesa portuária, estava equipado 29 páginas, que incluíam cerca de
com dois tubos lança-torpedos. A sua propul- uma dezena de desenhos – alguns
A «investida» seguinte na difusão escrita deste são em imersão era assegurada por um motor apenas esquemáticos, diagramas
projecto ocorreu em 1902. Nesse ano foi pu- eléctrico, possuindo ainda um motor a petróleo e gráficos. A proposta de Valente da Cruz re-
blicada a Memória sobre o Submarino Fontes. para a navegação à superfície e a carga das ba- partia-se por duas áreas: a do “Casco”, e a das
Este texto é assinado no final por Fontes Pereira terias. A renovação do ar no interior do subma- “Machinas motoras”. Em ambas reclamava
de Melo. Logo na Introdução se deduz que o rino era assegurada por um engenhoso proces- inovações e vantagens, criticando algumas das
próprio já antes teria escrito vários outros textos so. Do navio saíam dois tubos para a superfície, soluções que eram adoptadas nos submersíveis
sobre o tema: coevos já em operação, designadamente as do
torpedeiro-submersível Narval, produto do en-
«Tendo resolvido apresentar uma memória genheiro francês Maxime Labeuf (1864-1839).
sobre esta malfadada questão, para a tornar Este Narval é considerado um dos primeiros
bem conhecida de todos, e mesmo deixar re- navios deste tipo com valor militar apreciável
gistado o persistente e incessante labutar de para a época em que entrou em serviço (1898).
muitos anos, julgamos não ser desarrazoado Se é certo que o “projecto” do português apre-
aproveitar alguma coisa do que a este respeito sentava algumas vulnerabilidades (em especial
já temos escrito, poupando assim grande e pe- no que respeita às suas opções para o casco),
noso trabalho a uma pena pouco hábil, como sobretudo quando alguns dos seus conceitos
é a nossa». são avaliados perante os padrões de conheci-
mento contemporâneos, a verdade é que se tra-
Nesse mesmo ano de 1902, no jornal Cor- tou de uma expressiva manifestação de criativi-
reio Nacional surgiram inúmeros textos sobre dade, assente em conhecimentos técnicos que
o mesmo assunto, explicando em detalhe as eram acessíveis a poucos e que Júlio Valente da
características do submarino Fontes. O primei- Cruz terá adquirido em circunstâncias particu-
ro dos artigos surgiu na edição de 7 de agosto, lares a que nos iremos referir mais adiante.
enquanto que o último artigo que encontrámos Neste texto de divulgação não iremos en-
é datado de 26 de Setembro. No final do último veredar pelos detalhes técnicos das soluções
destes textos surge a explicação para mais este propostas pelo tenente Cruz em 1905, nem
reacender do interesse pelo Fontes. O seu au- pela crítica a que é hoje possível submetê-
tor apresentou mais um requerimento para que -los. Parece-nos mais importante sublinhar
fosse nomeada outra comissão que avaliasse o
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