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REVISTA DA ARMADA | 484

                                             Imagem 5.

imagem, a travessia foi extremamente ar-     Imagem 6.                                    tável «modernidade temática». Evidencia
riscada. A Bartolomeu Dias apanhou uma                                                    e divulga as inovações e a revolução tec-
«corda de mau tempo», perdendo de vis-       Na perspectiva do quadro, do lado direito,   nológica então em curso, na qual a má-
ta a corveta Sagres (a velha e primeira Sa-  o espectador vê o Forte de São Lourenço      quina a vapor e o navio ocupavam lugares
gres do séc. XIX) e dando esta como perdi-   da Cabeça Seca, vulgo Bugio. Em redor do     centrais (o navio movido a vapor e por hé-
da. Na chegada a Lisboa, os navios e guar-   forte nota-se uma interessante cena de       lice e o casco de ferro).
nições reencontram-se e houve romaria        pesca constituída por várias «muletas» do
de acção de graças dos marinheiros ao        Seixal, que nesses anos se encontravam         Nesses registos, a partir duma descri-
Porto Salvo, como era de tradição naquele    proibidas de pescar no estuário do Tejo,     ção minuciosa e legível o artista enfati-
tempo. Esta pintura, bastante «intimista»,   por haver um esforço de pesca demasiado      za, nomeadamente, o «papel da Marinha
tinha o privilégio de figurar no Palácio da  grande. Assim, estas tradicionais embar-     de Guerra Portuguesa na Revolução In-
Ajuda, exposta no Salão Verde, a sala de     cações de pesca tinham de se aventurar       dustrial», através da representação dos
fumo do Rei Dom Luís. Exposta neste local    fora da barra, para lançar as suas redes.    principais vasos de guerra dos Programas
para contemplação do «Rei Marinheiro»,       Os dois cenários, constituídos pelos For-    de Modernização da Armada dos Anos
e recordando-lhe porventura os vários pe-    tes do Bugio e de São Julião da Barra, tam-  1850/1860 (Programas Sá da Bandeira e
rigos e o «milagre» dessa viagem, a bordo    bém são recorrentes na pintura de João       Mendes Leal).
do navio que comandara de 1858 a 1861.       Pedroso.
                                                                                                                                  Dr. Paulo Santos
  Quanto aos navios do Programa Men-           No segundo quadro, está a corveta Sá       N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
des Leal, construídos em Lisboa, em 1863     da Bandeira, rumo à Barra de Lisboa, cru-    Notas
e 1864, figuram em dois quadros pintados     zando o Forte de São Julião da Barra, for-   1 A Marinha Portuguesa comemora em 2014 os 150 anos
por Pedroso e que também pertenceram         tificação emblemática da obra de João Pe-    do lançamento à água das Corvetas «Duque de Palmela»
às Colecções Reais: Uma «Corveta Mista       droso, ao mesmo título que o Bugio e que     e «Duque da Terceira».
da Armada Portuguesa, a salvar, na altu-     a Torre de Belém.
ra do Forte de São Julião da Barra» (Co-
lecção da Fundação da Casa de Bragança)        Podemos concluir que a pintura de Ma-
(Imagem 5), e «Corveta Sá da Bandeira»,      rinha de João Pedroso apresenta uma no-
Pintura a Óleo sobre Tela, 1863 (Colecção
do Palácio Nacional da Ajuda)1 (Imagem 6).

  No primeiro quadro vê-se uma corveta
mista da Armada Real Portuguesa, mui-
to provavelmente a Duque de Palmela do
programa naval do Ministro Mendes Leal.
Construída no Arsenal da Marinha de Lis-
boa em 1864, seguiu no mesmo ano para
Inglaterra, para meter máquina. O qua-
dro não está datado, mas estamos supos-
tamente perante a entrada em Lisboa do
navio, com a chaminé da máquina a fume-
gar, de regresso de Inglaterra, nesse mes-
mo ano. A ocasião é festiva e o navio está
embandeirado e como se vê, salva a terra,
por altura do Forte de São Julião da Barra.

                                                                                          ABRIL 2014 23
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