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REVISTA DA ARMADA | 485

NRP TRIDENTE

UMA JORNADA ÉPICA

NRP Tridente atraca em Bergen.                                       da vaga de mau tempo que assolou o continente e que causou
                                                                     prejuízos avultados em muitas das zonas ribeirinhas. “Já no largo
Ainda a Bandeira Nacional não tinha sido içada e já a guarni-        Oceano navegavam, As inquietas ondas apartando”1 com o ob-
    ção tinha iniciado os preparativos de largada para mais uma      jetivo de alcançar a batimétrica dos 50 metros para que o Tri-
missão, esta de 6 meses. Desta vez a missão atribuída ao NRP Tri-    dente entrasse em imersão. Em poucos minutos o navio estava à
dente consistia em regressar a Kiel, na Alemanha, a cidade que       cota periscópica e os valores de balanço e caimento diminuíram
viu nascer esta unidade naval, para efetuar mais uma etapa da        abruptamente. Com a bateria carregada, navio estanque e oscila-
sua vida… a docagem intermédia acompanhada de um período             do2, estávamos prontos para nos refugiar nas “águas profundas”
de revisão assistida. No sentido da oportunidade e aproveitando      do Atlântico. O periscópio é arriado, tendo por último vislumbre
a viagem para Kiel, o NRP Tridente efetuaria um pequeno desvio       de Portugal o Cabo Raso.
até águas norueguesas, ao largo de Bergen, para participar num
importante exercício internacional de luta antissubmarina, o DY-       Como é apanágio dos militares, iniciou-se de imediato um largo
NAMIC MONGOOSE 2014 (DMON14).                                        espectro de exercícios internos com o objetivo de manter os pa-
                                                                     drões de desempenho da guarnição. Em primeiro lugar, exercícios
  As previsões do estado de mar para a missão eram já nossas         afetos à segurança da plataforma, tais como: combate a incên-
conhecidas, tendo este fator de planeamento sido alvo de uma         dios, alagamentos, avarias nos lemes, avaria na estação hidráuli-
atenção redobrada até porque, para além dos valores de balanço       ca e avarias no motor elétrico de propulsão. Passados dois dias,
e caimento elevados, que sacrificam pessoal e material, existe ain-  já ao largo de La Coruña, foram iniciadas as séries de exercícios
da a particularidade de os consumos de combustível aumentarem        ditas operacionais, entre as quais: simulação de lançamentos de
significativamente. Se numa qualquer outra missão este fator não     torpedos Black Shark3 e mísseis Sub-Harpoon block II (G)4, recolha
pode ser descurado, nesta missão em particular seria ainda mais      de informação, seguimento de contactos e compilação do pano-
relevante. O NRP Tridente teria de percorrer 3200 milhas náuticas,   rama de superfície.
conduzir ações táticas durante o DMON14, tentando chegar ao es-
taleiro com a menor quantidade de combustível possível, evitando       A cada 12 horas sentia-se a ansiedade da guarnição, pois era
assim gastos desnecessários aquando do desembarque. Para além        sabido que iríamos encontrar condições oceanográficas severas.
disso era ainda necessário assegurar que ao atracar em Kiel, an-     O Tridente estaria uma vez mais, por duas horas, à cota periscó-
tes da docagem propriamente dita, o Tridente tivesse de efetuar      pica, com o objetivo de carregar a bateria e escutar o período
duas cargas de bateria com recurso aos geradores de bordo. Caso      de radiodifusão afeta aos submarinos. O uso do Air Independent
esta necessidade não fosse possível de assegurar poderiam ocor-      Propulsion (AIP)5 estava limitado e previsto apenas para algumas
rer atrasos significativos na docagem do Tridente.                   séries do DMON14, designadamente as mais exigentes do ponto
                                                                     de vista tático e que normalmente possuem unidades que nos de-
  Ainda não tínhamos cruzado entre-torres e a fúria do mar já        tetariam caso o mastro snorkel fosse exposto. Assim, não nos res-
se fazia sentir. Com balanços que ultrapassavam os 50 graus, lá      tava outra solução… teríamos que carregar a bateria ao snorkel.
ia o Tridente à superfície a rasgar as ondas que teimavam em au-     O snorkel, condição necessária para carregar a bateria em imer-
mentar de altura até porque o Canhão de Lisboa e a junção das        são, por si só é uma condição que carece de um cuidado especial.
duas massas de água de diferentes densidades, água do Atlântico      O facto de haver uma abertura franca ao mar, a má visibilidade
e água do Tejo, exponenciam este efeito. Recordam-se os leito-
res que dia 3 de fevereiro, data da largada, foi um dos da segun-

                                                                     MAIO 2014 17
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