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REVISTA DA ARMADA | 485
Treino interno para recolha de informação
consequência do estado de mar, a capacidade de vigiar o que nos entre os países detentores do controlo das águas e submarinos,
rodeia através de um campo de visão de 22 graus, associada ao pelo que nesta situação o tempo era fator decisivo.
facto de grande parte dos acidentes com submarinos ocorrerem
à cota periscópica, traz consigo um natural sentimento de preo- Nova carga de bateria e a autorização tão esperada acabou por
cupação obrigando por isso a uma atenção redobrada. Fruto do chegar. Efetivamente, e após uma luta contra o tempo, o SUBO-
estado de mar e tempos de reação da válvula de cabeça6, o tan- PAUTH nacional conseguiu, junto do seu congénere francês, asse-
que do snorkel atinge várias vezes valores de alagamento fora do gurar águas para que o nosso Tridente continuasse a navegar em
normal que alteram facilmente a estabilidade do navio, por in- imersão, acelerando consideravelmente a velocidade de trânsito.
cremento de peso. Tudo isto somado, e vemo-nos envoltos num Se bem que os consumos de combustível tivessem aumentado,
sem número de constrangimentos que obrigam a uma constante foram mais uma vez provadas as capacidades ímpares de endu-
atenção e uma grande perspicácia para tentar antecipar a reação rance, autonomia e velocidade que estes navios detêm. De forma
do navio, vaga após vaga. Acresce ainda que estávamos a navegar sustentada, e em pouco mais de 24 horas, o Tridente tinha ganho
no Oceano Atlântico em que a vaga carrega consigo uma ener- em relação ao planeamento original cerca de 70 milhas, evitando
gia bem conhecida dos Portugueses, pelo que era frequente per- assim a fúria do Rei Neptuno que se aproximava e figurativamen-
dermos a cota, sendo literalmente arremessados para cotas mais te, uma vez mais, o nosso Tridente teve as honras de poder ser
profundas ou para a superfície, ficando assim sujeitos ao impacto representado na mão do Rei dos Mares a ser projetado para as
das enormes vagas. Durante esta viagem que acabou por ser épi- entranhas do Mar do Norte, trazendo atrás de si todo o seu po-
ca, situações ocorreram em que luzes da iluminação se fundiram der devastador.
devido ao impacto das vagas.
Com o objetivo alcançado de seguir nas águas de uma tempes-
Fruto do frequente contacto entre o Instituto Hidrográfico e tade evitando uma outra que se aproximava à nossa popa, havia
a Esquadrilha de Submarinos, foi identificada a necessidade de que olhar para a próxima fase da nossa navegação...
criar uma ferramenta que permitisse receber cartas meteo-ocea-
nográficas (METOC) sem recorrer ao serviço de comunicações por Independentemente do que havia sido ultrapassado, cheirava-
satélite. Assim, pela primeira vez num teste piloto, o Tridente le- se a expectativa da guarnição por saber que ao quinto dia tería-
vou consigo uma ferramenta que acabou por se revelar funda- mos de fazer superfície para passar o Canal de Inglaterra, com al-
mental e que permitiu minimizar os efeitos do mau tempo. Atra- turas de vaga superiores a 8 metros, que poderiam causar danos
vés de mensagens no formato ACP127, difundidas por radiodifu- graves na estrutura, sensores e sistemas do navio. Relembram-se
são, foi possível receber e reproduzir as previsões METOC com os leitores que no início da vida dos submarinos da classe Triden-
grande precisão, tendo esta ferramenta revelado ser fundamen- te, ocorreram problemas com a fixação do GRP ao casco resisten-
tal para a tomada de decisão, demonstrando também um ele- te9, tendo posteriormente o estaleiro desenvolvido um método
vado valor agregado no planeamento e execução das diferentes inovador de fixação, método esse que se revelaria adequado até
tipologias de operações submarinas. à data. A verdade é que nunca um submarino desta classe esteve
sujeito a condições de mar tão adversas e que a possibilidade de
Ao quarto dia, já no Golfo da Biscaia, com guarnição e navio danificar esta estrutura não era alternativa, por inviabilizar ime-
bastante sacrificados e com previsões a apontar para alturas de diatamente a participação no exercício DMON14. De referir que
vaga superiores a 10 metros, vislumbrou-se a oportunidade de al- foi precisamente o que aconteceu ao submarino alemão U32,
terar a rota e velocidade do Moving Haven (MHN)7, com o objeti- aquando do seu trânsito do Reino Unido para as águas noruegue-
vo de passarmos safos a duas das tempestades que fustigavam as sas e que culminou com o cancelamento da sua participação no
margens do Reino Unido e França. À semelhança do que acontece DMON14, bem como custos de reparação avultados. Para além
com as aeronaves, existem também, para os submarinos aliados, desta baixa significativa houve ainda a desistência do submarino
controladores que asseguram permanentemente uma separação nuclear inglês HMS Tireless, que devido ao mau tempo também
entre submarinos, quer seja em posição geográfica, em tempo e não arriscou fazer o trânsito para Bergen.
cota. Este processo de controlo de grande responsabilidade, que
em Portugal é assegurado pelo SUBOPAUTH8, obriga à utilização Ainda com o Tridente a navegar em imersão profunda, aproximan-
de ferramentas adequadas, contactos e comunicados formais do-se do Canal de Inglaterra, faziam-se sentir balanços de 20 graus.
A esperança no novo planeamento de navegação e que as previsões
METOC se mantivessem inalteráveis foram fatores determinantes
18 MAIO 2014