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REVISTA DA ARMADA | 501

NRP ARPÃO

O REGRESSO A CASA

Na edição de maio relatou-se o trânsito do NRP Arpão para          reunida. Já com toda a guarnição, havia que voltar a apetrechar
     Kiel, onde se situa o estaleiro construtor dos submarinos da  o navio com tudo o que foi retirado aquando da chegada ao esta-
classe Tridente – a TKMS1. O NRP Arpão iria aí permanecer de       leiro, tarefa que nem sempre se revelou fácil, tendo em conta os
fevereiro a julho de 2015, para a execução de uma ação de manu-    trabalhos ainda em curso por parte do estaleiro e que obrigaram
tenção planeada que incluía docagem. Após terminada, regres-       a uma complexa coordenação.
samos agora com o relato do referido período de docagem e o
trânsito de regresso a Lisboa deste nosso submarino.                 Ao longo destes últimos 15 dias, a ansiedade crescia juntamen-
                                                                   te com o esforço de aprontamento do navio, culminando no dia
   Após a atracação no dia 9 de fevereiro na doca nº 5 da TKMS,    da largada a 30 de junho. Não deixou de ser uma partida com al-
deu-se início aos extensos trabalhos planeados pela DN-DS2 e       guma emotividade, tanto pelos cinco meses de intenso trabalho
contratados ao estaleiro de Kiel, tendo terminado a 3 de julho     a viver na cidade que viu nascer o Arpão, como pelo regresso do
no porto de Kristiansand, na Noruega, com a conclusão das pro-     “nosso navio” ao seu ambiente natural.
vas de mar. Foram praticamente cinco meses de trabalhos, na
sua maioria realizados com o navio a seco. As manutenções re-        Seguiram-se as indispensáveis provas de mar para a obtenção
alizadas foram bastante extensas, contemplando ações como a        da necessária garantia que todos os sistemas estavam em perfei-
substituição do veio, verificação de todas as passagens de casco,  tas condições de funcionamento, levando alguns militares da DN-
intervenções no sistema de TCM3, substituição de 45 elementos      -DS e da TKMS embarcados. No entanto, uma vez que as águas
da bateria principal4, abertura e limpeza dos diversos tanques     do fiorde de Kiel, do Kattegat7 ou do Mar Báltico não possuem a
de bordo (aguada, combustível e de regulação do navio), subs-      batimetria adequada à execução de todas as provas necessárias
tituição de um dos módulos da fuel cell, substituição da cabeça    a um submarino, havia que fazer a navegação à superfície até
do periscópio e muitos outros. Para acompanhar as equipas do       ao Skagerrak. Nesta área, além da disponibilidade de águas pro-
estaleiro nas várias áreas técnicas, parte da guarnição permane-   fundas, fica também o porto de Kristiansand, que dispõe de um
ceu a totalidade do período deslocada em Kiel. Liderados pelo      ponto de apoio logístico e oficinal da TKMS: o cais de Marvika, já
comandante e imediato do navio, a equipa da guarnição incluiu      conhecido das primeiras guarnições que aí fizeram base durante
um total de 19 militares, essencialmente das áreas técnicas, dos   o treino de mar aquando da receção do navio em 2010.
33 que constituem a guarnição do submarino. Durante todo este
período, esteve também presente uma delegação da DN-DS para          Os três dias seguintes foram também de intensa atividade para
coordenar, supervisionar e garantir o crucial controlo de quali-   cumprir o planeamento das provas aos diversos sistemas, tendo-
dade e inspeção técnica das ações de manutenção executadas         -se resolvido com sucesso todos os problemas e avarias naturais
pelo estaleiro.                                                    de um prolongado período de inatividade. Depois das provas
                                                                   concluídas, tendo o Arpão superado todas com distinção, a ter-
   Havendo a necessidade de manter a guarnição treinada durante    ceira e última atracação no cais de Marvika, em Kristiansand, ser-
este período sem atividade operacional, aproveitou-se a proximi-   viu também para desembarcar os militares da DN-DS e técnicos
dade do Submarine Training Centre da Marinha Alemã5 e as exce-     da TKMS, dando-se por concluídas as provas de mar no final da
lentes relações entre as esquadrilhas de submarinos dos dois paí-  tarde do dia 3 de julho. A largada final da Noruega, às 23h00 des-
ses para adestrar parte da guarnição no cumprimento de diversas    se dia, ainda com o sol pouco abaixo do horizonte, marcou o final
missões em simulador. Com uma equipa constituída pelos vários      da ação de manutenção e o início de nova e derradeira etapa da
operadores do sistema de combate (tanto da área do sonar, como     já longa missão do Arpão: o trânsito rumo a Lisboa. Expectante
da de comando e controlo), oficial de quarto e comandante, foram   face às condições meteorológicas que Neptuno iria oferecer nas
executadas mais de 15 missões, com diferentes objetivos e inten-   respeitadas águas do Mar do Norte e da Biscaia, a guarnição ra-
sidades, tendo-se disparado um total de 18 torpedos. Foram duas    pidamente tratou de sacudir o pó de seis meses longe do mar re-
semanas de elevado empenho, ainda mais se se considerar que        tomando as rotinas do submarinista: rigor nos procedimentos e
as manutenções no estaleiro continuavam em elevado ritmo, mas      treino intenso. O trânsito no Mar do Norte fez-se calmo e sereno,
de extrema utilidade para manter o elevado nível de desempenho     com mar chão e vento de feição, embora numa condição pouco
que todos os submarinos exigem das suas guarnições.                apreciada pelo submarinista: navegar à superfície, por força das
                                                                   reduzidas profundidades desta região geográfica.
   Um dos dias mais aguardados pelos elementos que se encon-
travam em Kiel, foi o do regresso da restante guarnição passados     Rapidamente o navio avistou as encostas do estreito de Dover,
quatro meses6, ficando o Arpão novamente com a sua guarnição       depois de ultrapassados os checkpoints8 de navegação mercante
                                                                   das SLOC9 do German Bight e do porto de Roterdão. Depois de

6 NOVEMBRO 2015
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