Page 19 - Revista da Armada
P. 19
REVISTA DA ARMADA | 504
D. Henrique terá assinado 17 diplomas tubro, D. Teresa confirma um documento A 20 de Dezembro de 1111, o rei Afonso
reais enquanto Afonso VI era vivo, e na em que renova à Sé de Braga, na pessoa confirma num documento que D. Henrique,
maior parte deles, surge D. Teresa como fi- do bispo D. Maurício, o feudo que o seu marido de D. Teresa, se intitulava “conde de
lha do rei e esposa do conde D. Henrique, bisavô, Afonso V de Leão, havia concedido Zamora, Astorga bem como em Portugal”,
”regis filia et Henrici comitis uxor”. à Igreja. Ocorre acção similar, a 18 de Abril domínios que, então, juntamente com
de 1120, aquando da doação do feudo do outras vilas e cidades galegas, eram per-
Há um pacto sucessório, o Pacto de burgo do Porto ao bispo D. Hugo, e seus tençam de D. Teresa. Urraca já tinha, aliás,
Sucessão, subscrito entre D. Henrique e sucessores, decidida “com o consenso do decidido ceder-lhe os domínios de Zamora,
D. Raimundo perante Dalmácio Geret – en- meu filho Afonso, e das minhas filhas Ur- Palência e outros territórios que estavam
viado especial de Hugo, primaz da Abadia raca e Sancha”. Finalmente, a 27 de Maio fora do domínio nuclear de Portugal.
de Cluny à Península – em 1105 (os inves- de 1127, poucos anos antes da sua mor-
tigadores situam-no entre 1095 e 1107), te, doa o mosteiro do Vimeiro (perto de D. Henrique morreu em 1112 (eventu-
o que viria a ocasionar, anos mais tarde, Braga) à Ordem de Cluny, na presença do almente entre 24 de Abril e 22 de Maio).
a exigência feita por Diego Gélmirez a tesoureiro D. Stephane, confirmado pelo
D. Urraca para que esta respeitasse os di- infante Afonso Henriques e pelo arce- Pouco antes, a 1 de Março de 1112,
reitos sucessórios definidos. Em tal pacto bispo de Braga. D. Teresa e o marido doaram proprieda-
era prometido a D. Henrique a cidade de Seria este o pri- des ao conde Fruela Diáz e à condessa Es-
Toledo e uma terça parte da sua riqueza meiro momento, tefânia (que era da casa real aragonesa),
(se o ajudasse a conseguir Leão e Castela). aliás, em que a proprietários em Astorga.
Alternativamente, prometia-lhe a Galiza. rainha usa o céle-
Esta oferta era lógica e coerente perante a bre monograma A governação de Tarasia.
política territorial da época, uma vez que os com o trevo de 4 De princesa a rainha
condes de Portugal já detinham, em conti- folhas.
nuum, poder desde o “Minho até ao Tejo”. Nasceu, quase por certo, de uma conju-
A 26 de Outubro de 11116, Urraca foi gação de 3 factores o facto da rainha Ur-
Variadíssimos indícios existentes apon- derrotada na batalha de Candespina, po- raca ter concedido à Infanta Teresa, sua
tam, contudo, para uma actuação astuta voação próxima de Sepúlveda, pertencen- irmã, um vastíssimo e amplo território de
na política territorial de Portugal e seus te ao conde Gomes Gonçalves (amante da mais de 22 cidades e praças em território
domínios, como por exemplo o documen- rainha), que havia de ser morto pelo pró- leonês, entre as quais estavam Zamora,
to de 25 de Abril de 1109, em Oviedo, prio D. Henrique, o que não contribuiu para Salamanca, Portillo, Ávila, Ribera, Talave-
em que se qualifica D. Henrique como te- as boas relações entre ambas as infantas. ra e Cória: a necessidade de sedentarizar
nente de Tineo (povoação asturiana que Mais tarde, D. Henrique romperia o acordo populações e criar mais hipóteses de de-
pertenceu ao conde Muño Cannis, des- com o rei aragonês e unir-se-ia, de novo, a fesa na guerra contra os mouros a Sul de
cendente de Jimena Muniz, mãe da infan- Urraca. Coimbra – concedendo à irmã novos terri-
ta D. Teresa). Outra forma de prosseguir, tórios e, portanto, dando-lhe a capacidade
com determinação, a autonomização para
com a monarquia leonesa, foi a doação do
mosteiro de Lorvão à Sé de Coimbra (29
de julho de 1109), intensificando, assim,
uma política eclesiástica com uma acção
de defesa dos territórios limítrofes (e tam-
bém a carta de couto – de 25 de março de
1110 – a Tibães, a Pedro Mendo e a Paio
Peres, ascendentes do futuro arcebispo
de Braga, D. Paio Mendes), o que tinha
uma relação directa com um apoio claro,
e expresso, às sés episcopais portuguesas
consagradas por Roma (Braga, Coimbra,
Lamego e Viseu). Também no reforço da
identidade das vilas e das cidades houve
um intenso trabalho estratégico-político;
o foral do Sátão, provavelmente um dos 3
mais antigos de Portugal, foi concedido a
9 de Maio de 1111.
A 21 de Julho de 1110, confirmaram car-
ta de couto à Sé de Viseu, e, a 29 de Ou-
FEVEREIRO 2016 19