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REVISTA DA ARMADA | 504

A GÉNESE DA

POLÍCIA MARÍTIMA

APolícia Marítima é uma força voca-            Ocupação da América do Norte entre franceses e ingleses em 1750.
     cionada para exercer a autoridade do
Estado no mar, particularmente na zona           No final do século XVIII a Europa conti-                        impedimento de entrada dos navios ingle-
ribeirinha. Embora a sua atuação se faça,      nuava a viver grandes disputas geoestraté-                        ses nos portos portugueses, a cedência de
hoje em dia, com competências próprias, a      gicas, com a França de Napoleão Bonapar-                          uma ou mais províncias portuguesas aos
sua génese, evolução e constituição estão      te a tentar ganhar posições de influência                         espanhóis e, ainda, o pagamento de uma
intimamente ligadas à Marinha. Este artigo     sobre um grande espaço geográfico. Os                             indemnização a franceses e espanhóis pe-
descreve o enquadramento histórico e a         jogos de alianças decorriam de acordo com                         los prejuízos sofridos, aquando das campa-
génese da Polícia Marítima.                    a evolução das tropas no terreno, tendo a                         nhas do Marquês de Niza e de Lord Nelson,
                                               Espanha alinhado com a França, manten-                            no final do século anterior. Portugal não
  A segunda metade do século XVIII e o         do Portugal a sua tradicional aliança com a                       aceitou estas condições, pelo que foi in-
início do século XIX foram particularmente     Inglaterra. Foi neste enquadramento que,                          vadido pela Espanha, dando início a uma
marcados pelas disputas geoestratégicas        em 1798 e 1799, uma armada portugue-                              guerra que ficou conhecida por guerra das
entre a Inglaterra e a França. A Inglaterra    sa, comandada por D. Domingos Xavier de                           laranjas. Foi tomado muito território alen-
afirmava-se como a maior potência maríti-      Lima, 7º Marquês de Niza, se combinou,                            tejano, incluindo a vila de Olivença, o que
ma do mundo, enquanto a França tentava         com uma armada de Inglaterra, comanda-                            forçou Portugal a voltar à mesa das nego-
o domínio do espaço territorial europeu        da por Lord Nelson, e atacou, com sucesso,                        ciações. Um acordo de paz assinado entre
e o seu crescimento ultramarino. Nessa         os interesses franceses em Malta e Nápo-                          a França e Portugal deu por finda a invasão
época, a Inglaterra e a França disputavam      les.                                                              espanhola, mas manteve-se a exigência de
territórios na América do Norte. Os france-                                                                      uma elevada indemnização e de cedência
ses ocupavam o Canadá, os grandes lagos          Em 1801, ainda no âmbito dos conflitos                          de parte do território nacional.
e todo o território central americano, co-     europeus, Napoleão fez um ultimato a Por-
brindo o espaço geográfico desde o Que-        tugal, que implicava o abandono da aliança                          Numa tentativa de manutenção da neu-
bec à Louisiana, e ao golfo do México. Os      com a Inglaterra, a abertura dos portos na-                       tralidade no conflito entre a França e a
ingleses controlavam a Terra Nova, a zona      cionais aos navios franceses e espanhóis, o                       Inglaterra D. João, o príncipe regente, por
limítrofe da baía de Hudson, parte da Nova
Escócia e toda a costa leste, até ao limite
norte da península da Florida. A grande
disputa iniciou-se no Canadá, tendo os in-
gleses conseguido ganhar posições impor-
tantes, levando os franceses a deslocarem-
-se para o Quebec, no interior continen-
tal. Este conflito, denominado por guerra
dos sete anos, que decorreu entre 1756 e
1763, estendeu-se ao continente europeu,
que se dividiu politicamente em dois gran-
des blocos de países. De um lado a França,
a Áustria, a Suécia, a Rússia e a Espanha,
do outro lado a Inglaterra e a Prússia. Estes
dois blocos disputaram a inclusão de Por-
tugal nas suas alianças. A opção nacional
foi de manutenção da sua neutralidade,
mas conservando as relações de amizade
estabelecidas há muito com a Inglaterra.

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