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REVISTA DA ARMADA | 506
lomeu Dias sido empenhada como cons- OCS. Esta viagem às ilhas Selvagens constitui-se de uma dupla
tituinte essencial da componente marí- vertente: exercer presença naval naquele longínquo arquipélago
tima, durante a fase FTX (Field Training nacional e promover o apoio ao Parque Natural da Madeira em
Exercise) que decorreu a partir de dia 17. termos de rendição dos vigilantes destacados naquela reserva
natural das ilhas Selvagens e diverso material.
Em termos de cenário, foi criado um
quadro fictício assente no “facto” de uma Efetuadas as fainas necessárias, o navio zarpou com rumo sul
potência estrangeira beligerante – “ARC- enfiado na girobússola, para um trânsito noite dentro de cerca
-EN-CIEL” – ter reivindicado direitos de so- de 10 horas. Aos primeiros alvores, o navio aproximou-se da Sel-
berania sobre o Arquipélago da Madeira. vagem Pequena, numa tentativa de permitir a ida a terra da co-
Em paralelo a esta reivindicação, ARC-EN- mitiva VIP e dos OCS para sensibilização de questões ambientais
-CIEL há muito que vinha a reforçar signi- associadas àquela ilha, contudo tal desiderato foi impedido pe-
ficativamente o seu sistema de segurança las condições meteorológicas que desaconselharam tal projeção
interna e o seu aparelho militar, inves- para terra. O navio seguiu então para a Selvagem Grande, que
tindo fortemente na compra de diverso se localiza a cerca de 10 milhas a nordeste da Selvagem Peque-
armamento e equipamento bélico, tudo na, para se iniciarem os preparativos para o desembarque para
sempre acompanhado de um discurso po- aquele maciço vulcânico que geologicamente é mesmo mais an-
lítico inflamado e tendente a comprome- tigo que a ilha da Madeira. Uma vez lá chegados, com o navio
ter a segurança e estabilidade na região. a pairar, procedeu-se à projeção para terra de todo o pessoal e
Os acontecimentos iriam precipitar-se material tendo sido fundamentais as capacidades da Unidade de
após uma interceção e arresto de uma Meios de Desembarque (UMD) dos Fuzileiros nesta manobra.
embarcação de pesca portuguesa a operar junto às ilhas Selva- As condições meteorológicas não estavam de feição, obrigando
gens, numa intervenção da Marinha daquele país executada to- a uma permanente manobra de posicionamento do navio que
talmente à margem do direito internacional. Praticamente em si- permitisse o desembarque em condições de segurança. No en-
multâneo ocorria um aumento da escalada de tensão, através de tanto, o excelente desempenho da UMD facilitou sobremaneira
diversas movimentações suspeitas de meios navais e aéreos não a projeção e, ao final da tarde, o reembarque.
identificados, nos mares territoriais portugueses e na respetiva
ZEE (Zona Económica Exclusiva). Neste âmbito, e face ao agra- Em terra foram desenvolvidas diversas iniciativas de caráter
vamento da situação, o Governo Português decidiu aumentar o mediático, designadamente a sensibilização acerca dos proble-
grau de vigilância e presença no Espaço Estratégico de Interesse mas da biodiversidade marinha. Após estas atividades em terra, e
Nacional Permanente (EEINP), centrado nas Ilhas do Arquipélago uma vez regressadas a bordo todas as entidades e OCS, a fragata
da Madeira, com o propósito de incrementar a prevenção e os ní- Bartolomeu Dias rumou ao Funchal para desembarcar todos os
veis de dissuasão face a possíveis violações do espaço territorial visitantes, o que sucedeu aos primeiros alvores do dia seguinte.
português, bem como de assegurar a necessária e firme defesa
dos interesses nacionais na ZEE. Foi uma missão bastante preenchida e com enorme visibilida-
de tanto para o navio como para a Marinha, que uma vez conclu-
Com este enquadramento e para se poderem cumprir os desi- ída encheu de satisfação a sua guarnição pelo dever cumprido
deratos do exercício, participaram mais de 600 militares, incluin- com o brio e profissionalismo que se espera da Briosa. A abertura
do estruturas de comando e controlo em terra e meios aéreos do navio a visitantes, nos dois dias em que esteve atracado no
e projetados no mar. Em destaque, e para além da Bartolomeu Funchal, possibilitou ainda o contacto da população madeirense
Dias, é de realçar a participação de um batalhão de infantaria e com uma das duas fragatas mais modernas da sua Marinha.
de baterias antiaéreas do Exército, das aeronaves de transporte
C-130, C-295, helicópteros EH-101 e aeronaves não tripuladas da Colaboração do COMANDO DO NRP BARTOLOMEU DIAS
Força Aérea, bem como do NRP Cuanza, a unidade naval estacio-
nada da RAM. No que às operações navais diz respeito, o exer-
cício Zarco 152 constitui-se como uma importante oportunidade
para o exercício e treino dos meios e da força naval envolvidos,
tendo sido realizadas operações de interdição marítima, controlo
do mar, abordagem a navios suspeitos e projeção de meios anfí-
bios de assalto para terra.
PRESENÇA NAVAL NAS ILHAS SELVAGENS
Findo o exercício Zarco 152, ao largo de Porto Santo, a fraga-
ta Bartolomeu Dias, com o Comandante Naval VALM Pereira da
Cunha a bordo, dirigiu-se de imediato ao Funchal para uma es-
cala de escassas horas, a fim de embarcar o Representante da
República para a RAM, juiz-conselheiro Irineu Cabral Barreto, a
Secretária Regional do Ambiente, Dra. Susana Prada, o Coman-
dante Operacional da Madeira, Major-general Marco Serronha, o
Comandante da Zona Marítima da Madeira, CMG Félix Marques,
bem como diversas outras individualidades regionais e diversos
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