Page 8 - Revista da Armada
P. 8
REVISTA DA ARMADA | 506
O TORPEDO
E AS CONTRAMEDIDAS
Foi na terça-feira, dia 16 de fevereiro, aproveitando uma acal- não se esbate após o lançamento da arma, bem pelo contrário.
mia nas condições meteorológicas que nessa semana se Logo que foi dada a ordem de lançamento e confirmada a sua
mostravam adversas, que o NRP Tridente e NRP Arpão largaram saída do tubo, a atenção volta-se para o sargento de operações
da Base Naval de Lisboa para a execução de uma série de exer- responsável pela condução da arma, mantendo este os neces-
cícios em conjunto, designado por JOINT WOLFPACK. O ponto sários relatos dos diversos parâmetros do torpedo (cota, rumo,
alto seria o lançamento de um torpedo Black-Shark de exercício velocidade, contactos do torpedo e outros).
em modo ASW pelo NRP Arpão, sendo lançadas medidas anti-
torpédicas como medida defensiva pelo NRP Tridente. Apesar Do outro lado, a bordo do NRP Tridente, o planeamento pre-
de já terem sido efetuados diversos lançamentos de torpedo visto para este exercício era cumprido com rigor. A presença
de exercício por estes submarinos, este seria um dos primeiros de um submarino na área que iria empregar um torpedo fazia
contra um outro alvo submarino e, principalmente, a primeira com que a tensão fosse elevada. À medida que se aproximava a
vez a serem lançadas as medidas antitorpédicas que equipam fase final, a concentração na deteção de um possível contacto
estes navios, permitindo aferir a sua eficácia, a reação do tor- submarino era total. Todos os sistemas estavam prontos, nome-
pedo e também a capacidade da guarnição operar esta arma adamente o sistema de contramedidas antitorpédicas. A dete-
num ambiente submarino/acústico altamente complexo e satu- ção do torpedo seria fundamental para uma reação atempada,
rado. A expetativa era enorme, tanto face à importância deste sendo que um segundo poderia fazer a diferença. Apesar do
lançamento de torpedo contra um alvo submarino, como pelo sistema de combate ter a capacidade de deteção automática de
lançamento inédito das TCM1. um torpedo e o sistema TCM poder, na sequência desse alar-
me gerado, lançar autonomamente as contramedidas, toda a
A saída coordenada do porto de Lisboa foi a primeira série do equipa do ISUS5 a bordo do NRP Tridente encontrava-se na sua
JOINT WOLFPACK, que incluía também alguns exercícios entre máxima atenção. No caso de não ser detetado automaticamen-
os dois submarinos tendo, inclusivamente, o apoio de um P3C+ te o torpedo, havia que reagir de forma instintiva e gerar um
da FAP2 numa das séries mais avançadas. alarme manualmente, permitindo com isso a continuidade da
restante sequência de lançamento dos engodos defensivos e
No dia seguinte, pouco depois do nascer do sol, foram con- manobras do navio. Os relatos em lançamentos de torpedos an-
firmadas as condições meteo-ocenográficas favoráveis para a teriores revelavam que o torpedo Black-Shark era extremamen-
recolha do torpedo de exercício, permitindo assim o seu lan- te silencioso e a sua deteção difícil de conseguir. Com este facto
çamento pelo NRP Arpão. Nesta sequência, seguindo o plane- em mente, passados três minutos após a comunicação do NRP
amento definido, foi difundido por todo o interior do Arpão o Arpão no telefone submarino que o torpedo tinha sido lançado,
estabelecimento da condição especial para o lançamento de o torpedo é detetado no sistema de combate do Tridente, ten-
armas. Tinha chegado o momento para pôr em prática as várias do sido despoletado o necessário Alarme e lançada a salva das
horas de treino realizadas assim como as lições aprendidas dos contramedidas previstas. Tendo o sistema CIRCE6 funcionado na
lançamentos anteriores. Depois de ocupados todos os postos, perfeição, com o Swing-out Device7 de BB a abrir e a serem lan-
o chefe de operações comunica as intenções à equipa que tem çadas as contramedidas, precipitam-se as ordens de cota, rumo
à sua frente no sistema de combate: lançar um torpedo contra e motor de forma a cumprir com o aconselhamento daquele
um alvo submarino com capacidade de defesa antitorpédica sistema e tornar a evasão ao torpedo o mais eficaz possível.
sendo a prioridade imediata conseguir uma boa solução para
a posição do alvo. Foi o mote inicial para todos executarem as A poucas milhas de distância, o NRP Arpão mantinha a porta
suas tarefas como se de um relógio se tratasse: o responsável posterior do tubo número 1 aberta, por onde saía o cabo de fi-
pela deteção e seguimento do alvo recorre a todas as ferramen- bra ótica que permitia a comunicação com o torpedo. Os relatos
tas para garantir os azimutes corretos ao alvo para “alimentar” periódicos do estado da arma foram subitamente interrompi-
o TMA3, onde outra peça do relógio garante que o sistema en- dos pela informação do sonar que detetou, no azimute do alvo,
contra uma solução coerente e válida para o posicionamento do um ruído correspondente a possíveis contramedidas lançadas
alvo, neste caso o NRP Tridente. Os relatos da solução encontra- como reação defensiva. A dúvida foi clarificada com a poste-
da sucedem-se, até ser atingido um grau de confiança dentro rior alteração evidente nos sonares. Nos minutos subsequentes
da tolerância para o emprego de uma arma, permitindo prosse- seguiu-se uma elevada quantidade de manobras executadas,
guir o procedimento final para lançamento do torpedo. Sendo pelos submarinos e pelo torpedo, este último controlado pelo
o torpedo Black-Shark filo-guiado4 a atenção de toda a equipa operador a bordo do NRP Arpão. A “dança” entre o torpedo
8 ABRIL 2016