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REVISTA DA ARMADA | 511






          UM OFICIAL




          CONTROVERSO





          WILLIAM BLIGH











          VERDADES E MITOS




              illiam Bligh nasceu em St. Tudy, Cornualha, a 9 de Setem-
         Wbro de 1754. Alistado na Marinha Real com apenas 7 anos,
          uma prática comum entre os filhos de boas famílias, no senti-
          do de lhes dar os necessários anos de serviço para uma rápida
          ascensão na carreira naval, embarcou, como criado do Coman-
          dante, no HMS Monmouth. Em 1770, embarca novamente, com
          o posto de marinheiro (apenas uma designação oficial, uma vez
          que não havia vagas para aspirantes), no HMS Hunter. Seria, efec-
          tivamente, empossado como aspirante, naquele navio, em 1771.
          Voltaria, no entanto, a servir novamente como marinheiro e, de-
          pois, como contramestre, a bordo do HMS Ranger.
           Em  1776,  Bligh  foi  escolhido  pelo  Comandante  James  Cook
          como oficial de navegação do seu navio, o Resolution, o que para
          um jovem de 22 anos era uma grande distinção, e uma indica-
          ção segura de demonstradas aptidões marinheiras. Acompanhou
          este famoso navegador na sua terceira e última viagem ao Pa-
          cífico (o grande comandante acabaria morto às mãos dos indí-
          genas havaianos), tendo fornecido importantes detalhes desta
          expedição – de onde sobressaem rigorosos levantamentos hidro-
          gráficos – após o seu regresso à Inglaterra. Os seus minuciosos
          registos, onde revela notáveis dotes para a escrita, muito contri-
          buíram para reconstituir os últimos passos de Cook.
           Casa, em 1781, com Elizabeth Betham, filha de um funcionário
          de alfândega e, nos dois anos seguintes, já como primeiro-tenente,   William Bligh (retrato pintado em 1814).
          combate os holandeses no Mar do Norte, sob as ordens do Almi-
          rante Hyde Parker, e os franceses, em Gibraltar, com Lord Howe.  mento de fruta-pão entre o Taiti e as Índias Ocidentais britânicas
           Em 1783 entra ao serviço da Marinha Mercante. Depois de ter   – aliás, fora adquirido pela Marinha especificamente para aquele
          comandado  o  navio  mercante  Lynx e servido, como  Imediato,   propósito –, tendo em vista testar a utilização daquela planta na
          a bordo do Britannia, foi, em 1787, após o regresso à Marinha   alimentação dos escravos. Os talentos de navegador revelados
          Real, nomeado para o comando do brigue Bounty, ao qual o seu   por Bligh e o seu conhecimento do Pacífico terão pesado decisi-
          nome viria a ficar indelevelmente ligado.           vamente na sua nomeação.
                                                                O Bounty era um pequeno veleiro de 215 toneladas que, sendo
          REVOLTA NO  BOUNTY                                  oficialmente classificado como um cutter, tinha no Comandante
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                                                              o único oficial da lotação (num total de 46 homens). Seguiam-se-
           Quando  largou  de  Spithead,  a  23  de  Dezembro  de  1797,  o   -lhe, na hierarquia, na qualidade de warrant officers, o Mestre
          Bounty tinha como missão efectuar o transporte de um carrega-  e dois contramestres que, naquele caso particular, gozavam de



                                                                                           SETEMBRO/OUTUBRO 2016  17
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