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REVISTA DA ARMADA | 514
A GUERRA HÍBRIDA RUSSA
E OS "PEQUENOS HOMENS VERDES"
VITÓRIA OU DERROTA?
Quando as forças especiais russas, sem insígnias nem identificações, mas apoiadas por uma poderosa máquina militar, tomaram a
Crimeia no final de fevereiro de 2014, parecia que estávamos perante o início de uma nova era de fazer a guerra, apesar do modus
operandi empregue, neste tipo de contexto, não ser totalmente desconhecido. Contudo, a abordagem operacional russa utilizada
trouxe muitas curiosidades e, quiçá, ensinamentos, de que podemos todos tirar algumas lições. É o que se propõe no presente artigo,
sujeito a outras visões, opiniões e certamente mais bem informadas do que aquelas que o autor aqui pretende partilhar.
conflito na Ucrânia demonstrou que Moscovo, ainda que Embora não sejam totalmente novas, estas táticas foram ape-
Ocom um decréscimo dos seus indicadores económicos, lidadas como sendo uma novidade. Algo que foi bem reconhe-
numa tentativa de reconciliar as suas ambições regionais e re- cido pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas
avivar a sua história imperial, tem vindo a desenvolver um novo russas, General Valery Gerasimov, num artigo de 2013, no qual
estilo de guerrilha geopolítica alavancando a sua reconhecida ca- ele observou o crescente papel das organizações não-militares
pacidade nas operações de informações, deceção, simulação e como meios para alcançar objetivos políticos e estratégicos, que,
violência, direcionando-as para maximizar as oportunidades que em muitos casos, já ultrapassaram o poder das armas. Acrescen-
se apresentam. ta que na ortodoxia do Kremlin, no que se refere às lições da
No princípio da crise, as táticas russas foram desenhadas para “Primavera Árabe”, aquele desastre humanitário foi resultado
evitar a atrição ou ação cinética diretas, garantindo assim que de campanhas Ocidentais dissimuladas para gerar mudanças de
os combates posteriores pudessem ocorrer nos termos que mais regimes. Diz, ainda, que os conflitos modernos já não são anun-
lhes convinham. A reforçar este instrumento militar, uma varie- ciados e que, depois de terem começado, em questão de meses
dade de outros atores foram utilizados a seu favor – uns óbvios e ou mesmo dias, transformam-se num atoleiro de caos, catástrofe
públicos, como aliados regionais e internacionais, e outros mais humanitária e guerra civil. Conclui, dizendo que esses conflitos
discretos, como os grupos armados separatistas. Este quadro foi tornam-se vítimas de intervenções estrangeiras que tarde ou
ainda mais colorido, com operações psicológicas, pressões eco- nunca resolvem a bom termo as crises instaladas.
nómicas, campanhas diplomáticas, ações de espionagem e reco- Há uma variedade de razões pelas quais a Rússia de hoje opera
lha de informações, entre outras atividades. desta forma. Ainda segundo Gerasimov, o uso aberto de forças,
JANEIRO 2017 15