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REVISTA DA ARMADA | 526


           No entanto, esta abordagem solidária   pretensamente legiƟ mados pela CNUDM.   centrada na sustentabilidade e precau-
          foi contrabalançada por um reforço dos   A esse propósito, o orador evidenciou os   ção, a qual deve predominar em áreas
          poderes soberanos e de jurisdição sobre   casos, que designou como “pouco orto-  como a invesƟ gação  cienơ fi ca, a segu-
          o mar, que se traduziu na defi nição  da   doxos”, da Rússia, da Austrália, da China,   rança e defesa, e o ambiente, em que não
          largura de 12 milhas para o mar territo-  do Canadá, da Dinamarca, da Noruega,   se pode dispensar a intervenção estatal,
          rial, na possibilidade de estender a zona   de alguns países africanos, do Chile, da   capaz de esƟ mular as aƟ vidades económi-
          conơ gua até às 24 milhas e, sobretudo, na   ArgenƟ na e do próprio Brasil. Segundo   cas relacionadas com o mar.
          criação da Zona Económica Exclusiva e na   o Prof. André Panno Beirão, estas pre-  AƟ vidades económicas essas que o ora-
          redefi nição da Plataforma ConƟ nental.  tensões de expansão da soberania e da   dor seguinte, o Prof. Félix Ribeiro, procu-
           Neste âmbito, a Prof. Marta Chantal   jurisdição sobre os mares e sobre as suas   rou sistemaƟ zar em seis grandes áreas
          Ribeiro abordou o equilíbrio – que desig-  riquezas está a relegar para segundo   que importa recordar:
          nou como “possível” – entre:      plano o espírito da CNUDM e do direito   •  Transporte maríƟ mo e logísƟ ca global;
           •  os direitos de exploração e aproveita-  maríƟ mo em geral, muito assente no uso   •  Recursos energéƟ cos, como petróleo,
            mento de recursos naturais,     pacífi co e sustentável do mar por todos   gás, energias renováveis e biocombus-
           •  as liberdades clássicas do mar (como   os povos, ou seja, no referido conceito do   ơ veis;
            as de sobrevoo, de navegação, de   mar como “res communis omnium”.   •  Recursos minerais;
            pesca, de invesƟ gação cienơ fi ca mari-  Naturalmente, essas pretensões estão   •  Pescas, aquacultura e biotecnologia;
            nha e de colocação de cabos ou ductos   muito ligadas às potencialidades econó-  •  Tecnologias de monitorização e prote-
            submarinos) e                   micas do mar, o que consƟ tui um bom   ção do ambiente oceânico;
           •  as preocupações ambientais e de apro-  mote para se abordar o segundo painel   •  Engenharia oceânica e tecnologias
            veitamento sustentável dos recursos   deste seminário, precisamente dedicado   subaquáƟ cas.
            vivos.                          aos aspetos económicos.              O Prof. Félix Ribeiro apresentou depois
           O confronto entre direitos e liberdades,                            algumas das principais oportunidades
          a que acrescem as preocupações coleƟ vas                             para uma nação maríƟ ma como Portugal,
          com a proteção do ambiente marinho,   2º PAINEL                      enfaƟ zando que a economia do mar tem
          tem a virtude de esƟ mular a evolução   E o primeiro orador deste segundo pai-  que fazer parte de uma nova carteira de
          do quadro jurídico aplicável, sendo que a   nel, o Prof. João Confraria, começou por   aƟ vidades exportadoras que contribuam
          Prof. Marta Chantal Ribeiro exemplifi cou   idenƟ fi car as várias formas de analisar o   para um crescimento mais rápido. Isso
          essa evolução com a expetaƟ va de, em   valor económico do mar, nomeadamente   implica buscar aƟ vidades com forte pro-
          2018, a Assembleia Geral das Nações Uni-  através de:                cura mundial e que, naturalmente, exi-
          das poder decidir pela abertura de nego-  •  Crescimento económico;  girão qualifi cações e conhecimento, os
          ciações para um acordo internacional de   •  Valores não mercado; e  quais implicam uma aposta decidida na
          desenvolvimento da CNUDM, capaz de   •  Sustentabilidade e precaução  invesƟ gação e desenvolvimento.
          regular a conservação e a uƟ lização sus-  A aproximação baseada no crescimento   Naturalmente, todas estas oportunida-
          tentável da biodiversidade além da juris-  económico é a mais popular para subli-  des de desenvolvimento pressupõem a
          dição nacional.                   nhar a importância do mar para os deciso-  existência de um clima de segurança no
           Esta possibilidade enquadra-se no tal   res políƟ cos, incidindo tradicionalmente,   mar, pois sem segurança maríƟ ma  todo
          entendimento do mar como “património   em indicadores como o Produto Interno   o potencial da economia do mar  fi caria
          comum da Humanidade”, a que se con-  bruto (PIB) ou o Valor Acrescentado Bruto   seriamente compromeƟ do.
          trapõe uma abordagem mais centrada na   (VAB).
          apropriação estatal dos oceanos, que o   A segunda abordagem baseia-se no valor
          nosso segundo orador mostrou ser uma   não mercado dos recursos maríƟ mos, i.e.,   3º PAINEL
          realidade bem atual. O Prof. André Panno   o valor dos bens e serviços fornecidos   E isso leva-nos ao terceiro painel deste
          Beirão abordou essa realidade – que ape-  pelo mar e pela costa, que não são ven-  seminário, em que, por facilidade de
          lidou de “territorialização do mar” – sub-  didos e não têm preço direto de mercado,   encadeamento das ideias que pretendo
          linhando que esse avanço estatal sobre   como por exemplo as idas à praia e outras   sinteƟ zar, não vou seguir a ordem das
          os mares tem ocorrido de forma não tão   uƟ lizações recreaƟ vas da praia e do mar.  apresentações e vou começar pela inter-
          belicosa como outrora, antes se desen-  Finalmente, o Prof. João Confraria abor-  venção do Prof. Heitor Romana, que
          volvendo sob o manto dos mecanismos   dou a importância de uma aproximação   abordou o papel da cultura estratégica
                                                                               na elaboração de uma grande estratégia
    3º Painel                                                                  nacional, capaz de enquadrar, natural-
                                                                               mente, o poder naval e maríƟ mo. Nesta
                                                                               óƟ ca, o Prof. Heitor Romana recordou a
                                                                               defi nição do Prof. Colin Gray para ‘cultura
                                                                               estratégica’, que em termos algo simplis-
                                                                               tas pode ser entendida como o ambiente
                                                                               emocional e comportamental, em que a
                                                                               comunidade da segurança e defesa opera
                                                                               e elabora. A ‘cultura estratégica’ é, assim,
                                                                               infl uenciada pela geografi a  políƟ ca  e
                                                                               İ sica, pela história, pela ideologia políƟ ca
                                                                               e religiosa, e pela capacidade tecnológica,
                                                                               entre outros aspetos. Neste quadro, o
                                                                               orador idenƟ fi cou os elementos que per-


                                                                                                  FEVEREIRO 2018  5
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