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REVISTA DA ARMADA | 539
STRIKFORNATO
A PROJEÇÃO DE PODER NO DOMÍNIO MARÍTIMO ATUAL
Portugal foi instrumental na globalização e exploração marítima há mais de 500 anos, com exploradores como Bartolomeu Dias,
Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, que deixaram à Humanidade um enorme legado neste domínio. Nos dias de hoje, Portugal
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tem localizado no seu território o Quartel-General (QG) da Standing Naval Striking and Support Forces NATO, conhecida pelo acró-
nimo STRIKFORNATO (SFN), pelo que continua a ser chave para a estabilidade e avanço na área marítima. A SFN é um QG combatente
de nível operacional que, quando ativado, se constitui como uma força marítima da NATO de primeira linha e de projeção rápida para
qualquer área de operações de interesse da NATO.
o longo da História da Humanidade, a Joint Force Command Lisbon (JFC Lisbon). das grandes forças navais e anfíbias norte-
Acivilização mundial sempre se baseou Dependendo diretamente do SACEUR, a -americanas em operações da NATO.
no Mar para realizar comércio, viajar e SFN constitui-se como um comando que Imediatamente abaixo do nível NETF, a SFN
procurar recursos. Com cerca de 40% da garante ao patamar estratégico da NATO pode também operar como JHQ (M/E) face
população mundial a viver até 100 km da uma força com capacidade de projeção de a uma situação de crise, fora de área e den-
linha de costa e sabendo-se que cerca de poder credível, podendo ser escalável e tro do espectro de missões “não-Artigo 5º”.
90% das trocas comerciais entre os paí- configurável em função dos requisitos ope- O nível de resposta pode ser graduado em
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ses são realizadas por via marítima, é por racionais. A flexibilidade e versatilidade da função da missão requerida, sendo que o
demais evidente que estas trocas baseadas SFN ficam demonstradas através das suas comandante da SFN configurará adequa-
no mar se mantenham no futuro, pelo que 3 missões principais: NATO Expanded Task damente o seu Estado-Maior para liderar
é necessário manter uma forte presença Force (NETF), Joint Headquarters Mari- o esforço pretendido. Esta versatilidade
marítima, com capacidade de exercer o time/Expeditionary (JHQ M/E) e Maritime permite ao SACEUR envolver um único
controlo do mar (sea control), de maneira Ballistic Missile Defence (BMD). comando na execução de diversas missões
a responder às permanentes ameaças e Na parte mais alta do espectro opera- no domínio marítimo, simplificando o pro-
desafios. A SFN desempenha um papel - cional (artigo 5 do Tratado do Atlântico cesso de decisão ao nível estratégico.
-chave na NATO, graças à sua natureza Norte), a SFN pode ser empregue como A terceira missão principal da SFN é exer-
flexível e versátil. Fundada em 1953, NETF, num registo de defesa coletiva e cer o controlo operacional dos meios navais
originalmente como Naval Striking and com um esforço militar máximo de res- BMD quando transferidos para a NATO.
Support Forces Southern Europe (STRIK- posta a uma determinada ameaça. Nesta A SFN assumiu esta capacidade em 2016,
FORSOUTH), em Nápoles (Itália), este QG função, a SFN tem o comando e controlo embora as suas responsabilidades e missões
teve como propósito inicial responder às de múltiplos grupos de combate para continuem em permanente evolução. A SFN
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ameaças emergentes, à época, no teatro influenciar as operações a partir do mar. integra e sustenta as forças marítimas BMD
do Mediterrâneo e, por conseguinte, pro- Não obstante estes grupos de combate da Aliança Atlântica, em apoio do Comando
teger o flanco sul das forças norte-ameri- poderem integrar contributos dos países Aéreo da NATO . Pese embora esta tarefa
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canas estacionadas na Europa central. Em NATO, a estrutura de força e de comando seja altamente especializada, a SFN está
2004, mudou a sua designação para SFN da SFN assenta essencialmente na Sexta particularmente preparada para a desem-
e alargou as suas responsabilidades para Esquadra norte-americana (C6F), cujo penhar devido à partilha de comandante
toda a área de operação da NATO, tendo comandante é, em acumulação, também com a C6F, que verdadeiramente detém os
em 2012 sido relocalizado para Oeiras, o comandante da SFN. Este arranjo de meios BMD na sua estrutura.
como contrapartida da extinção do então comando permite (e facilita) a integração Fora deste leque de missões, num cená-
rio de paz, a SFN realiza planeamento,
treino e coordenação em diversas áreas,
designadamente para a participação em
exercícios de treino, ou de certificação,
tais como as séries de exercícios BALTOPS ,
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Trident Juncture, Trident Jupiter e Formida-
ble Shield, entre outros. Adicionalmente,
o Estado-Maior da SFN permanece num
estado de elevada prontidão, para ser
empregue no planeamento de uma missão
real ou ser projetado, para qualquer parte
do mundo, em 5 dias. A resposta imediata
a qualquer indicador de crise pode ser efe-
tuada através do seu Centro de Operações
conjunto (Joint Operations Centre), em
Oeiras, e caso se trate de uma resposta
mais prolongada ou de larga escala, o Esta-
do-Maior muito provavelmente usará a sua
plataforma de comando por excelência, o
USS Mount Whitney .
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20 ABRIL 2019