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REVISTA DA ARMADA | 540
TREINAR COMPETÊNCIAS:
O SIMULADOR COMO CAMPO DE TREINO
“Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo”
Provérbio africano
avegar num mar repleto de um número crescente de navios todos conseguem estar prontos para participar nas diferentes
Nimplica ter a preocupação permanente com a segurança operações do navio e executar as tarefas imprescindíveis para
da navegação. Garantir que o navio percorre o rumo planeado, evitar o acidente ou incidente no mar ou atuar de imediato se
sem incidentes, de forma eficiente e cumprindo o planeamento ele acontecer.
é prerrogativa do comandante. As orientações para esta navega- Costuma utilizar-se a expressão “treino duro, combate fácil” e é
ção segura surgem da Organização Marítima Internacional (IMO, assim que devemos olhar o treino para preparar um navio para
do inglês International Maritime Organization), com os requisitos navegar. Desenvolver esquemas de treino que “puxem” pela guar-
para o treino de quem opera no mar ditados pela Standards of nição, que a façam testar os seus limites aos mais diversos níveis,
Training, Certification and Watchkeeping for Seafarers (STCW) de garantindo que todas as equipas estão a evoluir sem que ninguém
1978 e as suas alterações introduzidas pela STCW Convention & corra riscos desnecessários são os objetivos que devem estar em
Code 2010 Manila Amendments. cima da mesa quando se pensa o treino.
Em 2017, foi publicado, na Revista da Armada, o artigo “2017: O Treinar equipas para andar no mar implica exigir-lhes níveis ele-
ano da mudança para a Gestão de Recursos da Ponte (BRM)” com vados de resposta. Afinal, de que outra forma se conseguirá dar
o objetivo de trazer à luz algumas das principais alterações que resposta plena caso o navio sofra uma ameaça submarina ou
estavam a ser introduzidas pela IMO quanto ao treino da consciên- aérea? Mas querer garantir que as equipas estão treinadas para a
cia do ambiente marítimo, liderança e trabalho em equipa. Este missão real implica gastos e nem sempre a operação de navios está
artigo referiu o conceito de Gestão de Recursos da Ponte (BRM, do livre de constrangimentos. É aqui que entra o treino em simulado-
inglês Bridge Resource Management), assinalando a importância res, fundamental para reduzir custos de operação de navios, mas
de treinar competências para potenciar o nível de proficiência dos garantindo que se consegue treinar a grande maioria dos cenários
elementos que operam em contexto marítimo. que as equipas irão encontrar na realidade.
O presente artigo é o primeiro de um conjunto de cinco destina- Todos já passámos por algum tipo de treino e bem conhecemos a
dos a abordar as principais competências em que assenta o BRM realidade em que, quando não conseguimos ligar o que estamos a
e a demonstrar a importância do treino em simulador quando se treinar com a realidade, perdemos a motivação e o treino deixa de
treina elementos para operar em contexto marítimo. Neste pri- ter significado ou importância para nós. Quando se pretende dimi-
meiro artigo, o foco será a importância de desenvolver competên- nuir o efeito do erro humano nas operações navais, nunca se pode
cias não-técnicas nos militares embarcados, recorrendo aos simu- perder a linha condutora entre o que é treinado e a realidade, para
ladores existentes na Marinha como ferramentas essenciais a esse se garantir a motivação das equipas e que os objetivos do treino
desenvolvimento. são alcançados e transferidos para as missões reais.
Um esquema de treino bem-sucedido deve garantir um conjunto
SIMULADOR E O TREINO DE EQUIPAS de aspetos: (1) objetivo do treino conhecido por todos; (2) crité-
rios de avaliação objetivos comunicados a todos os elementos da
Estar-se desperto para a importância do treino é algo inerente equipa; (3) observação do desempenho individual e da equipa; (4)
à realidade de estar embarcado num navio. O treino é um aspeto avaliação desse desempenho com base nos critérios definidos, e
obrigatório da preparação da guarnição, podendo esse treino (5) garantia de feedback no final do treino, tanto a nível individual
acontecer em situação real ou simulada. Apenas com este treino como da equipa.
12 MAIO 2019