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REVISTA DA ARMADA | 540
Quando se entra um porto como o de Lisboa, repleto de peque- técnica) ou focar-nos no treino de atitudes e de comportamentos
nas embarcações que se atravessam no percurso do nosso navio, (apostando no desenvolvimento da componente não técnica). E
a margem de erro é mínima. Não é nessa situação que vamos será o desenvolvimento efetivo dessas atitudes e comportamentos
ensinar os elementos mais novos nem treinar a equipa pela pri- que permitirá, por um período mais alargado de tempo, garantir que
meira vez. É para isso que os simuladores podem ser utilizados: as aptidões técnicas desenvolvidas pelos indivíduos não se perdem.
para construir equipas coesas, focadas nos seus objetivos, em que A nossa realidade consegue já garantir algum treino deste tipo de
todos os indivíduos se conhecem bem e conseguem antecipar as competências… Ao treinar a guarnição de um navio, aposta-se no
reações dos camaradas e ler bem o que se passa fora do navio. desenvolvimento da competência de liderança dos diferentes che-
Mais, para além de todos estes aspetos, um simulador permite fes de equipa. Treinam-se as vias de comunicações em diferentes
preparar uma equipa para funcionar segundo as competências em cenários e desenvolvem-se os procedimentos (inerentes aos com-
que assenta o BRM: consciência situacional, tomada de decisão, portamentos) essenciais a cada tipo de operação. Desenvolvem-se
comunicação e liderança, apenas para destacar as principais. No as capacidades de briefing e de debriefing para que todos consigam
fundo, temos à disposição todas as condições para ter o BRM a fun- receber a mensagem no menor número de palavras possível. Enfim,
cionar em pleno, com equipas motivadas construindo as melhores são diferentes aspetos do BRM que já são comuns no nosso treino,
atitudes e comportamentos, trabalhando de forma coordenada, mas sem que se pense neles como competências não-técnicas.
auxiliando na decisão do comandante do navio e promovendo a Ter simuladores disponíveis, para treinar todos estes aspetos são
participação de todos. os elementos que podem diferenciar a nossa estrutura de treino
e permitir obter melhores resultados a longo prazo, se se olhar as
O SIMULADOR E AS COMPETÊNCIAS atitudes e os comportamentos de todos os elementos do navio.
NÃO TÉCNICAS Apenas as atitudes e os comportamentos adequados a todas as
situações, esteja o navio a navegar em “águas calmas” ou a ser
Conforme já foi referido anteriormente, um simulador tem a atacado de todas as frentes, permitem diminuir o erro humano e
grande vantagem de podermos treinar equipas com custos mais garantir que o sucesso das equipas perdura por mais tempo.
reduzidos que uma operação real e garantindo a segurança dos
seus elementos. Quando pensamos num simulador de navega- Sandra Cavaleiro
ção ou num simulador do centro de operações de uma fragata, 1TEN TSN-QUI
as primeiras aprendizagens que nos vêm à cabeça são as referen-
tes à componente técnica de estar numa ponte ou num centro de No próximo artigo…
operações. Nem sempre nos lembramos que qualquer um desses Operar em contexto marítimo implica ter a consciência de
simuladores nos permite treinar e adquirir as melhores atitudes onde o navio se encontra, de quem rodeia o navio e do espaço
e os comportamentos mais adequados para funcionarmos em disponível para as manobras que são necessárias. Esta é a
equipa, correspondermos às solicitações do nosso comandante e consciência situacional, o alicerce do BRM, e a competência
conseguirmos um “GOOD” no treino da nossa equipa. sem a qual não é possível tomar decisões, comunicar ou lide-
Quando treinamos equipas podemos focar-nos no treino dos seus rar uma equipa. Este será o tema do próximo artigo.
conhecimentos (apostando no desenvolvimento da componente
MAIO 2019 13