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REVISTA DA ARMADA | 540


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           Não se deverá confundir o afastamento   mais  conturbados  da  Primeira  República   vigente teria de ter obrigatoriamente uma
          da Marinha da luta pelos cargos políticos,   (1910-1926). Com a morte de Sidónio Pais   resposta. Mas unicamente no caso de uma
          com a inovadora ideia atrás referida, que   assiste-se à desagregação de um bloco   infração da ordem vigente. Foi dessa forma
          anteciparia em mais de cinquenta anos a   político  onde  coexistiam  republicanos  e   que João de Canto e Castro atuou há preci-
          criação de um Ministério da Defesa Nacio-  monárquicos. O novo Presidente, ele pró-  samente cem anos.
          nal, que não teria outro intento se não o de   prio um monárquico, nomeou um sidonista              
          ligar os serviços da Marinha aos do Exér-  republicano,  general  Tamagnini  Barbosa,      Carlos Valentim
          cito. A terem fundamento os boatos, não   Presidente  do  Ministério.  Nos  meses  de       CTEN TSN-HIST
          se trataria de abolir unicamente a Secreta-  janeiro e fevereiro de 1919 irrompem gra-
          ria da Marinha, mas também a dos servi-  ves sublevações militares e civis de Norte
          ços que abarcavam o Exército. Nesse caso,   a Sul. No Porto é proclamada a Monarquia;   Notas
                                                                                  Óscar Enrech Casaleiro, João do Canto e Castro. O
          a Marinha receava ficar com menos poder   Santarém é palco de uma revolta repu-  1 Paradoxal, Presidentes de Portugal – Fotobiografias,
          do que aquele que dispunha junto do Par-  blicana;  em  Monsanto  reúnem-se  forças   Coordenação Geral de Diogo Gaspar, Coordenação
          tido Democrático, logo, menos capacidade   monárquicas para derrubar o Governo.   Científica de António Costa Pinto, Lisboa, Museu da
          de influência política.            Canto e Castro, de sensibilidade monár-  Presidência da República, 2006, p.6.
                                                                                  Óscar Enrech Casaleiro, p.11.
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                                            quica,  mas  com  um  sentido  intransigen-  3  Luiza França Luzio, p. 197.
          UMA CURTA PRESIDÊNCIA             temente  legalista,  coloca-se  ao  lado  das   4  Óscar Enrech Casaleiro, p.12.
          DA REPÚBLICA                      instituições republicanas, que acabam por   5  Idem, Ibidem, p. 40.
                                            liquidar  o  restauracionismo  monárquico.   6  Idem, Ibidem, p. 41.
           Após o assassinato de Sidónio Pais, os res-  Unidades  navais,  um  batalhão  do  Corpo   7  Cunha, Norberto Ferreira da, A ordem e a pátria na
          tantes membros do Governo reuniram-se no   de Marinheiros e forças do Exército esma-  acção de um presidente da república monárquico:
                                                                                 Canto e Castro, Revista de História das Ideias, nº 27,
          Governo Civil e, por iniciativa de Vasconcelos   gam a rebelião monárquica no Norte e em   2006,  p.377,  em  linha  https://digitalis-dsp.uc.pt/
          e Sá, Ministro das Colónias, Canto e Castro é   Monsanto.              jspui/handle/10316.2/41653
          proposto para ocupar o cargo de Presidente    No dia 28 de janeiro de 1919, Canto e   8  Idem, ibidem, , p. 388.
          do Governo; depois é proposto pelo Con-  Castro dá posse a um governo de concen-  Fontes
          gresso para Presidente da República.  tração  republicana  chefiado  pelo  Dr.  José   Arquivo Histórico Militar cx 1716
           Um dos pontos que se deve ter presente   Relvas.  Em  junho  desse  ano  o  Congresso   Comércio do Porto 7 de Abril de 1908
          é que este oficial da Marinha teve de ocu-  recusa o seu pedido de demissão – o man-  Bibliografia
          par o lugar do general Sidónio Pais, o Pre-  dato presidencial irá estender-se até 5 de   CASALEIRO,  Óscar  Enrech,  João do Canto e Castro.
          sidente  que  aparecera  como  o  salvador   outubro  de  1919.  Promovido  por  distin-  O Paradoxal,  Presidentes  de  Portugal  –  Fotobio-
          da Pátria e o defensor dos desprotegidos.   ção  a  Almirante,  no  dia  25  desse  mês,  é   grafias,  Coordenação  Geral  de  Diogo  Gaspar,  Coor-
                                                                                 denação  Científica  de  António  Costa  Pinto,  Lisboa,
          Investido no posto de Presidente, Canto e   nomeado Chanceler da Ordem da Torre e   Museu da Presidência da República, 2006; CUNHA,
          Castro abandona o cargo de administrador   Espada e Presidente do Conselho Superior   Norberto Ferreira da, A ordem e a pátria na acção
                                                                                 de  um  presidente  da  república  monárquico:  Canto
          de uma mais importantes empresas ango-  de Disciplina da Armada. Aposenta-se no   e Castro, Revista de História das Ideias, nº 27, 2006,
          lanas nessa época – a Oil Company  ou a   ano de 1932. Faleceu em Lisboa no dia 14   p.377,  em  linha:  https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/han-
          Companhia de Petróleo de Cabinda .   de março de 1934.                 dle/10316.2/41653 (consulta 15/03/2019); FAVA, Fer-
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                                                                                 nando Mendonça,  Canto e Castro, um Monárquico na
           De facto, a moderação política de Canto e    Canto e Castro era reconhecido como um   Presidência da República, Coimbra Cadernos do Centro
          Castro foi uma das razões mais fortes para   homem culto, reto de caráter, inexpugnável   de Estudos Interdisciplinares 20, nº 8, 2008, em linha:
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          que,  após  o  assassinato  de  Sidónio  Pais,   nos  seus  valores,  prudente,  escrupuloso,   (consulta 15/03/2019); LUZIO, Luiza França, “Antunes,
          a  14  de  dezembro  de  1918,  fosse  eleito,   discreto e tolerante .  Sendo um militar, “só   João do Canto e Castro Silva (1862-1934)”, Dicionário
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          pelo Congresso, Presidente da República. O   aceitava  a  legitimidade  da  força  quando   Biográfico Parlamentar 1834-1910, Vol. I (A-C), Maria
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          curto mandato presidencial de Canto e Cas-  ao  serviço  da  lei.”  Fiel aos princípios da   Ciências  Sociais/Assembleia  da  República,  2004,  pp.
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          tro (16 de dezembro de 1918 a 5 de outu-  Constituição de 1911 e à ação legalista do   196-197; OLIVEIRA, Maurício de, O Drama de Canto e
                                                                                 Castro, Lisboa, Editora Marítimo Colonial, 1944.
          bro de 1919) é exercido num dos períodos   Estado,  qualquer  revolta  contra  a  ordem
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