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REVISTA DA ARMADA | 545
AUGUSTO EDUARDO NEUPARTH
(1859-1925)
ENGENHEIRO-HIDRÓGRAFO, MINISTRO E COMANDANTE OPERACIONAL
presente ano de 2019 é parƟ cular- em Lisboa a 11OUT1859. Será o mais velho intérprete e secretário a expedição no rio
O mente rico em comemorações evoca- de quatro irmãos. Após a morte do pai em Zaire, durante a qual foi assinado um acordo
Ɵ vas aquando aniversários (em números 1887, os negócios de música, composição, de paz e amizade – o Tratado de Simulam-
redondos – 50/100/150/200/…) feitos e edição e venda de instrumentos musicais buco, rubricado a 01FEV1885 – colocando
ou descobertas cienơ fi cos/industriais/geo- transitaram para a sua mãe e para o irmão os povos locais (da atual Cabinda) sob pro-
gráfi cos/literários/arơ sƟ cos em prol de um Júlio, em sociedade com Ricardo António teção da Coroa portuguesa. Saliente-se
“alargar de horizontes” da Humanidade. Filgueiras. Mais tarde, o Salão Neuparth ainda as missões de Neuparth às ilhas de
É um ano também emblemáƟ co na lem- viria a dar origem à editora ValenƟ m de Djeta, na Guiné, para libertar dois franceses,
brança de personalidades que Ɵ veram um Carvalho. Augusto Eduardo Neuparth e ao Rio Nuno para resgatar um português
papel importante no desenvolvimento da encarcerado pelo régulo Yurá.
Ciência. A ơ tulo de exemplo dessas come- Neuparth foi promovido ao posto de CFR a
morações citam-se: o V Centenário da 27NOV08. Dois anos mais tarde vai exercer
parƟ da da Primeira Viagem de Circum-na- funções como capitão do porto de Mormu-
vegação; o Centenário das Observações do gão (1910-1913).
Eclipse Total do Sol (que validaram experi-
mentalmente, pela primeira vez, a Teo- PERCURSO ENQUANTO
ria da RelaƟ vidade Geral de Einstein);
o Centenário da União Astronómica HIDRÓGRAFO EM ÁFRICA
Internacional; e os Cinquenta anos da Augusto Eduardo Neuparth espe-
primeira Viagem do Homem à Lua. cializou-se em Hidrografi a. Até ao
No que se refere a personalidades, fi nal da sua longa carreira militar,
regista-se o V Centenário da morte esta será a área de estudos e de
de Leonardo Da Vinci e, na Marinha trabalhos em que estabelece e
Portuguesa, evocam-se os 160 anos aprofunda contactos internacionais
do nascimento do VALM Augusto e parƟ cipa em projetos cienơ fi cos.
Eduardo Neuparth, os 150 anos do Tendo obƟ do o respeƟ vo diploma
nascimento e os 60 anos da morte do de engenheiro hidrógrafo, efetua
ALM Gago CouƟ nho. Este úlƟ mo ofi cial de seguida numerosas viagens por
de Marinha veio a fi car célebre pela sua Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambi-
parƟ cipação na primeira travessia aérea do que. Ressalte-se as comissões de serviço
AtlânƟ co Sul, muito embora o seu legado nas colónias: na Estação Naval de Angola
abranja um conjunto de ações relevantes Foto Arquivo Histórico da Marinha (1885), onde será promovido ao posto de
em diferentes campos cienơ fi cos, com des- 2TEN, a 30DEZ; em Cabo Verde (1888); e
taque para a Geografi a, a MatemáƟ ca e a em Moçambique e no Índico (1896), já pro-
Cartografi a. nunca viria, aparentemente, a interessar- movido a 1TEN (21NOV1889).
Augusto Eduardo Neuparth, fi gura esque- -se por música, ou pelo negócio familiar da Regressado da Estação do AtlânƟ co Sul,
cida da história cienơ fi ca portuguesa, inse- venda de instrumentos e edições musicais. a 24FEV1896, Neuparth apresentou-se
re-se no rol de ofi ciais de Marinha que Após ter estudado nas Escolas Politécnica no transporte Índia, tendo fi cado adido
esƟ veram ao serviço da modernização do e do Exército, assenta praça na Marinha ao Almirantado . Já no posto de CTEN
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país, no plano cienơ fi co e técnico, e que com vinte anos, em 1879, no posto de (promoção de 28JUL1898), foi iniciado na
edifi caram as estruturas que irão perdurar aspirante. Conclui o curso da Escola Naval Maçonaria – Loja Cruzeiro do Sul, nº 211,
na úlƟ ma fase do Império português (entre dois anos mais tarde, sendo promovido a Lourenço Marques – a 02FEV1900, mas
fi nais do século XIX e a segunda metade do GMAR a 07NOV1881. Como elemento de desligou-se dessa sociedade secreta ainda
século XX). guarnição embarcou em diversos navios – nesse ano, a 08DEZ.
nas canhoneiras Tavira, Tejo, Rio Lima e Rio De entre os numerosos trabalhos hidro-
CARREIRA MILITAR Sado, no vapor Guiné, nas corvetas Barto- gráfi cos, geodésicos e topográfi cos que
lomeu Dias, Duque da Terceira e Rainha de Neuparth efetuou – evidência da aƟ vidade
É neto do músico Eduardo Neuparth, um Portugal, nos transportes Índia e África, na técnica e cienơ fi ca desenvolvida em Angola
alemão de origem judaica que entrou na fragata D. Fernando II e Glória e no coura- e Moçambique, entre fi nais do século XIX e
Península Ibérica integrado nos exércitos çado Vasco da Gama. o início do século XX –, merecem relevo o
de Napoleão, e que se fi xa em Portugal em Quando o jovem ofi cial Neuparth se reconhecimento hidrográfi co de Cabinda, a
1814. Augusto Eduardo Neuparth, fi lho de encontrava embarcado na corveta Rainha triangulação da costa sul do rio Maputo, o
Augusto Neuparth e Virgínia Júlia de Oli- de Portugal, então comandada pelo CTEN traçado de um paralelo para a delimitação
veira Basto, ambos dados à música, nasceu Guilherme Brito Capelo, integrou como da fronteira sul de Lourenço Marques, o
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