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REVISTA DA ARMADA | 545




















               Durante a missão, que decorreu até 30 de setembro, esƟ ve-  mar da Terra Nova e na Gronelândia. Foi, até ao início dos anos
              ram embarcados cinquenta elementos, nos quais se incluem um   70, porto de abrigo para milhares de pescadores portugueses, e
              médico naval, dois mergulhadores, um elemento coordenador   paragem obrigatória para o reabastecimento de isco fresco, man-
              da Agência Europeia de Controlo das Pescas (EFCA), dois inspeto-  Ɵ mentos, água e combusơ vel.
              res da DGRM e um inspetor da Estónia.                 Ainda hoje a visita a St. John’s se reveste de signifi cado especial,
               A missão NAFO 2019 encontra-se integrada no Plano de Ação   pela carga emocional e pela relevância histórica da ligação desta
              Conjunta (JDP – Joint Deployment Plan), sob coordenação da   terra longínqua a Portugal. A guarnição parƟ cipou nas singelas,
              EFCA e em colaboração com a DGRM. Os NPO garantem assim   mas repletas de signifi cado, homenagens ao pescador português
              o necessário apoio e suporte aos inspetores da EFCA em águas   Dionísio Esteves (tripulante do lugre bacalhoeiro Santa Maria
              internacionais, permiƟ ndo que estes conduzam ações de fi scali-  Manuela, um dos muitos navios que pertenceu à “frota branca”)
              zação e monitorização nos 2.700.000 Km  da NAFO.    falecido em 1966 no mar da Terra Nova. Primeiro na Basílica de
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               Para a plena consecução dos objeƟ vos defi nidos, há que pla-  St. John´s the BapƟ st – com a leitura de um sermão em honra
              near a realização das ações de fi scalização baseando-se em diver-  dos pescadores portugueses junto à imagem de Nossa Senhora
              sos Ɵ pos e fontes de informação. Há que ter em conta os fatores   de FáƟ ma, ofertada pelos portugueses àquela basílica, e de um
              meteo-oceanográfi cos (apoio prestado pelo COMAR e IH) versus   tributo ao pescador Dionísio Esteves, com acompanhamento
              posição geográfi ca dos contactos de interesse (informação deri-  musical executado por militares de bordo.
              vada da capacidade satélite); e uma constante troca de informa-  Seguiu-se a cerimónia de deposição de uma coroa de fl ores no
              ção entre a equipa de inspetores e o comando do navio, para a   monumento erigido no cemitério de Mount Carmel em honra de
              condução da navegação e a execução das ações de fi scalização.    Dionísio Esteves e demais  pescadores que pereceram nas águas
               Após um início um pouco atribulado – uma avaria obrigou a   dos Grandes Bancos.
              uma inopinada mas breve escala em Ponta Delgada, Açores, para   A escala teve também um propósito logísƟ co – a sustentação da
              obviar à respeƟ va reparação – o NPO Viana do Castelo entrou   missão, com o reabastecimento de água, combusơ vel e géneros
              fi nalmente na área NAFO “3M” a 10 de setembro.      alimentares. Como já vem sendo hábito aquando das visitas de
               A atuação no mar da Terra Nova revela ser um desafi o constante   navios da Marinha Portuguesa a este porto, realizou-se a bordo
              ao nível do pessoal e material, devido às condições meteorológi-  uma receção que contou com a presença de enƟ dades militares
              cas parƟ culares da região. Nesta altura do ano, este local é ponto   e civis locais (a comunidade local canadiana ainda hoje mantém
              de passagem assídua de depressões e tempestades tropicais com   fortes raízes com Portugal) que puderam deliciar-se com um
              origem mais a Sul (no Golfo da Guiné ou ao largo de Cabo Verde),   conjunto de pratos e sobremesas Ɵ picamente portuguesas. Um
              associadas a episódios de ventos intensos e mar alteroso. Há   momento para o estreitar de laços entre as comunidades dos
              assim que monitorizar conƟ nuamente a evolução das condições   dois países.
              meteorológicas e planear a navegação em conformidade.
               Como consequência do caminho tomado pelos furacões DORIAN   CONCLUSÃO
              e HUMBERTO e pelas tempestades GABRIELLE, JERRY e KAREN, o
              agravamento das condições meteo-oceanográfi cas condicionou a   Em trinta dias de missão, o NRP Viana do Castelo navegou mais
              atuação do navio e a consequente realização de ações de vistoria   de 500 horas e percorreu mais de 5800 milhas náuƟ cas, realizou
              a bordo das embarcações de pesca. Só a 12 de setembro, véspera   uma intensa patrulha e vigilância na área contribuindo para a
              da chegada a St. John’s (Canadá), foi possível realizar a primeira das   proteção do ecossistema marinho e, consequentemente, para a
              três fi scalizações realizadas durante a permanência na área NAFO.  salvaguarda de um desenvolvimento económico sustentável. Os
               Associada às condições de mar adversas, a dispersão geográ-  dividendos são óbvios: a redução do impacto ambiental negaƟ vo
              fi ca dos contactos de interesse reportados pelo inspetor coorde-  que a pesca abusiva poderia acarretar numa região – os Grandes
              nador condicionou, em larga medida, a aproximação, deteção e   Bancos da Terra Nova – que hoje se consƟ tui como importante
              abordagem dos alvos, limitando o número total de fi scalizações.  fonte de alimento mundial.
                                                                    À chegada à BNL, cada elemento da guarnição estava cons-
              ESCALA LOGÍSTICA: ST. JOHN´S                        ciente não só do dever/missão cumprido – a patrulha e fi scali-
                                                                  zação nos Grandes Bancos da Terra Nova – mas também que o
               Na manhã do dia 13 de setembro, o navio atracou no porto de   “seu” navio dera um importante contributo para manter viva a
              St. John’s. Tal como tem vindo a acontecer em anos anteriores, à   memória dos pescadores da “Portuguese White Fleet”– parte sig-
              nossa espera encontrava-se o Vice-cônsul Honorário de Espanha,   nifi caƟ va da nossa história – e reforçar os laços existentes entre
              Sr. Jean Pierre Andrieux, que mostrou ser um anfi trião incansável.  Newfoundland and Labrador e Portugal.
               A história do porto de St. John’s é indissociável da história das
              campanhas da frota portuguesa de pesca à linha do bacalhau no    Colaboração do COMANDO DO NRP VIANA DO CASTELO


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