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REVISTA DA ARMADA | 546
Chegada do NC-4 a Ponta Delgada em 20 de maio de 1919. Rotas das primeiras travessias aéreas transatlânƟ cas de 1919.
UMA ESTRATÉGIA que o país atravessava uma profunda crise Ɵ cos e a recomendar que seja uƟ lizada a
políƟ ca e económica. No entanto, há um área entre a Doca do Bom Sucesso e a Doca
Em 1918 as aeronaves Ɵ nham capacidades Português que está a acompanhar muito de Belém para este efeito. Estas propostas
impensáveis em 1914; Ɵ nha nascido uma de perto estas novas tendências da aero- não vão ter retorno, mas a evolução do
nova indústria altamente lucraƟ va que pro- náuƟ ca: Sacadura Cabral. Este aviador da paradigma da aviação, a nível internacional,
duzira milhares de aeronaves, assim como Marinha esteve praƟ camente todo o ano vai proporcionar a Sacadura Cabral a opor-
estavam disponíveis milhares de jovens de 1918 em Paris como adido aeronáuƟ co tunidade ideal para obter aprovação do seu
aviadores, consagrados como heróis popu- e, quando regressou a Lisboa no fi nal de projeto de travessia atlânƟ ca.
lares pela imprensa e propaganda. Com o novembro, vinha já niƟ damente infl uen- Imediatamente após o Armisơ cio, o jor-
confl ito ainda a decorrer já as nações mais ciado pelo novo conceito de uƟ lização da nal Daily Mail relança o seu desafi o de
evoluídas, em parƟ cular a Grã-Bretanha, aviação militar no desenvolvimento da avia- travessia atlânƟ ca e dez casas inglesas ins-
congeminavam estratégias de rentabiliza- ção comercial. crevem as suas aeronaves, devidamente
ção deste potencial no pós-guerra. Come- Sacadura Cabral sugere ao Ministro da modifi cadas, para serem voadas por pilotos
çam-se a defi nir estratégias para a explo- Marinha que seja incluída, nas clausulas do veteranos da guerra. O Air Ministry britâ-
ração comercial das aeronaves que, com Armisơ cio, a entrega a Portugal de hidroa- nico começa também a desenvolver uma
ligeiras diferenças entre si, genericamente viões alemães de longo alcance, para serem aeronave para testar a rota aérea atlânƟ ca
passavam por uƟ lizar as aeronaves milita- uƟ lizados como correio aéreo para os Aço- com escala nos Açores. A US Navy, que só
res excedentes da guerra para iniciar liga- res e Madeira; alicia a casa Farman a dis- nos úlƟ mos dias da guerra Ɵ nha come-
ções de correio aéreo e testar novas rotas ponibilizar-lhe um dos seus novos modelos çado a receber os hidroaviões de patrulha
aéreas de longa distância que seriam futu- para efetuar o primeiro voo aos Açores ou maríƟ ma NC com capacidade para serem
ramente exploradas pela aviação comercial. à Madeira; escreve ao Diretor da Explora- projetados para a Europa por via aérea,
Nesta fase Portugal não vai defi nir uma ção do Porto de Lisboa a informá-lo sobre lança-se também no desafi o. Esta “corrida”
estratégia aeronáuƟ ca, pois a aviação no a perspeƟ va de Lisboa poder ser em breve pelo presơ gio de ser o primeiro a sobrevoar
país é ainda pouco expressiva, para além de um aeroporto terminal dos voos transatlân- o AtlânƟ co entusiasma a opinião pública e
torna-se um tema recorrente nos jornais,
Sacadura Cabral com tripulantes americanos dos NC, inclusivamente os nacionais.
no Centro de Aviação MaríƟ ma de Lisboa. Vai ser o projeto do Air Ministry que, de
certa forma, vai obrigar Portugal a defi nir
uma estratégia aeronáuƟ ca. Este processo
vai começar nos fi nais de 1918, quando os
britânicos contactam o governo português
com o objeƟ vo de obterem concessões para
a instalação de aeroportos e infraestruturas
aeronáuƟ cas nos Açores, para apoio à sua
navegação aérea transatlânƟ ca. Embora a
orientação inicial do governo Ɵ vesse sido
aceitar o pedido britânico, por infl uência do
general Simas Machado (Alto Comissário da
República nos Açores) e de Sacadura Cabral
(Diretor dos Serviços de AeronáuƟ ca Naval),
vai-se optar por ser Portugal a construir
18 DEZEMBRO 2019