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REVISTA DA ARMADA | 546


              SAÚDE PARA TODOS                                                                                  70



              QUEILITE ACTÍNICA



              A queilite actínica é uma lesão crónica do vermelhão dos lábios que se deve a uma exposição prolongada ao sol ao longo da vida.
              É uma lesão comum que pode passar despercebida, contudo, pelo seu potencial de evolução para um tumor maligno, deverá ser
              despistada regularmente e tratada atempadamente.


              O QUE É A QUEILITE ACTÍNICA?
               A palavra queilite resulta da agluƟ nação da palavra grega “kheílos”,
              que signifi ca lábio, e o sufi xo “ite”, que em medicina signifi ca doença
              infl amatória. Como esta lesão dos lábios é induzida pela exposição
              crónica excessiva à radiação solar, nomeadamente à radiação ultra-
              violeta, chama-se “acơ nica” (na İ sica, raios acơ nicos são a parte da
              radiação solar rica em raios ultravioleta).
               A queilite acơ nica é, portanto, uma doença benigna dos lábios
              que afeta principalmente homens com idade superior a 40-50 anos,
              com pele clara e que têm exposição crónica à luz solar. Tem índole
              fortemente ocupacional: aƟ nge maioritariamente marinheiros,
              pescadores, agricultores, desporƟ stas  profi ssionais  outdoor como
              esquiadores, windsurfi stas, maratonistas, bem como todos os outros
              trabalhadores que são submeƟ dos a exposição prolongada ao sol.   esta depois enviada para estudo histológico. Histologicamente a
              Apesar de ser uma doença benigna esta lesão é pre-maligna, ou seja,   queilite acơ nica manifesta-se por lesões epiteliais irreversíveis (hiper-
              tem potencial para se tornar um tumor maligno (cancro).  plasia ou atrofi a, com ou sem displasia), hiperqueratose e degenera-
                                                                  ção hialina do tecido conjunƟ vo subepitelial (elastose solar).
              COMO SURGE A QUEILITE ACTÍNICA?
               Os raios ultravioleta presentes na luz solar, parƟ cularmente os raios   TRATAMENTO
              UVB, ao aƟ ngirem a pele dos lábios, podem danifi car a informação   O tratamento para a queilite acơ nica baseia-se na remoção do epi-
              genéƟ ca presente nessas células. Ao longo dos anos, a acumulação   télio lesado do lábio, com o intuito de aliviar os sintomas ao doente,
              de pequenas alterações nos genes (mutações) leva a que as células   mas também para prevenir a malignização da lesão. As opções tera-
              não se consigam reproduzir apropriadamente e se formem células   pêuƟ cas vão depender do grau de evolução da queilite acơ nica, das
              anormais. É aqui que surge a queilite acơ nica. Se não forem removi-  condições İ sicas do doente, da experiência do médico com os vários
              das, estas células anormais podem proliferar e, não havendo meca-  métodos e da própria escolha do doente.
              nismos de controlo, podem crescer de forma descontrolada. É nesta   As alternaƟ vas cirúrgicas são as que menos taxa de recorrência
              fase que surgem os tumores malignos.                apresentam e são elas a crioterapia, eletrocirurgia, terapia fotodinâ-
               Além do sol, existem fatores de risco adicionais para desenvolver   mica, ablação por laser e a vermelhectomia (remoção através de bis-
              queilite acơ nica: tabagismo, alcoolismo, má higiene oral, infeção pelo   turi do vermelhão do lábio, sendo este reconstruído logo de seguida
              vírus do papiloma humano, irritação local crónica (ex: morder lábio) e   através de um retalho de deslizamento da mucosa labial). Esta úlƟ ma
              eversão do lábio inferior (como caracterísƟ ca racial ou traço herdado).   é considerada o melhor tratamento pois é o único método que per-
                                                                  mite enviar toda a peça operatória para estudo histológico, o que é
              MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS                              importante dado fi carmos a conhecer o grau da lesão, os limites pre-
               Devido à sua localização, mais propícia à exposição solar, o lábio   cisos da lesão e determinar se já existe doença invasiva.
              inferior é o mais afetado nesta doença. Nas fases iniciais da doença   Dentro das opções terapêuƟ cas não cirúrgicas destacam-se a
              pode exisƟ r uma vermelhidão e edema (inchaço) do lábio inferior,   aplicação de agentes tópicos como o 5-fl uorouracilo, diclofenac e
              sem afetar as comissuras labiais (“cantos da boca”). Posteriormente   imiquimod.
              todo o lábio inferior, ou parte dele, torna-se seco e descamaƟ vo. Por   Qualquer que seja o método terapêuƟ co escolhido é importante
              vezes surgem fi ssuras, ulceras ou nódulos. A cor vermelha começa   ter em consideração que a queilite acơ nica é uma lesão mulƟ cên-
              a ser subsƟ tuída por esbranquiçado ou acinzentado e torna-se diİ -  trica (não está exclusivamente numa parte do lábio, existe em vários
              cil disƟ nguir a pele do vermelhão do lábio, ou mesmo da mucosa   locais... mesmo que não sejam visíveis clinicamente!), que carece de
              intraoral. É muito importante haver um diagnósƟ co logo nesta fase   um seguimento rigoroso para o resto da vida, bem como de medi-
              e fazer um tratamento adequado, bem como manter uma vigilância   das diárias para prevenir a evolução para cancro do lábio: aplicar
              periódica pois sabe-se que esta doença pode evoluir para um tumor   bloqueador solar labial (habitualmente no formato de baton), usar
              maligno do lábio (em cerca 17% dos casos), nomeadamente um car-  boné/chapéu e evitar exposição direta ao sol em horários críƟ cos.
              cinoma pavimentocelular.
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              DIAGNÓSTICO                                                                                     1TEN MN
               O diagnósƟ co através da observação clínica é relaƟ vamente carac-        www.facebook.com/participanosaudeparatodos
              terísƟ co, contudo, para haver um diagnósƟ co defi niƟ vo, é obrigatório     Fonte da imagem:
              proceder-se a uma biópsia incisional que habitualmente é realizada   Cremonesi AL, Quispe RA, Garcia AS, Santos PSS. Queilite acơ nica: um estudo retrospecƟ vo
              sob anestesia local, removendo uma amostra da lesão do lábio, sendo   das caracterísƟ cas clinicas e histopatológicas. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São
                                                                  Paulo. 2017;62(1):7-11.

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